in

Lixo eletrônico se transforma em oportunidade ambiental e de negócios

O volume crescente de resíduos eletrônicos é um dos maiores desafios ambientais da atualidade. O Brasil, segundo a ONU, gera 2,4 milhões de toneladas por ano, mas apenas 3% têm destinação correta. No contexto gaúcho, iniciativas como a da Coopertec, em Canoas, e da Circular Brain, startup parceira ao nível nacional, mostram caminhos práticos e acessíveis para enfrentar o problema, unindo logística reversa, educação ambiental e tecnologia.

Na ação mais recente, realizada no Jardim Botânico, em Porto Alegre, a Coopertec contabilizou 473 visitantes em seu estande e cerca de 80 quilos de resíduos recebidos. O número pode parecer pequeno, mas o impacto vai além: “O mais importante foi a divulgação. Muitas pessoas se comprometeram a descartar corretamente em outras oportunidades”, afirma Rogério Demétrio Vieira, responsável pela logística e operação da cooperativa. Durante o evento, a parceria com a Circular Brain levou QR codes para facilitar o acesso a informações e canais de coleta.

A dimensão do problema preocupa. “O resíduo eletrônico deve triplicar até 2030, impulsionado pelo consumo de tecnologia. Muitas vezes, consertar um celular sai mais caro do que comprar um novo, o que amplia o descarte”, explica Lívia Santarelli, Gerente de Campanhas e Novos Negócios da Circular Brain. A startup oferece soluções de rastreabilidade, coleta domiciliar gratuita e mais de 17 mil pontos de entrega espalhados pelo Brasil, em parceria com os Correios e pequenos comércios.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

O trabalho da Coopertec, sediada em Canoas, envolve a coleta gratuita, a desmontagem e a classificação dos materiais, encaminhando cada componente para o destinador adequado. “Não transformamos matéria-prima, mas garantimos que tudo siga para a destinação correta”, resume Rogério. Já a Circular Brain conecta recicladores homologados a esse fluxo, registrando cada etapa na Plataforma Circular, sistema que assegura segurança ambiental e proteção de dados.

A lógica segue os princípios da economia circular, que busca transformar resíduos em insumos. “Alumínio, plásticos e outros componentes podem ser reutilizados. Temos parceiros que transformam plásticos de eletrônicos em chapas para a construção civil e mobiliário”, conta Lívia. O impacto é concreto: a Circular processou 20 mil toneladas em 2023 e 54 mil em 2024, mais que dobrando sua capacidade de reaproveitamento.

Além da destinação correta, a conscientização é central para mudar hábitos. A Coopertec aposta em ações presenciais, com palestras em escolas, empresas e eventos. Já a Circular Brain investe em campanhas digitais e capacitações gratuitas. “O engajamento da comunidade tem crescido, e muitas pessoas tornam-se divulgadoras espontâneas das práticas corretas”, observa Rogério.

Os riscos de descartar eletrônicos no lixo comum vão da contaminação do solo e da água a acidentes físicos e falhas na segurança de dados. Por isso, além de inutilizar equipamentos coletados, as organizações orientam a população a apagar informações pessoais antes do descarte.

Apesar dos avanços, ainda faltam políticas públicas efetivas. “Existem leis, mas não são aplicadas com rigor. Muitos fabricantes não cumprem a logística reversa”, alerta Lívia.

A reciclagem de lixo eletrônico, apesar de essencial, ainda é um processo complexo e pouco difundido no Brasil. Dados da Global E-Waste Monitor 2024, relatório da ONU, apontam que o país é o quinto maior gerador de resíduos eletrônicos do mundo. Entre computadores, celulares, impressoras e eletrodomésticos, grande parte desses equipamentos acaba em aterros sanitários ou abandonada em depósitos domésticos, o que amplia os riscos de contaminação e desperdício de matérias-primas valiosas.

O desafio não se resume à coleta. A cadeia de reaproveitamento ainda enfrenta gargalos logísticos e tecnológicos. Muitos municípios sequer possuem pontos de entrega voluntária, e a maioria das empresas de reciclagem está concentrada em grandes centros. “É preciso descentralizar a rede e criar políticas públicas que fortaleçam a logística reversa”, avalia Lívia, da Circular Brain. Hoje, os custos de transporte e triagem muitas vezes inviabilizam a expansão para cidades menores.

Apesar disso, quando o ciclo é bem estruturado, os ganhos são expressivos. Componentes como ouro, cobre e alumínio, presentes em celulares e computadores, têm alto valor de mercado. Segundo a ONU, a recuperação de metais preciosos a partir do lixo eletrônico global poderia gerar mais de US$ 60 bilhões por ano, valor superior ao PIB de muitos países. Esse potencial revela que a reciclagem vai além da responsabilidade ambiental: trata-se também de um negócio em crescimento.

No Brasil, a adesão ao conceito de economia circular começa a atrair não apenas cooperativas e startups, mas também indústrias e varejistas de tecnologia. Programas de logística reversa vinculados a marcas de eletrônicos têm ampliado pontos de coleta e parcerias com recicladores homologados. “Cada vez mais, empresas entendem que assumir essa responsabilidade fortalece sua imagem e agrega valor para clientes e investidores”, reforça Lívia.

Outro ponto estratégico é a inclusão social. Iniciativas como a da Coopertec demonstram que a gestão correta dos resíduos também gera oportunidades de trabalho e renda para comunidades locais, com funções de triagem, desmontagem e logística. Ao unir impacto ambiental e social, o setor reforça sua relevância em um cenário de crescente pressão por práticas sustentáveis.

Descarte eletrônico não é apenas uma questão ambiental: pode se transformar em vantagem competitiva para empresas. Iniciativas como a da Circular Brain oferecem programas em que organizações podem encaminhar equipamentos obsoletos e receber créditos em troca, revertidos em novos serviços e soluções sustentáveis.

É uma forma de transformar o passivo ambiental em benefício econômico, estimulando a adesão ao descarte correto”, explica Lívia, representante da startup. A prática contribui para o cumprimento de metas de ESG, cada vez mais cobradas por investidores e consumidores.

Além da questão reputacional, há ganhos práticos. A Circular Brain garante a rastreabilidade de cada item por meio da Plataforma Circular, assegurando que computadores, celulares e outros dispositivos passem por desmontagem correta, com segurança de dados. O sistema gera relatórios detalhados, úteis para auditorias e balanços de sustentabilidade.

Empresas que adotam esse modelo reduzem riscos de multas ou passivos ambientais, como também podem comunicar de forma transparente seu compromisso com a economia circular. “O resíduo eletrônico não é lixo, é recurso. Ao reaproveitar componentes, reduzimos a pressão sobre a extração de novas matérias-primas”, reforça Lívia.

Para pequenas e médias empresas, a recomendação é mapear periodicamente os estoques de equipamentos parados e buscar parcerias de logística reversa. Já grandes companhias, que costumam ter volumes expressivos de descarte, podem se beneficiar da coleta programada e da conversão em créditos.

Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/10/1219341-lixo-eletronico-se-transforma-em-oportunidade-ambiental-e-de-negocios.html

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Calçadão em SP homenageia personalidades que lutaram pela democracia