O Brasil já reúne instrumentos, projetos e mecanismos de governança capazes de conduzir uma transição energética mais justa e inclusiva. A avaliação é de Talita Daher, gerente de Nova Economia e Indústria Verde da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que participou nesta quinta-feira (27/11) do painel “Como fazer uma transição energética justa”, durante o webinário “Belém e além: o legado da COP30 para o Brasil e o mundo”, promovido pelo Um Só Planeta.
Segundo Talita, a transição energética não depende de “uma bala de prata” e, embora o hidrogênio verde tenha grande potencial para apoiar a descarbonização da indústria, ele não pode ser tratado como solução única para o desafio climático. Para ela, o processo exige um conjunto articulado de iniciativas, muitas delas evidenciadas durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada no início do mês, em Belém (PA). “O que se consolida é a ideia de um portfólio integrado de estratégias, que não se restringe apenas às questões energéticas”, afirmou.
Entre esses avanços, Talita destacou a biomassa sustentável, a digitalização industrial, a padronização de métricas de emissões e a circularidade de materiais recicláveis, apontada por ela como um ativo estratégico nacional. Como exemplo, citou a plataforma Recircula Brasil, que rastreia e certifica a circularidade de materiais reciclados. Apenas na cadeia do plástico, e em parceria com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), a iniciativa já certificou 50 mil toneladas.
Durante a COP30, a plataforma foi ampliada para contemplar novas cadeias industriais — alumínio, vidro, papel e têxtil — fortalecendo a logística reversa e impulsionando a economia circular. “É uma solução madura que reduz emissões e custos ao mesmo tempo”, ressaltou Talita. A Conferência também marcou o lançamento da consulta pública da Estratégia Nacional de Descarbonização, iniciativa do governo brasileiro que busca transformar a descarbonização da indústria em motor de desenvolvimento econômico sustentável.
O painel contou ainda com a participação de Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). Ele ressaltou o potencial dos biocombustíveis e afirmou que a discussão sobre substituição dos combustíveis fósseis seguirá no longo prazo. “São alternativas muito mais viáveis e imediatas para países que têm condições naturais para esse cultivo. Se quisermos endereçar as emissões nos setores de transporte, indústria e usinas, precisamos apostar nos biocombustíveis até termos condições de descarbonizar esses segmentos”, afirmou.
Já Isabel Veloso, coordenadora do Núcleo de Estudos Avançados em Transição Energética da Fundação Getulio Vargas (FGV), apontou que, apesar de políticas consolidadas, como o etanol, o Programa RenovaBio e os leilões de energia, o país ainda enfrenta desafios importantes. “Além de exemplo, o Brasil também é uma vitrine que gera advertências para o mundo”, afirmou a pesquisadora, ao citar temas como crimes ambientais e conflitos envolvendo mineração em territórios indígenas.
Talita também reforçou que o país reúne uma matriz energética limpa, experiência consolidada em biocombustíveis e um ecossistema emergente de inovação. “O desafio agora é integrar dados, concretizar investimentos e transformar potencial em valor. Se fizermos isso com inovação e políticas conscientes, a COP30 não terá sido apenas mais um evento, mas um marco para o mundo”, avaliou.
Pessoas no centro da transição
A gerente da ABDI destacou ainda que a transição energética precisa caminhar junto com inclusão produtiva e criação de novas cadeias de valor. “É fundamental garantir emprego e oportunidades de formação para que todos possam participar desse processo. É recolocar as pessoas no centro da transição. Quando falamos de transição energética, falamos também de justiça social. Pessoas não podem ser deixadas para trás”, concluiu.
O painel foi moderado por Sabrina Neumann, editora-assistente do Um Só Planeta. O webinário discutiu avanços e frustrações da conferência, o desempenho do Brasil como país-sede e os caminhos para transformar as decisões tomadas em Belém em políticas públicas e ações concretas. A programação reuniu especialistas dos setores público e privado, academia, movimentos sociais e representantes de povos indígenas e comunidades amazônicas.
Fonte Oficial: https://www.abdi.com.br/brasil-reune-condicoes-para-avancar-na-transicao-energetica-justa-aponta-gerente-da-abdi-em-debate-pos-cop30/