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Porto Alegre é a capital da tokenização imobiliária, diz Blazoudakis

A transformação digital impactou setores inteiros e mudou a forma como realizamos a maior parte das nossas transações diárias, das compras rotineiras às operações financeiras. Mas essa não era a realidade da gestão de propriedades privadas, como os imóveis. Para o empresário Andreas Blazoudakis, a próxima fase da economia vai redefinir essa realidade, graças à tokenização de ativos.

Blazoudakis faz a afirmação com o domínio de quem acompanhou e se antecipou a mudanças importantes. Criou e participou de 20 negócios, cinco deles muito bem-sucedidos: Movile, PlayKids, iFood, Delivery Center e Netspaces.

Criou o sistema de votação do Big Brother Brasil por SMS. Agora lidera a Netspaces, empresa inserida no contexto da Web 3.0 (com foco em tokenização de imóveis). Nesta entrevista ao Better Future, podcast do Jornal do Comércio, Blazoudakis fala sobre o novo projeto e compartilha sua visão sobre tecnologia, inovação e negócios.

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Mercado Digital – A Netspaces é uma plataforma para transação e gestão digital de propriedades, mas como esse negócio vai ajudar a transformar esse mercado?

Andreas Blazoudakis — A internet permeou praticamente todos os setores da economia, desde delivery de comida, pedido de táxi, ingresso e tudo mais. E o maior setor da economia, a maior classe de ativos, que é a dos ativos imobiliários, de fato não está disponível na internet para transacionar. A internet atual não comporta a transações de imóveis. O que vemos apenas são plataformas em que listam os imóveis, o que é diferente de possibilitar a compra online. Em suma, a tokenização imobiliária traz aquele imóvel que está fora da internet (está representado por uma matrícula de papel) para ser representado por um objeto eletrônico, que aqui a gente chama de token. Por isso que é tokenização: você criar um token atrelado à matrícula do imóvel para poder representá-lo no ambiente da internet e poder transacionar, comprar, vender, alugar, fracionar e fazer tudo mais. A tokenização é o próximo ‘reset’ da economia.

Mercado Digital – Como funcionam essas transações e o fracionamento do imóvel?

Blazoudakis — Há uma mística em volta do fracionamento de imóvel. O fracionamento de um imóvel é o varejo. É como se fosse o “à granel”, mas o mercado não começa pelo fracionamento. O primeiro uso de um imóvel tokenizado é comprá-lo inteiro. As pessoas vão achar muito natural comprar R$ 1 mil de um imóvel. Tipo: eu quero tirar da minha aplicação R$ 1 mil e transformar isso num ativo imobiliário real. Mas esse já é o final do mercado, quando ele tiver nas massas. O mercado hoje começa pelo atacado. Para eu poder ter uma fração de um imóvel, eu preciso tokenizá-lo inteiro.

Mercado Digital – Como estão essas operações no Brasil?

Blazoudakis — Porto Alegre foi a primeira cidade do Brasil a ter imóveis tokenizados, em 2021, com o token já na matrícula. São mais de 50 imóveis. Dá para dizer que é a capital brasileira da tokenização imobiliária. De lá para cá, a gente veio subindo nesses desafios, falando com as incorporadoras, distribuindo geograficamente em mais cidades. Hoje, são 180 cidades que estão com atividade de tokenização imobiliária.

Mercado Digital – Quais são as vantagens da tokenização imobiliária?

Blazoudakis — Hoje, se você faz uma compra de um imóvel e você vai ao seu banco fazer o financiamento, ele vai olhar a Serasa e avaliar o seu score. Se você tiver boa pontuação e quiser financiar um apartamento, o banco pede a papelada para analisar esse imóvel. Por quê? Porque a representação do imóvel está no papel. Se esse imóvel estivesse representado no token, estivesse guardado com o banco, assim como o dinheiro, o banco ia dizer: “Que interessante, a propriedade civil desse imóvel está sob nossa custódia. Pode abrir a tua carteira, o financiamento já está na sua carteira.” Instantâneo? Sim!

Mercado Digital – Qual é o perfil de quem está comprando hoje?

Blazoudakis – Existem aqueles que são os early adopters (estão experimentando a tecnologia) – 9 mil proprietários de imóveis tokenizados só em Porto Alegre. As pessoas estão comprando de R$ 100,00 até R$ 5 mil e R$ 10 mil. E o imóvel está alugado, então, quem comprou R$ 1 mil vai ganhar o aluguel referente a R$ 1 mil, como se estivesse alugando um pedacinho do imóvel. Esse é um é um dos perfis. O outro perfil são pessoas que estão com dificuldade de conseguir crédito no mercado tradicional com os bancos, principalmente autônomos.

Mercado Digital – Você sempre foi um empreendedor que se antecipou no mercado. Onde busca as inspirações para entender as tendências de mercado e apostar em novos modelos de negócios?

Blazoudakis — De um tempo para cá e um tempo, mais ou menos uns 15 anos, passei a observar uma coisa além da internet. Eu passei a observar o que acontece com as telecomunicações, principalmente no mundo do celular. Cada vez que muda uma geração de telefonia, multiplicando por 50 ou às vezes 100 vezes a velocidade e reduzindo 90% do custo, acontece uma onda de novas startups. São os filhotes das gerações de celulares. Eu aprendi isso olhando para o passado, não para frente. A Movile nasceu como uma empresa de messaging. O Play Kids, que eu criei, é uma empresa de streaming. A gente entrou na hora certa, na hora do streaming. De uns 15 anos para cá que eu fui me dar conta disso, passei a observar mais o que vai acontecer na nova geração. E aí fica fácil de entender tendências.

Mercado Digital – Além de estarem atentos aos movimentos de mercado, o que você sugere aos empreendedores que desejam criar aos seus negócios?

Blazoudakis – A gente tem essa tendência de começar pela solução para depois ver se o problema existe. Esse é o ponto chave. Para resumir, escolha um grande problema, mas trabalhe com três ou quatro soluções concorrentes entre si, inclusive. Por exemplo, quando a gente fez a Netspaces, não fizemos só imóvel fracionado, a gente fez fracionado e inteiro. E eu não posso te dar certeza: “ah, para de fazer imóvel fracionado”. Não, eu sei que tem coisa aqui no inteiro também. Então, aí a gente vai jogando e vai indo para frente. Os possíveis concorrentes que estariam competindo com a gente no mercado, hoje, não estão porque escolheram um caminho, se apaixonaram pelo imóvel fracionado apenas.

Mercado Digital – Você conta que das 20 empresas que criou, 15 não deram certo. Você consegue enxergar o motivo para isso acontecer?

Blazoudakis – Claro, e não é que essas 15 empresas não deram certo. Algumas duraram 7 anos, 10 anos. E eu descobri o seguinte, não é somente falhar rápido. Isso é básico. Tem outro ponto: quando eu dei certo, em algumas das 15, eu não soube escalar. Então tem um segundo componente que é: se dá certo, você precisa crescer, não tem outra opção a não ser crescer. O que acontece com uma empresa de tecnologia que não cresce? Ela apodrece, ela quebra.

Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/colunas/mercado-digital/2025/10/1220614-porto-alegre-e-a-capital-da-tokenizacao-imobiliaria-diz-blazoudakis.html

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