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há espaço para o Brasil? – FecomercioSP


Canal UM BRASIL marca a própria trajetória de 10 anos com análises apuradas, sob óticas distintas que convergem reflexões consistentes acerca da história nacional.
(Fotos: UM BRASIL / Samuel Kobayashi)

O mundo está encerrando o atual ciclo de hiperglobalização. Essa é uma das tendências apontadas pelo economista e filósofo Eduardo Giannetti. Além disso, o doutor em Economia pela Universidade de Cambridge destaca outros dois movimentos globais, cujo atual ciclo de fechamento afeta direta ou indiretamente o Brasil: a era de juros e inflação baixos e o milagre chinês.

Segundo o economista, que palestrou no evento de comemoração dos dez anos do Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, desde meados dos anos 1980, vive-se um processo de globalização. Em algumas décadas, centenas de milhões de trabalhadores asiáticos foram integrados ao mercado global, gerando implicações econômicas e políticas. Setores industriais inteiros deslocaram as linhas de produção para onde o trabalho seja mais barato e a produtividade, maior. “No entanto, o que se revelou com a pandemia, as guerras e o aumento da tensão geopolítica é que essa hiperglobalização tem um calcanhar de Aquiles: restringe o número de fornecedores e aumenta a vulnerabilidade dos negócios a poucos fornecedores”, ressaltou Giannetti. 

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De acordo com os dados da consultoria McKinsey, para 180 produtos vitais da economia mundial, existem menos de três fornecedores no mundo. “Ao analisarmos ingredientes farmacêuticos ativos, observaremos que 80% da produção estão concentrados em dois países: China e Índia”, exemplificou. Toda essa vulnerabilidade está sendo revista por empresas e governos, com um movimento de reorientação dos grandes investimentos em busca de mais segurança e diversificação. “Essa concentração de investimentos em áreas econômicas que oferecem menor custo de produção acabou, e esta pode ser uma excelente notícia para o Brasil, que esteve fora desse processo de hiperglobalização, com exceção do agronegócio. Podemos ter uma participação bem maior se soubermos aproveitar o novo momento de reorientação de novos investimentos e presença nas cadeias internacionais de produção”, afirmou.     

O segundo grande ciclo que termina é a anomalia, em termos de macroeconomia internacional, de juros e inflação extremamente baixos. Os números mais recentes da inflação norte-americana apontam que a expectativa de que os juros poderiam começar a cair de forma mais intensa, neste ano, não vai se concretizar. Apenas 20% dos analistas acham que os juros vão recuar a partir de junho. “Devemos voltar para o juro real em territórios positivos, o que não é boa notícia para nenhum mercado emergente, inclusive o Brasil, que está em um ciclo de redução de juros”, comentou. Esse desequilíbrio, avalia Giannetti, também tem relação com a hiperglobalização, que reduziu os custos de produção e barateou os produtos no comércio internacional. 

O milagre chinês, frente ao crescimento de dois dígitos, é, segundo o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), o terceiro ciclo perto do fim. “Hoje, fala-se em alta de 5% — e mesmo esse patamar suscita dúvidas. A população que estava nas áreas rurais já foi incorporada, e o crescimento passa a acontecer mais por meios de ganhos de produtividade, que não são tão fáceis”, explicou. O declínio da China abre possibilidade para outros países, como o nosso. “O fim da era de juros e inflação baixas não é uma boa notícia, mas não é um desastre; já o declínio da China libera para outros países emergentes possibilidades de atração de capitais”, concluiu.  

Desigualdade limitante 
Ao avaliar como os problemas estruturais do País comprometem as capacidades de criação, inovação e geração de riqueza, Giannetti observa que é uma ilusão pensar que a desigualdade será resolvida com políticas de distribuição e transferência de renda, capazes somente de atenuar situações emergenciais. O futuro do Brasil, opinou Giannetti, não será decidido em uma reunião do Copom [o Comitê de Política Monetária do Banco Central, que decide a taxa básica de juros], nas profundezas do pré-sal, na Bolsa de Valores ou em gabinetes de ministérios, mas nas milhares de salas de aula espalhadas pelo território nacional. “Os talentos econômicos, culturais, artísticos e tecnológicos, por uma falta de condição elementar na partida, se veem privados do seu potencial e da sua realização plena.”  
Mais produtividade  

Diante do envelhecimento da população, outro desafio será o de aumentar a produtividade. O Brasil está vivendo o fim do bônus demográfico, com mudanças na sua estrutura etária. De 12% da população acima de 60 anos, em 2015, o País terá 30%, em 2050. “A pirâmide etária virou um barril, e em 2050 vai virar um cogumelo. Se não melhorarmos a produtividade do trabalho dos brasileiros, como vamos sustentar o topo desse cogumelo?”, questionou. 

Na opinião do economista, é a produtividade — e não a Reforma da Previdência — que precisa estar em pauta. A solução seria aumentar o resultado econômico gerado pelo trabalho de cada brasileiro, o que precisaria ser feito investindo em três frentes: por meio do capital físico, do capital humano e das instituições, investindo nos incentivos adequados e direcionando os fatores produtivos do País para onde sejam mais relevantes. Citando o estudo do economista Edmar Bacha, Giannetti avaliou que o Brasil, que saiu do patamar da renda baixa, vive, atualmente, a armadilha da renda média, sem conseguir se aproximar dos países de renda alta. “Nos últimos 70 anos, apenas 12 países conseguiram vencer essa batalha, e todos fizeram isso aumentando a exportabilidade do PIB [Produto Interno Bruto]”. São três os caminhos: vender manufaturados, vender serviços ou aumentar as vendas externas de commodities. “O Brasil tem potencial para aumentar a exportabilidade do PIB nas três áreas.”  

Mundo turbulento 

Se, dentro das nossas fronteiras, os gargalos são de produtividade e educação, fora destas um novo componente veio para ficar na relação entre as principais potências globais: a instabilidade. Vivemos em um mundo mais turbulento e inquieto do ponto de vista geopolítico do que há 20 ou 30 anos, avalia o jornalista Jaime Spitzcovsky, que também palestrou no debate comemorativo do Canal UM BRASIL. Especialista em questões internacionais e entrevistador do Canal, ele, que integra o Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (USP), fez coberturas jornalísticas como as desintegrações da Iugoslávia e da União Soviética (URSS), a morte de Deng Xiaoping e a devolução de Hong Kong à China. 
Segundo Spitzcovsky, na Guerra Fria, sobretudo a partir da Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962 (confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética relacionado com a implantação de mísseis balísticos soviéticos em Cuba), havia um certo grau de previsibilidade. Já no mundo multipolar de hoje, existe um processo de reacomodação de forças políticas, econômicas e militares, com dois movimentos antagônicos. De um lado, os Estados Unidos e a Europa tentando frear a perda dos próprios poderes relativos; de outro, a China e a Índia, dois grandes polos de poder em ascensão e que buscam ampliar a participação global. “O choque entre esses dois movimentos produz turbulência, e vivermos um mundo mais imprevisível, com um número maior de conflitos.”  

Em paralelo, outros países sem os mesmos pesos político, econômico e militar tentam se posicionar, como Rússia, Japão, Indonésia, Arábia Saudita e o próprio Brasil. Diante desse cenário turbulento, o jornalista enxerga com preocupação o choque de nacionalismos extremados e o avanço de projetos e agendas populistas, sejam de esquerda, sejam de direita. “Ao mesmo tempo, existem agendas comuns importantes que precisam ser exploradas, como as emergências climáticas, a segurança alimentar, a ameaça ao terrorismo e o tema nuclear, que demandam a construção de diálogos entre essas potências emergentes.” Ao discorrer sobre a posição do Brasil nesse novo contexto, Spitzcovsky avalia que é importante não haver um alinhamento automático com nenhum polo de poder. “Que o País determine a sua agenda nacional e mantenha uma equidistância entre esses polos, guiado por seus interesses nacionais.” 

Educação política e democracia

A educação política e a importância do fortalecimento da democracia, assuntos sempre abordados pelo UM BRASIL na última década, foram analisados pelo cientista político Humberto Dantas, também entrevistador do Canal. “Não existe a ideia de democracia se não existir a ideia da educação política para a democracia”, destacou Dantas, que também ressaltou a necessidade de as empresas se envolverem no amadurecimento e no fortalecimento da democracia nas práticas cotidianas. 

Dantas avalia que o Brasil passou um século e meio quantificando, e não qualificando, a democracia. “A expansão do sufrágio não foi acompanhada por uma qualificação das pessoas que ganharam o direito de escolher representantes nos processos eleitorais. O quanto somos capazes de educar a população para o exercício da democracia em uma nação democrática?”, questionou o mestre e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). 

Desafios da cibersegurança

Agenda imprescindível para o processo de transformação digital, a segurança cibernética foi fruto de reflexão da fundadora e CEO do Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC), Luana Tavares. Ela lembrou que os prejuízos causados por ataques digitais a organizações chegarão a US$ 10,5 trilhões por ano, até 2025, em escala global. “É uma indústria altamente rentável e em processo quase incontrolável de crescimento.” Da população global de 8 bilhões de pessoas, 5 bilhões estão conectadas à internet. No Brasil, segundo país mais atacado do mundo, 464 milhões de pessoas possuem dispositivos eletrônicos. 

De acordo com Luana, a legislação brasileira ainda é frágil e reativa. Países como Estados Unidos, Reino Unido, Chile, Espanha e Portugal criaram estratégias nacionais e multissetoriais para combater esses crimes, o que começa a acontecer no Brasil, mediante a instituição, em dezembro de 2023, da Política Nacional de Cibersegurança (PNCiber), proposta pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). 

Para mais informações sobre a trajetória e os conteúdos publicados, acesse o Canal UM BRASIL e clique aqui para fazer o download gratuito do livro especial dos 10 anos

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Fonte Oficial: FecomercioSP

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