A América Latina vive um momento único no que diz respeito à inovação no mercado financeiro. Enquanto mercados maduros enfrentam saturação, a região desponta como o principal destino de capital de risco, com mais de 60% dos investimentos direcionados a fintechs. Os US$ 735 milhões destinados a startups da região são resultado da combinação entre uma população massiva ainda excluída do sistema bancário tradicional e tecnologias emergentes capazes de revolucionar a forma como se avalia crédito.
Entre 20% e 30% da população latino-americana — parte dos 1,6 bilhão de pessoas globalmente sem acesso a serviços financeiros — permanece fora do sistema bancário. São consumidores sem histórico de crédito, sem a documentação que bancos tradicionais como Itaú ou Bradesco exigem para abrir uma conta ou conceder um cartão. Muitos sequer se sentem confortáveis ao entrar em uma agência física. Mas há um detalhe fundamental: quase todos têm um smartphone.
“A maioria das fintechs não começou roubando clientes de bancos tradicionais, mas trazendo para o sistema bancário clientes que nunca tiveram um cartão de crédito ou uma conta”, explica Alvaro Echeverria, diretor de América Latina para a AWS Startups. Essa população digitalmente conectada, porém financeiramente invisível, representa a maior oportunidade de inclusão da região.
A revolução dos modelos de linguagem
O divisor de águas dessa transformação está na Inteligência Artificial Generativa e nos Modelos de Linguagem Grandes (LLMs). Tecnologias que pareciam futuristas há poucos anos agora permitem que fintechs superem barreiras que antes eram intransponíveis.
“O que é incrível com a IA é que você pode montar modelos capazes de extrair dados de conversas do WhatsApp, áudios, fotos e mensagens”, destaca Echeverria. “Com LLMs, é possível olhar para esses dados e criar um algoritmo que fornece confiabilidade de crédito. Então, de repente, você tem um sistema bancário móvel, que não requer dados de bancos tradicionais porque os modelos de linguagem conseguem usar outras métricas.”
A precisão desses algoritmos em capturar a capacidade de crédito tem se mostrado surpreendente. Processos que antes levavam meses agora são concluídos em minutos. A IA analisa padrões de comunicação, transações digitais e comportamentos que os métodos tradicionais simplesmente ignoravam — não porque não fossem relevantes, mas porque eram impossíveis de processar em escala.
Além do crédito: agentes inteligentes transformam a experiência
A tecnologia também está revolucionando a operação das fintechs. Agentes de IA baseados em GenAI oferecem suporte ao cliente 24 horas por dia, sete dias por semana, com um nível de personalização que seria inviável com equipes humanas.
Esses agentes vão muito além de chatbots básicos. Eles executam ações autônomas no sistema, como permitir que um cliente solicite a extensão da data de pagamento de um empréstimo em tempo real. A agilidade na resolução de problemas constrói confiança rapidamente — um ativo valioso para uma população historicamente desconfiada do sistema financeiro.
A tecnologia também atua na prevenção de fraudes, monitorando diferentes tipos de transações em tempo real, antes mesmo que o desembolso de recursos ocorra. Isso protege tanto as empresas quanto os consumidores em um mercado onde a segurança é fundamental para a expansão.
Fintechs possibilitam impacto real na vida das pessoas
O acesso a serviços financeiros vai além de números em uma conta bancária. Com um histórico de crédito e um cartão, famílias podem comprar eletrodomésticos, investir em educação ou empreender. A inclusão financeira representa, concretamente, melhoria no padrão de vida.
Conrad Wilkinson Schwarz, Chief AI Officer da Baubap, fintech mexicana, afirma que não há receio do público no que diz respeito a novas tecnologias. “O que observamos é que, no nosso mercado, os clientes são muito abertos e, de certa forma, muito pragmáticos. Se você for capaz de oferecer valor real muito rapidamente, eles vão abraçar a tecnologia, não vão se sentir desconfortáveis com ela.”
A confiança, no entanto, precisa ser conquistada. “Os próprios clientes têm muito ceticismo em relação a qualquer tipo de instituição financeira devido a experiências históricas”, explica Schwarz. Na Baubap, cerca de 60% dos clientes só decidiram usar o aplicativo por causa de uma recomendação boca a boca — um indicador de como a desconfiança ainda permeia o setor.
Para o executivo, uma vez que o valor real está sendo entregue, a confiança na tecnologia e a aceitação surgem naturalmente, desde que a empresa esteja cumprindo sua promessa. A falta de entregas, segundo ele, é uma das barreiras que está sendo lentamente derrubada para a inclusão financeira.
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Fonte Oficial: https://startupi.com.br/fintechs-grande-aposta-america-latina-aws/