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Mulheres no comando provam que diversidade também é performance

Sob a liderança de Juliana Tescaro, conselheira executiva do Grupo Studio — um dos maiores players em consultoria empresarial do País — a empresa registrou crescimento de 313% no faturamento, consolidando um modelo mais robusto e diversificado. À frente da criação e estruturação de novas verticais de negócios, a executiva vem desafiando um cenário historicamente masculino: no Brasil, apenas 6% dos cargos de CEO são ocupados por mulheres, e nas áreas tributária e jurídica a presença é ainda menor.

No comando da operação, Juliana transformou a estratégia da companhia ao apostar em diversificação, tecnologia e gestão orientada por indicadores, conduzindo a transição de uma consultoria tradicional para uma plataforma integrada de soluções empresariais. Sob sua gestão, o grupo ampliou frentes em governança corporativa, agronegócio, energia solar e proteção patrimonial, reduzindo riscos e fortalecendo a resiliência do negócio diante das oscilações econômicas.

O caso evidencia que diversidade no comando também é sinônimo de competitividade. Estudos mostram que empresas com mulheres em cargos executivos têm 21% mais chances de superar concorrentes em lucratividade, e o avanço do Grupo Studio reforça essa correlação entre inclusão e performance.

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Empresas e Negócios O crescimento de 313% do Grupo Studio sob sua gestão impressiona. O que explica esse salto em um setor tão competitivo como o de consultoria empresarial?

Juliana Tescaro – O salto foi resultado de três escolhas estratégicas. Mudamos o modelo de negócio, deixando de vender apenas horas de especialista e oferecendo soluções integradas aos clientes, o que mudou o discurso, o preço e o valor percebido. Criamos uma plataforma de verticais com sinergia, concentrando esforços em setores com dores grandes e repetíveis, como agronegócio, varejo, indústria e serviços B2B, operando com 80% de processos padronizados e 20% customizados conforme cada cliente. Por fim, implantamos gestão orientada por indicadores e cultura de dono, com cada vertical responsável pelo seu P&L, metas semanais, NPS e critérios de desempenho. Criamos também a Fábrica de Líderes, que forma gestores e fortalece a cultura de crescimento sustentável. Essa combinação de estratégia, padronização e liderança permitiu escalar sem perder qualidade.

E&N A diversificação de verticais foi um dos pontos-chave da expansão recente. Como identificar quais áreas têm mais potencial para se transformar em novos negócios?

Juliana – Utilizamos um funil de decisão baseado em seis critérios: impacto da dor do cliente, confiança técnica, esforço de replicação, ticket e recorrência, sinergia com a base existente e payback em até seis meses. A partir disso, fazemos mapeamento de adjacências para entender quais dores se repetem em mais de 30% das conversas com clientes. Conduzimos uma etapa de discovery com 15 a 20 empresas-alvo para validar a disposição de pagamento. Depois, realizamos um piloto de 90 dias, com metas de conversão, CAC, margem, NPS e time-to-value. Projetos que não atingem quatro desses cinco indicadores são encerrados rapidamente e os recursos realocados. Todo o processo é acompanhado por um Growth Board mensal, que decide escala, pausa ou ajustes, sempre com base em dados, nunca opinião. Esse rigor garante que cada novo negócio seja escalável, sustentável e relevante para o cliente.

E&N O Brasil tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo. Como isso impacta os clientes e como a consultoria mitiga o cenário?

Juliana – A alta tributação reduz margens, aumenta a complexidade operacional e eleva riscos fiscais e jurídicos. Atuamos em quatro frentes: planejamento tributário, recuperação de créditos pagos a mais, automação de processos com RPA e IA para reduzir erros e prevenção de multas, e gestão de riscos com compliance e governança. Nos primeiros 90 dias já identificamos ganhos rápidos, em seis a 12 meses estabilizamos conformidade e margem, e em até 24 meses consolidamos governança fiscal madura, garantindo previsibilidade e segurança. Essa abordagem transforma o desafio tributário em vantagem competitiva, permitindo que os clientes foquem no crescimento em vez de gastar energia apenas com impostos.

E&N O setor ainda é dominado por homens. Que barreiras persistem para mulheres na liderança?

Juliana – As barreiras são estruturais. Mentoria existe, mas falta patrocínio real, ou seja, alguém que aposta seu nome e influência para abrir portas. O modelo de remuneração baseado em horas e presença penaliza maternidade e flexibilidade, premiando quem permanece no escritório, não quem entrega melhor. Também há viés na alocação de casos estratégicos e redes informais que ainda excluem mulheres. Para mudar isso, adotamos metas de representatividade, políticas de parentalidade equivalentes, trilhas de sponsorship com indicadores claros, transparência nos critérios de promoção e remuneração, e canais seguros de denúncia. Essas medidas transformam diversidade em estratégia de negócios.

E&N Como a gestão feminina influenciou as decisões estratégicas do Grupo Studio?

Juliana – A liderança feminina trouxe um olhar equilibrado: não se trata apenas de onde crescer, mas de quem, em que ritmo e com que saúde organizacional. Priorizamos talento antes do roadmap, só escalando verticais quando 80% do time-chave está preparado. Reforçamos governança com promoções e bônus baseados em entrega e comportamento, treinando líderes como coaches e implantando rituais de feedback. Políticas de parentalidade e flexibilidade se tornaram vantagem competitiva, atraindo e retendo profissionais sêniores. Além disso, ampliamos o patrocínio de mulheres e talentos sub-representados, diversificando a leitura de risco e tornando decisões mais criativas e assertivas.

E&N – ESG tem influenciado o trabalho das consultorias?

Juliana – ESG deixou de ser apenas um relatório e passou a integrar risco e custo de capital. Trabalhamos com materialidade dupla, implementamos governança clara, comitês, metas e KPIs que dialogam com o CFO, incluindo energia, perdas, acidentes, diversidade em liderança e turnover. Operacionalizamos ações práticas, como cláusulas ESG em contratos, gestão de resíduos e rastreabilidade, conectando essas práticas a incentivos fiscais, certificações e linhas de crédito. Em até 12 meses, clientes integram metas ESG em seus bônus executivos.

E&N – O agronegócio é uma das verticais fortes. Quais oportunidades e riscos?

Juliana – O setor oferece crédito vinculado a práticas sustentáveis, digitalização, rastreabilidade e planejamento tributário por operação e estado. Riscos incluem volatilidade climática, preços e barreiras ambientais. Mitigamos com mapeamento de riscos, governança documental, planejamento fiscal por safra e projetos de eficiência em energia e logística. Produtores que medem e comprovam resultados tornam-se prioridade nas carteiras de crédito, garantindo acesso a melhores condições de financiamento.

E&N – Quais tendências corporativas têm observado no Brasil?

Juliana – Empresas estão mais focadas em caixa e previsibilidade, priorizando margem, recorrência e contratos claros. Governança e proteção patrimonial tornaram-se centrais, backoffice automatizado com IA e RPA libera tempo para análises estratégicas, e talento humano passou a ser ativo escasso, com planos de carreira, bônus e bem-estar. CFOs assumem papel protagonista em tecnologia e fusões voltadas à eficiência, consolidando operações e aumentando competitividade.

E&N – Onde estão as maiores oportunidades de crescimento para o Grupo Studio e o setor de consultoria?

Juliana – Três caminhos principais: aplicar inteligência artificial no core da consultoria, com diagnósticos automatizados, copilotos de contratos e compliance, e dados em tempo real; expandir produtos recorrentes orientados a valor, combinando retainer, success fee e dashboards; e ampliar distribuição via parcerias com associações, cooperativas, bancos e fintechs. Quem unir resultado mensurável, governança sólida e experiência de cliente impecável vai liderar. Nosso foco é continuar transformando complexidade em crescimento com segurança.

Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/10/1220851-mulheres-no-comando-provam-que-diversidade-tambem-e-performance.html

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