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Fechamento comercial é penoso para o Brasil – FecomercioSP


Otaviano Canuto adverte que “esteroides” de proteção — buscando a sobrevivência da produção doméstica — não resultam em um domínio tecnológico da produção (Arte: TUTU)

Ainda que a economia brasileira se posicione entre as dez maiores do mundo, o País não tem sido capaz de projetar essa relevância no fluxo do comércio global. Hoje, o Brasil está entre os 30 maiores exportadores e importadores, mas com uma fatia de participação no mercado de 1,4% de tudo o que é negociado mundialmente em produtos. A fração é minúscula diante do montante de US$ 23,8 trilhões comercializados em 2023 no mundo, conforme os dados mais recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC). Isso ocorre pelo baixo grau de abertura comercial do País e pelos efeitos do custo-país, carregado de entraves tributários, trabalhistas e logísticos.  

Presença do Brasil no comércio mundial de mercadorias e serviços

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Dados: OMC 2024

Produção: FecomercioSP

“A economia brasileira é fechada comercialmente. Ainda somos uma nação onde os atos de importar e exportar são carregados de custos e intermediações, em meio a um ambiente de negócios ruim. Somos um ponto fora da curva a níveis de proteção tarifária para produtos industriais. Em 2020, apenas nove países tinham tarifas médias de importação maiores do que as nossas. Essa proteção se faz acompanhar por um uso de barreiras não tarifárias e de regras de conteúdo local intenso. Ao mesmo tempo, o número e a profundidade de acordos de comércio dos quais o Brasil é signatário são muito restritos”, destacou Otaviano Canuto, diretor do Centro de Macroeconomia e Desenvolvimento e ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, durante a reunião plenária das diretorias da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), no dia 27 de maio. Confira os destaques de sua análise a seguir. 

Integração em segundo plano 

Na ocasião, Canuto sinalizou que o País tem um grau de densidade nas cadeias de produção industrial doméstica acima do que que se poderia esperar a partir do nível de renda e do desenvolvimento nacional. Contudo, ao abdicar de insumos e de tecnologias mais avançadas e disponíveis no exterior, essas cadeias locais acabam operando com níveis de produtividade bem mais baixos e de qualidade inferior — caso o Brasil estivesse mais conectado às cadeias internacionais.  

“Parte importante das indústrias e serviços que o País dispõe serve apenas ao mercado interno, com menos de 2% do mercado mundial. Com cadeias produtivas mais enxutas e integradas com o mundo, haveria, como contrapartida, mais capacidade de exportar e prover domesticamente produtos melhores e mais baratos. Essa expansão compensaria uma menor densidade produtiva doméstica”, ressaltou. 

Ineficiência resistente 

O economista ainda reforçou que o fechamento comercial do Brasil contribui para uma intensidade baixa da concorrência em muitos mercados domésticos, incentivando a ineficiência.   

“No Brasil, a sobrevivência de processos produtivos em empresas menos eficientes é proporcionalmente maior do que em todas as economias comparáveis. Isso acaba prejudicando a produtividade média”, disse. Além disso, o País estabelece políticas de apoio para compensar a desvantagem competitiva, tentando compensar também os “efeitos danosos” da proteção comercial. “Há alguns anos, esses gastos giravam em torno de 4,5% do PIB, equivalente ao que era gasto ao longo de meses com o Bolsa Família”, afirmou. 

Canuto lembrou que, há décadas, o Brasil tem promovido um investimento insuficiente em infraestrutura. “O Banco Mundial estima que o País precisa investir algo entre 3% e 3,5% do PIB por ano para manter a infraestrutura. A média dos últimos 30 anos chega a 2,7%, apesar da proporção do gasto público no PIB só ter crescido ao longo do tempo. E é claro que isso traz consequências e efeitos sobre a produtividade e o desperdício de recursos.” 

‘Esteroides’ de protecionismo 

Segundo o economista, o País precisa ter em mente que os “esteroides” de proteção — buscando a sobrevivência da produção doméstica — não resultam em um domínio tecnológico da produção, mas impõem um ônus a todos. “O fechamento comercial é doloroso para o Brasil. A abertura deveria ser uma prioridade. Eu não conheço sequer um caso de nação em busca de se desenvolver que tenha conseguido isso sem um alto grau de integração e de fluidez no comércio com o restante do mundo. A resistência ideológica e o receio com os custos a curto prazo são suficientes para impedir que se dê espaço aos ganhos ao longo do tempo. Esse modelo se esgotou.” 

Abertura comercial é o caminho 

Conforme Canuto salientou, há diversas frentes que poderiam reduzir os custos produtivos às atividades em que o País pode gerar mais valor: 

  • barateamento da cesta de bens; 
  • estruturação tarifária simplificada; 
  • redução da quantidade de taxas, dos custos de importação de bens intermediários e de bens de capital;  
  • revisão dos requisitos de conteúdo local; 
  • ampliação de acordos bilaterais. 

“Os ganhos totais da abertura não ocorreriam de forma uniforme, de modo que seria necessário buscar políticas de facilitação da mobilidade do trabalho, de retreinamento, de geração de novos empregos etc. Vale lembrar que é sempre mais fácil compensar as perdas e repartir os ganhos quando estes são maiores”, complementou.  

Desenvolvimento tecnológico 

Por fim, Canuto explicou a estratégia bem-sucedida da Coreia do Sul para desenvolver a Indústria tecnologicamente. “No período em que manteve subsídios às empresas por meio de bancos públicos, havia uma estrutura de incentivo em que os beneficiários se comprometiam a atingir certas metas de exportação, de ocupação do mercado internacional e de redução do preço doméstico. As companhias sabiam que, se não investissem em aprendizado e capacitação tecnológica para obter tais resultados, não seriam beneficiárias em rodadas adicionais de incentivo.” As empresas de lá que conseguiram se desenvolver, hoje, estão presentes no mundo, como Hyundai e Samsung. 

De acordo com o presidente-executivo da FecomercioSP, Ivo Dall’Acqua Júnior, no Brasil, há um pensamento equivocado e disseminado de que a abertura comercial acabaria com a Indústria nacional e eliminaria milhares de empregos. “Isso não é verdade. É preciso ter em mente que é impossível um país ser bom em tudo o que produz ou querer produzir tudo o que consome sem comprar de outros países. Algumas nações são mais produtivas que outras em determinados setores. Estimular as trocas entre os países, aproveitando as possíveis vantagens comparativas de cada uma delas, propicia ganhos de eficiência, produtividade e competitividade — com efeitos positivos sobre toda a economia”, concluiu. 

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Fonte Oficial: FecomercioSP

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