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Coopera+ é apresentado na COP30 como referência de fomento à bioeconomia na Amazônia

A importância do cooperativismo, de catadores de recicláveis a agricultores familiares, e a experiência do projeto Coopera+, da ABDI, foi o destaque da programação do Pavilhão da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) na COP30, nesta terça-feira, 18/11, em mais um ciclo de painéis voltados a temas caros à conferência que incluiu, ainda, ações como cooperação internacional para unidades de conservação e mineração urbana.

O painel “Coopera+: cooperativismo e novos modelos de negócio para impulsionar a bioeconomia” deu ênfase ao cooperativismo como vetor de negócios sustentáveis, com oportunidades de modelos de negócio com rastreabilidade, selos de qualidade e de origem que conectam a oferta territorial à demanda por produtos sustentáveis.

Atuante em duas frentes – uma, voltada a cooperativas de agricultores familiares; outra, a cooperativas de gestão de resíduos, formadas por catadores – o Coopera+ foi apresentado pela diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, Perpétua Almeida, como exemplo a ser seguido aos convidados do debate: a analista de Sustentabilidade do Sistema OCB, Laís Nara; o representante da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), Dande Tavares; e a representante da Natura&Co, Izabella Benevides.

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Também ao lado do gerente de Fomento às Estratégias ASG da ABDI, Rogério Araújo, Perpétua falou da experiência do Coopera+ no Acre. “Nós pegamos uma pequena cooperativa no interior da Amazônia, no local mais ocidental da Amazônia, ajudamos a organizá-la, a fortalecer a cooperativa e levamos uma indústria de beneficiamento do café, com regras”, disse, referindo-se ao Complexo do Café do Juruá, centro de beneficiamento de café localizado em Mâncio Lima, no Acre, e resultante de parceria da ABDI com a Coopercafé.

“Primeiro, a cooperativa precisa envolver as mulheres no processo”, prosseguiu a diretora. “Segundo, não pode desmatar para plantar café, tem que aproveitar áreas degradadas, áreas que estavam sem utilização nenhuma, porque o café ajuda, inclusive, na contabilidade do carbono e isso é muito importante para uma área que estava sem utilidade nenhuma. E tem outras e outras exigências para o projeto, inclusive a energia solar nesse processo”, explicou, antes de anunciar, para breve, uma parceria da mesma natureza entre a Agência e a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre).

Dande Tavares, representante da cooperativa, celebrou a oportunidade. “O cooperativismo é o melhor modelo de negócios que se tem para a Amazônia e o Brasil entregarem esse resultado de floresta conservada, de população com qualidade de vida, renda e todas as necessidades que o ser humano tem e, também, um clima com equilíbrio.”

Responsável pelo Coopera+, sua operação com catadores no Distrito Federal e sua expansão no Acre, Rogério Araújo foi objetivo ao apontar a direção do projeto. “Conseguiremos avançar. Tanto no desenvolvimento econômico quanto na sustentabilidade.”

Servido no pavilhão da ABDI, o café de Mâncio Lima foi uma das atrações do espaço.

Acesso a mercados

O acesso a tecnologias, obrigação de todo e qualquer negócio no século 21, foi lembrado por Laís Nara como um dos benefícios mais importantes da experiência cooperativista. “Via cooperativismo, o pequeno, o médio [produtor], ele vê uma oportunidade de dar escala a seu produto, de acessar mercados, de ter acesso a tecnologias e conhecimento que, por muitas vezes, não chega lá na ponta”, afirmou. “O cooperativismo é essa forma de impulsionar a economia local, ter esse desenvolvimento sustentável e territorial.”

A experiência da Natura&Co com cooperativas demonstrou, no painel, que o ganho de escala e acesso a mercados mencionados por Laís é verdadeiramente factível.

O testemunho veio da própria empresa. “Hoje, a gente mantém relacionamento com, em média, 52 cooperativas e associações de comunidades agroextrativistas”, revelou Izabella Benevides.

“No Brasil, quando a gente fala de Amazônia, hoje a gente tem relacionamento com 45 comunidades. Isso daí já resultou na manutenção, na proteção e conservação da floresta de mais de 2 milhões de hectares na Amazônia”, mensurou a representante da Natura&Co. “Isso impacta diretamente mais de 10 mil famílias.”

Izabella também falou do desenvolvimento pela companhia, há cinco anos, de um mecanismo de crédito. Denominado Mecanismo de Financiamento Amazônia Viva, o instrumento consiste em dois veículos de crédito: o primeiro, via modelo CRA [Certificado de Recebíveis do Agronegócio], para a rede de relacionamento da empresa e para alavancar safras. O segundo, um fundo não reembolsado e filantrópico. “O fundo filantrópico é, justamente, como é que a gente pode alavancar a economia, gerar um desenvolvimento sustentável pra nossa rede de relacionamento”, explicou.

Áreas Protegidas

No início do dia, o pavilhão da ABDI sediou o painel “Cooperação Internacional para a criação e consolidação de Unidades de Conservação na Amazônia: contribuições para as metas da CDB e do Acordo de Paris”. A conversa destacou o papel das áreas protegidas como instrumento estratégico para o Brasil cumprir seus compromissos internacionais no combate às mudanças climáticas e na proteção da diversidade biológica.

O debate se concentrou em como a cooperação internacional e as políticas internas têm impulsionado a criação e efetividade das Unidades de Conservação (UCs) na região, alinhando-as com as metas da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e do Acordo de Paris.

O encontro teve a participação do assessor técnico do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), Thiago Valente; do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Henrique Pereira; do presidente do Conselho Nacional de Populações Extrativistas, Júlio Barbosa; e do diretor de Estratégia e Políticas do Amazon Conservation, Blaise Bodin.

Thiago Valente destacou que o estado do Pará está em um momento crucial, no qual todas as metas quantitativas de destinação de áreas para a conservação estão praticamente cumpridas, conforme estabelecido em seu mapa de desenvolvimento ecológico humano. O desafio atual é a conservação efetiva desses territórios.

“Tirar exatamente isso do papel e fazer com que esses territórios sejam protegidos efetivamente. Para isso, a construção de boas parcerias continua sendo o principal caminho”, disse.

Mineração urbana

O pavilhão da Agência foi palco, em seguida, de um painel sobre mineração urbana, ação que recicla e coloca novamente, em circulação, materiais que foram descartados pelos consumidores e que teriam, como destino, aterros sanitários. O debate reforçou a ideia de que a cadeia integrada de reciclagem de eletrônicos, com igual participação de cooperativas, é uma ação climática mensurável.

Ao substituir processos extrativos de alta intensidade de carbono e promover a remanufatura e reciclagem, com consequente redução de emissões e preservação de recursos, a mineração urbana é essencial para gerar empregos e impacto climático positivo.

Participaram da conversa a catadora da ANCAT/Reciclo, Aline Silva; a engenheira ambiental da Indústria Fox, Rayssa Oliveira; a diretora do Instituto Giro, Jéssica Doumit; o diretor de Sustentabilidade da Electrolux, João Zeni; e a gerente da Divisão de Mudanças Climáticas da Cetesb, Danielle Coimbra.

“É essencial que o país trate o tema com seriedade, assegurando que os trabalhadores tenham acesso a condições dignas, capacitação e investimentos adequados para o desenvolvimento das cooperativas”, alertou Jéssica.

Reciclagem inclusiva

A importância dos cooperados em atividades de reciclagem voltou a discussão em painel que reuniu lideranças de cooperativas de catadores, especialistas e representantes de organizações sociais no debate sobre os principais desafios da reciclagem inclusiva no Brasil.     

A conversa ressaltou a importância da coleta seletiva, da valorização do trabalho dos catadores e da ampliação de políticas que garantam renda digna, formalização e condições adequadas de operação, agenda alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)

O evento contou com a participação do presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho (ACAMJG), de Duque de Caxias (RJ), e do Instituto Movimento Eu Sou Catador (MESC), Tião Santos; da presidente da Associação dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis Visão Pioneira de Icoaraci (Ascavip), de Belém, Nádia da Luz; e da CEO da Pragma Soluções Sustentáveis, Dione Manetti.

Todos convergiram que espaços como o da COP30 são essenciais para dar visibilidade ao trabalho dos catadores e ampliar o debate sobre justiça socioambiental, clima e inclusão produtiva.Enfatizaram, também, a necessidade de fortalecer a presença feminina no setor – no Pará, 46% dos catadores são mulheres, o que demonstra a relevância de políticas que promovam autonomia, segurança e reconhecimento para as trabalhadoras.

Fonte Oficial: https://www.abdi.com.br/coopera-e-apresentado-na-cop30-como-referencia-de-fomento-a-bioeconomia-na-amazonia/

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ARTIGO, por Marcelo Candido de Melo: “E nós viemos aqui para beber ou pra conversar?”