Nobel de Economia de 2024 participa do CNC Global Voices 2025 e aponta que América Latina precisa de instituições fortes para romper o ciclo de baixo crescimento
“O Brasil está quase na média latino-americana e foi ultrapassado na última década pela China. Nada disso é destino: não é geografia, nem cultura.” Com esse diagnóstico direto, o economista James Robinson, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2024, destacou, durante o CNC Global Voices 2025, nesta terça-feira (14), em São Paulo, que o subdesenvolvimento persistente da América Latina decorre de instituições frágeis, pouco inclusivas e incapazes de sustentar a inovação.
Para romper o padrão, Robinson defendeu que os países emergentes precisam fortalecer o Estado de Direito, ampliar a concorrência, coibir monopólios e incluir mais pessoas no processo inovador. Este processo, diz o especialista, precisa se desenvolver sob regras que recompensem a invenção e o empreendedorismo, amparados na capacidade estatal para fazer cumprir a lei.
Com base em perspectiva histórica, Robinson comparou o desempenho latino-americano com o de economias asiáticas, como a Coreia do Sul, que há 60 anos era mais pobre que a maior parte da região e hoje tem padrão de vida equivalente ao europeu. A diferença, disse Robinson, está nas instituições que moldam incentivos e distribuem oportunidades. “É preciso aproveitar todo o talento latente em uma sociedade”, afirmou, ao apontar que, em países pobres, a exclusão ainda impede que o potencial humano se converta em crescimento.
Durante a apresentação, o economista retomou o trabalho de Robert Solow, que mostrou que o verdadeiro motor do desenvolvimento é a inovação tecnológica. Para que ela floresça, Robinson ressaltou a importância de sistemas como o de patentes, que protegem e recompensam ideias. Desde a lâmpada de Thomas Edison até as descobertas contemporâneas. Mas alertou que tais mecanismos só são eficazes quando acessíveis a todos. “Os inovadores vêm de todas as partes da sociedade. O talento não é concentrado, mas as oportunidades sim”, assegurou.
Ao tratar da América Latina, Robinson reconheceu avanços institucionais no Brasil após a redemocratização dos anos 1980, especialmente na consolidação do Estado de Direito, mas ressaltou que a transformação econômica foi mais lenta por causa da fragilidade do Estado em arrecadar, regular e garantir bens públicos. O resultado, observou, foi frustração com as instituições políticas e uma percepção de que a democracia não entregou o progresso esperado. Ainda assim, reforçou que “o efeito médio da democracia é bom”, apontando correlação positiva entre regimes democráticos, aumento da produtividade e estabilidade política.
O Nobel chamou a atenção para a necessidade de políticas antimonopólio que limitem a concentração de poder econômico. Citou casos como o julgamento da Microsoft e o desmembramento da Standard Oil, nos Estados Unidos, como exemplos de ação institucional que impede a captura dos mercados e estimula a concorrência. “O ponto-chave é alinhar os incentivos dos indivíduos aos da sociedade”, sintetizou.
Encerrando sua fala, Robinson afirmou que os países emergentes têm uma nova chance de construir um modelo de crescimento baseado em inclusão e inovação, desde que invistam em instituições fortes, democráticas e capazes de aplicar a lei de forma justa. “Nada é inevitável. O futuro depende das escolhas institucionais que fazemos hoje”, concluiu. A exposição do britânico vencedor do Nobel de Economia de 2024 encerrou a manhã de painéis no CNC Global Voices, que contou também com a participação de Paul Michael Romer, Nobel de Economia de 2018.