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ARTIGO, por Marcelo Candido de Melo: “Façam como eu, não me imitem”

Essa é uma frase forte de Lacan que foi repetida num seminário no último sábado, exatamente quando eu sentia a pressão de encontrar um tema para uma nova coluna. Foi uma espécie de momento eureka! Outra coisa quase clichê dita, é quando ele diz para os ouvintes dos seminários que eles até podiam ser lacanianos, ele, Jacques Lacan, era freudiano. Lacan se tornou original ao romper com a leitura que alguns pós-freudianos faziam da obra de Sigmund Freud.

Voltou ao original e se permitiu ser também original. Fácil? Nem sempre, ainda mais quando nosso sistema educacional nem sempre privilegiou a criatividade ou originalidade. Se na sua cidade estiver em cartaz a peça Hannah Arendt – uma aula magna, vá assistir, vale a pena refletir com as ideias dessa filósofa sobre educação, sobre como devem ser as bases para se motivar alguém a aprender.

Se tem algo que a psicanálise faz com maestria é se render e apontar a unicidade de cada ser humano e por mais óbvio que isso pareça, nem sempre conseguimos aceitar e praticar essa ideia, às vezes, é difícil no particular aceitarmos o quão únicos somos, não são apenas as nossas impressões digitais, é o nosso desejo e o nosso inconsciente.

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Por mais que a tecnologia tenha se desenvolvido e possibilitado personalização em produtos, a lógica do mercado ainda é a divisão em grupos, tipos e a escala tende a não permitir muitas personalizações. Vou pesquisar se Henry Ford chegou a fazer análise? Suponho que não, se sim, usou do entendimento das particularidades para vender um conceito completamente diferente: a massificação. Se para Freud todo ser humano deveria ser como quer, único, segundo seus desejos, para Ford, todo consumidor deveria querer o mesmo modelo de carro, o T, e na mesma cor, a preta, radicalizando, essa seria a disputa Freud x Ford.

Meu convite é uma avaliação sensata e realista sobre as possibilidades de seu empreendimento. Muitas vezes ser original embute um custo muito elevado. Estar em sintonia conosco é um desafio grande, nossa tarefa é abrir espaço para que aconteça, caso contrário, o adoecimento é garantido, ainda que nem sempre se percebam os sinais. Todos somos reprimidos, em maior ou menor graus.

Já no negócio, muitas vezes é mais sensato estudar o mercado e encontrar um concorrente de sucesso que tenha deixado um flanco aberto e se posicionar ali, tendo um diferencial claro. É uma disputa grande, mesmo porque o jogo de empreendedor é um que tende a ser limitado, principalmente em recursos no início. Também faço parte do grupo dos que acreditam que as limitações financeiras são importantes para um negócio. Não tenho estatística, mas me posiciono atrás do divã para lançar que é mais comum um empreendimento fracassar se tem facilidade de acesso ao capital, do que se precisa encontrar soluções criativas às faltas.

Se eu te pedir para pensar em quantas marcas são cópias ou adaptações de outras bem-sucedidas, tenho a convicção que em poucos minutos você me dará exemplos suficientes para precisar de mais de duas mãos. Existem até mesmo marcas que fizeram isso tão bem feito que conseguiram virar o jogo e se tornaram depois de um tempo, muito investimento e trabalho, as referências.

Se ser fiel a si mesmo já é um baita desafio, imagine marcas terem uma personalidade, impactada por tantas, manterem-se ativas e atraindo consumidores, antes de se consagrarem e ganharem estruturas. Cabe o disclaimer que também ter estruturas pesadas e poderosas pode complicar. Você empreendedor deve estudar a fundo o mercado, os consumidores e as suas possibilidades e vontades.

A imitação tem proteções jurídicas, mas o que mais vale é a imagem para o consumidor. Se for copiar, se inspirar, faça-o bem-feito e seja breve, como tática pode até dar certo, como estratégia é mais difícil. A guerrilha não pode ser descartada como legítima para um empreendedor, mas dificilmente se sustenta a longo prazo.

Numa sessão de psicanálise é natural alguém se questionar e se ver como impostor, ter dúvidas em relação até mesmo às pessoas mais próximas, a psicanálise é um lugar onde se entende e aceita o contraditório, o amor e o ódio coexistem e a aceitação dessa e outras coexistências podem melhorar a vida das pessoas. Com o seu consumidor o mesmo pode ser verdadeiro, mas é preciso mais atenção ao seu posicionamento e as ações da concorrência.

Se você não sabe profundamente porque compram o seu produto, pode ficar sem clientes de forma surpreendente, é preciso conexão com o mercado, é preciso marcação cerrada na concorrência e é preciso ser um obsessivo na busca de diferenciais. Quando escrevo isso, sei o custo de ser um obsessivo. O que posso fazer para ajudar é ouvir e tentar convocar o próprio a se responsabilizar por sua história e ampliar a conexão com o que lhe é importante. Um conselho? Trabalhe com algo que faça sentido para você! Não pense apenas no retorno financeiro. Lucro é bom e necessário, mas não dá conta de fornecer energia para se perpetuar no mercado. Você deve ser a diferença do seu negócio!

MARCELO CANDIDO DE MELO
Escritor e psicanalista, é graduado e pós-graduado em administração pela EAESP-SP da FGV. Atuou na área de marketing de grandes empresas nacionais e multinacionais antes de empreender no mercado editorial. Sua editora alcançou bastante sucesso e foi adquirida por uma multinacional. Já escreveu 18 livros em seu nome ou como ghost-writer. Dá atenção especial à produção ficcional. Também já fez roteiro de documentário. Nos últimos anos mergulhou numa formação em psicanálise e desenvolve atividade clínica. 

Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-marcelo-candido-de-melo-facam-como-eu-nao-me-imitem/

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