Lucas Pipkin
Associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), sócio e analista de fundos da Nebraska Capital
O investimento em Certificado de Operação Estruturada (COE) é algo disseminado no mercado financeiro, mas está longe de ser uma opção de baixo risco, como às vezes é vendido. E essa condição tem ficado cada vez mais evidente ao longo do tempo, com o registro de perdas por investidores no país. Analisar esse histórico de prejuízos é não só se debruçar sobre uma questão de valores, mas também fazer um estudo de caso sobre a mente humana e os perigos de um sistema com incentivos desalinhados. Há uma distância clara entre a complexidade dos produtos, a motivação de quem os vende e a forma como nosso cérebro, propenso a vieses, toma decisões. É uma aula sobre o custo da assimetria de informação e a irracionalidade do custo afundado.
A anatomia desse desastre tem três atores. No topo, o estruturador do produto, com especialistas que entendem cada cláusula e gatilho do COE. Na base, o investidor, que confia em uma promessa simplificada de rentabilidade. E, no meio, atuando como uma ponte (muitas vezes instável), está o assessor de investimentos. Esse intermediário, que deveria ser o tradutor dos riscos, muitas vezes se torna um amplificador de vieses, movido por seus próprios incentivos. Produtos complexos como COEs costumam oferecer comissões mais altas, criando um conflito de interesse claro: o incentivo do assessor pode estar mais alinhado à venda do produto do que à proteção do cliente.
É nesse ponto que a assimetria de informação se agrava. O investidor não apenas não entende o denso Documento de Informações Essenciais (DIE); ele é ativamente desencorajado a se aprofundar, confiando na chancela do assessor e da instituição. O resultado é previsível: surpresa e frustração quando a cláusula de liquidação antecipada, aquele detalhe técnico, é acionada e pulveriza mais de 70% do capital investido, por exemplo.
A dinâmica comportamental se revela no caso em que, devido a perdas, cria-se um fundo de “recuperação”. Oferecido exclusivamente aos clientes que perderam dinheiro, o fundo permite que eles reinvistam o que sobrou na mesma estratégia. Não é apenas uma solução de mercado; é uma manobra eficaz na exploração do viés do custo afundado.
A falácia do custo afundado é a nossa tendência de continuar investindo em algo que deu errado simplesmente porque já investimos muito. A dor da perda inicial é tão grande que nos agarramos a qualquer chance de “voltar ao zero a zero”. A decisão de entrar no fundo de recuperação raramente é baseada em uma nova análise fria. É movida pelo desejo emocional de apagar o prejuízo, uma vontade que um assessor com incentivos errados pode facilmente estimular. É o equivalente a perder muito no pôquer e ter o gerente do cassino oferecendo um empréstimo para você “tentar recuperar”.
Isso nos leva diretamente à mesa de pôquer e às lições de Annie Duke, especialista em tomada de decisão. Duke enfatiza a diferença entre um bom processo e um bom resultado, e critica o que ela chama de “problema da resultante”, ou seja, a tendência de julgar a qualidade de uma decisão com base em seu resultado. No entanto, aqui a lição de Duke se aplica de forma inversa.
No caso do COE, não é que os investidores estão caindo no problema da resultante ao dizer que a decisão foi ruim depois da perda. O problema é que a decisão de investir em um produto com uma assimetria de risco tão desfavorável ao cliente já é, em si, um processo falho. Diferentemente de uma mão de pôquer bem jogada, na qual o processo pode ser bom mesmo com um resultado ruim, a estrutura de muitos COEs para o varejo já embute um processo de decisão viciado. A complexidade, as taxas embutidas e as cláusulas desvantajosas criam um jogo desenhado para que, no longo prazo, a banca sempre vença.
Nesse caso, o resultado desastroso não é um acaso; é a consequência esperada de um processo viciado desde o início. A perda não tornou a decisão ruim; ela apenas revelou o quão ruim ela sempre foi.
O mercado financeiro é um jogo de informações imperfeitas e psicologia. A melhor defesa de um investidor não é um novo produto para recuperar perdas, mas um processo de decisão robusto, a humildade de admitir o que não se entende e o ceticismo para recusar participar de jogos cujas regras ele não domina. Afinal, no mercado, o maior risco muitas vezes não é a volatilidade de um ativo, mas a própria estrutura dos jogos que nos convidam a jogar.