A partir de 2026, a inteligência artificial (IA) agêntica deve ter uma participação mais ativa na vida das pessoas, de acordo com o Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE). A entidade entrevistou líderes de tecnologia de seis países (Brasil, China, Índia, Japão, Reino Unido e EUA) e identificou que os chamados agentes de IA, sistemas autônomos capazes de executar tarefas sem supervisão contínua, passarão a ser adotados em massa pelos consumidores.
Para 60% dos executivos brasileiros, essa adoção em larga escala começará já no próximo ano. Entre os principais usos previstos estão organizadores de agenda e calendários familiares (52%), gerenciadores de privacidade de dados (45%), monitores de saúde (41%) e assistentes para tarefas domésticas automatizadas, como pedidos de supermercado (41%).
A diferença é significativa para usuários já habituados com a inteligência artificial generativa, observa Camilo Girardelli, membro do IEEE e arquiteto de software especializado em machine learning. “A IA que usamos hoje é mais reativa: você faz uma pergunta, ela responde; pede algo específico, ela executa. A IA agêntica vai além disso: consegue entender um objetivo maior e trabalhar de forma autônoma para alcançá-lo, tomando decisões no caminho”, compara.
Enquanto a IA tradicional lista algumas opções de voos para uma viagem, a IA agêntica é capaz de entender as necessidades do viajante e, além da pesquisa de voos, pode verificar hotéis na região, indicar programação e elaborar uma proposta completa de viagem. “Tudo isso sem você precisar fazer dez perguntas diferentes”, destaca Giardelli.
Apesar da autonomia, os agentes de IA ainda dependerão de supervisão humana, fato que mobiliza o mercado de trabalho na área. O estudo aponta que 91% dos líderes esperam um aumento na contratação de analistas de dados, responsáveis por revisar precisão, transparência e possíveis vulnerabilidades dos resultados.
De acordo com Giardelli, o avanço dos agentes de IA vai exigir mais investimentos em infraestrutura, maior nível de qualificação profissional e regulação. Ele comenta que os sistemas exigem muita capacidade computacional e que a pesquisa do IEEE aponta que serão necessários de três a sete anos para que o mundo alcance a infraestrutura adequada.
Aplicações da IA agêntica para os consumidores
De acordo com a pesquisa global do IEEE, os líderes apontam que os agentes de IA serão adotados em massa para desempenhar as seguintes funções
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Assistente pessoal e organizador de rotina (52%)
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Gerenciador de privacidade de dados (45%)
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Monitor de saúde (41%)
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Automatizador de compras e tarefas domésticas (41%)
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Curadoria de notícias e informações (36%)
Impacto sobre o trabalho
Nove em cada 10 executivos da área acreditam que a IA agêntica vai elevar a demanda por analistas de dados.
Habilidades mais buscadas
Setores que serão transformados no Brasil
Os entrevistados apontam que os segmentos mais impactados pela IA agêntica serão:
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Desenvolvimento de Softwares (60%)
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Bancos e Serviços Financeiros (48%)
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Mídia e Entretenimento (48%)
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Saúde (28%)
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Educação (28%)
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Telecomunicações (18%)
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Energia (16%)
A qualificação é outra demanda complexa para o avanço dos agentes. “É preciso, urgentemente, investir em formação e requalificação profissional”, analisa Camilo Girardelli, membro do IEEE e arquiteto de software especializado em machine learning. Segundo ele, o estudo mostra que as empresas brasileiras estão procurando profissionais com conhecimento em práticas éticas de IA, análise de dados e machine learning.
Mas onde estão esses profissionais? “A universidade ainda está se adaptando e os cursos técnicos estão engatinhando nessa área”, admite. Suélia Fleury, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutora pelo MIT, comenta que, na área da educação, os agentes de IA automatizam atividades e permitem ganho de tempo, e podem ajudar a direcionar o conhecimento, auxiliando a resolver bugs e dirimir as dúvidas. Mas, de fato, é preciso avançar na preparação das pessoas.
“Precisamos nos voltar para dentro das escolas, criar cursos de inteligência especial nas universidades e tentar espalhar esse conhecimento. Também é preciso desmistificar, pois essa tecnologia ainda assusta as pessoas”, comenta ela, que é membro sênior do IEEE.
Sobre o cenário regulatório, quase a metade dos líderes brasileiros entrevistados colocam privacidade e segurança de dados no topo das preocupações. “E faz todo sentido: você vai deixar uma IA tomar decisões sozinha com seus dados sensíveis? Precisamos de regras claras, tanto do governo quanto das empresas, sobre como essa tecnologia pode ser usada de forma segura e ética”, diz Giardelli.
Um desafio adicional é a questão cultural. Ele argumenta que a democratização do conhecimento será fundamental para as pessoas entenderem como funciona a IA agêntica e de que forma ela pode impactar a rotina profissional ou pessoal.
Por outro lado, a massificação da IA agêntica vai transformar setores inteiros, além de ampliar o acesso a recursos e serviços de ponta. O executivo elenca que as áreas mais impactadas devem ser: segurança digital e combate a fraudes; desenvolvimento de software; finanças; e suprimentos.