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Como o Fellowship fortalece jovens lideranças e aproxima governo aberto da agenda climática — Controladoria-Geral da União

A diretora do Departamento de Gestão Pública Eficaz da OEA, Maria Fernanda Trigo, conversou com o Boletim de Governo Aberto sobre o Fellowship OEA 2025.

Boletim de Governo Aberto – O Fellowship OEA sobre Governo Aberto e Dados Abertos é reconhecido como uma iniciativa pioneira de cooperação internacional. Como você avalia o papel desse tipo de programa para fortalecer a governança democrática nos países do Sul Global?

Maria Fernanda Trigo – Em primeiro lugar, o Fellowship OEA tem como base a promoção dos princípios de Governo Aberto: transparência; colaboração e participação cidadã. E creio que esses princípios são essenciais para fortalecer a governança democrática em todos os sentidos e, ademais, são princípios que se aplicam a qualquer setor, a qualquer instituição pública, democrática, de qualquer setor do Governo e de qualquer nível. De governos locais, federais, nacionais.

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Então, esse sempre foi o principal objetivo dessa iniciativa, promover os valores do governo aberto. E, ao promover os valores do governo aberto e ao já implementar a iniciativa em todos esses anos, também percebemos que a iniciativa ajuda muito a fortalecer o diálogo entre os diferentes participantes.

Esse fortalecimento do diálogo entre participantes que, no início, vinham de diferentes países, mas também de diferentes setores da sociedade, com perspectivas diferentes, é algo muito valioso. É muito importante saber que você pode compartilhar seus diferentes pontos de vista, porque nem todos concordam e nem todos chegam com a mesma compreensão sobre um problema ou sobre a realidade da região. Também acho isso importante porque demonstra a importância da participação de qualquer cidadão, não importa quem seja, de onde venha.

Assim, em certo ponto da iniciativa, quando os jovens começam a discutir sobre o que é governo aberto, sobre suas experiências, há muita conscientização sobre os direitos que todo cidadão possui. Mas, ao convidá-los para desenvolver um projeto, também enfatizamos os deveres do cidadão. Destacamos a importância de participar ativamente — não apenas como espectador, para criticar o que não funciona, mas como alguém que se pergunta: “Se algo não vai bem, o que posso fazer, da minha parte, para melhorar?”. É esse chamado à ação que buscamos promover, especialmente entre jovens líderes com potencial para gerar impacto em suas comunidades e instituições. Para resumir um pouco, acho que a iniciativa fortalece muito a questão do diálogo e, por outro lado, coloca em prática a convivência democrática, o fato de estar muito consciente dos seus direitos, mas também dos seus deveres.

Boletim de Governo Aberto – Esta edição, realizada exclusivamente com participantes do Brasil, coincidiu com um momento histórico em que o país sediou a COP30. O que mais chamou a sua atenção nessa experiência e nas soluções apresentadas pelos fellows brasileiros aos desafios climáticos?

Maria Fernanda Trigo – Bem, por um lado, eu estava com muitas expectativas sobre se realmente poderíamos aplicar essa iniciativa a um tema tão específico quanto as mudanças climáticas, pois às vezes se pensa que democracia e mudança climática são duas áreas muito diferentes. E o que me surpreendeu foi perceber como a questão do governo e dados abertos se encaixou no contexto que o Brasil está vivendo com relação às mudanças climáticas. Isso demonstrou como os instrumentos de governo aberto, neste caso os dados abertos, podem ser tão úteis em qualquer tema, como foi exemplificado na discussão sobre mudanças climáticas.

Então, me parece que a iniciativa foi muito útil para trazer grandes ideias e traduzi-las em problemas mais concretos, a partir das realidades específicas das diferentes regiões do Brasil, onde os efeitos das mudanças climáticas variam bastante. Isso foi muito rico na troca no Brasil.

Nós tínhamos um grupo de pesquisadores que realmente representava diferentes regiões e setores, refletindo toda aquela riqueza que existe no Brasil. Pudemos então ver como o problema das mudanças climáticas se traduz em diferentes problemas concretos para cada região. Cada região enfrenta diferentes problemas, talvez urgências diferentes, e isso ajuda a concretizar o máximo possível e a enxergar com mais clareza o impacto nas comunidades das quais tivemos representantes no Fellowship.

Por outro lado, fiquei muito impressionada com o desejo de participação e o ativismo dos brasileiros, sempre muito envolvidos em suas comunidades. Eles demonstraram muito conhecimento sobre o que está acontecendo em torno das mudanças climáticas e isso ficou evidente nas discussões.

É notável que a questão da COP não era apenas um tema no nível do governo nacional, mas também uma questão vivida intensamente em todo o Brasil. Desde o governo federal até os governos locais, muitos representantes estavam preparados para trabalhar nessas questões, e o compromisso que tinham foi demonstrado. O mesmo vale para os jovens: ficou evidente o compromisso em melhorar a situação de suas comunidades, de suas populações, em termos de enfrentar os desafios das mudanças climáticas.

Outra coisa que me chamou atenção foi a forma como, na semana presencial, os problemas apareceram de maneira muito específica e como as soluções propostas dialogaram diretamente com essas necessidades. Houve cinco grupos, que desenvolveram cinco soluções diferentes e bastante específicas. Eu não sou especialista em mudanças climáticas, mas a impressão que tive é que são ideias com grande potencial de gerar impacto real nas comunidades de onde esses jovens vêm.

E isso foi uma surpresa agradável, diferente de outras edições que já fizemos. As edições regionais que realizamos foram mais difíceis de encontrar soluções tão pontuais, concretas. E aqui, foi uma surpresa agradável ver que havia soluções muito específicas, e agora esperamos que, entre agora e o próximo seminário, eles possam desenvolver esses projetos que foram propostos.

Boletim de Governo Aberto – O Fellowship trabalha com a integração entre inovação, dados e participação social. Que mensagem você deixaria aos jovens líderes que estão iniciando essa jornada de transformação pública?

Maria Fernanda Trigo – Voltando aos temas anteriores, acho que uma mensagem principal para todos eles é a importância de saber ouvir e envolver diferentes perspectivas de diferentes setores. Quando se pensa em buscar soluções para um problema, a grande importância é ouvir os diferentes atores para ter uma visão mais abrangente de um problema ou solução.

Por outro lado, outra mensagem é a importância de colocar essas grandes ideias, essas grandes intenções em coisas concretas. Acho muito louvável querer que haja democracia, é muito louvável querer um mundo verde onde todos estejamos bem, mas isso precisa ser fundamentado em coisas muito concretas.

O que fazemos então para isso? Não importa o quão pequenas sejam, mas acho que é importante, mais do que a ideia, a ação, por menor que seja, agir e fazer algo concreto.

Outra mensagem é perceber a importância dos dados. São os dados que apresentam as informações, ajudam a entender como as coisas são. Obviamente, como sempre, confiando que esses são dados refletem a realidade, que são dados válidos. E a importância de confiar em evidências puras para desenvolver uma solução. Então, conheça bem a situação baseada em evidências antes de desenvolver uma solução.

E, por último, algo que tem mais a ver com inovação e a importância de nem sempre pensar como sempre foi feito. Tente pensar fora da caixa, como disseram. Talvez as coisas possam acabar de uma forma mais simples, mesmo que não seja o que sempre foi feito. Tentar buscar soluções não convencionais. Muitas vezes, hoje em dia, quando você tem tecnologia ou outras ferramentas, é muito importante tentar conectar todas essas ferramentas, todo esse conhecimento e tecnologias para buscar esse tipo de solução. E sempre buscando colaboração, opiniões, procurando tudo isso. Acho que essa seria minha mensagem.



Fonte Oficial: https://www.gov.br/cgu/pt-br/governo-aberto/noticias/2025/12/entrevista-como-o-fellowship-fortalece-jovens-liderancas-e-aproxima-governo-aberto-da-agenda-climatica

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