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Músico brasileiro morto na ditadura argentina recebe homenagem no Rio

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) promoveu, nessa quarta-feira (1º), ato cultural coordenado por Gilberto Gil com a presença de Caetano Veloso, Joyce Moreno e Marcos Valle, em homenagem ao pianista Francisco Tenório Jr., morto e desaparecido em 18 de março de 1976, durante a ditadura militar argentina, no contexto da Operação Condor.

O corpo do pianista brasileiro Francisco Tenório foi identificado por meio de exame de impressões digitais. Tenorinho estava em turnê pelo Uruguai e Argentina junto com Vinícius de Moraes, Toquinho, Mutinho e Azeitona quando, tendo tocado diante de um Grande Rex cheio, saiu do seu quarto do Hotel Normandie para comprar cigarros e remédios e nunca mais voltou. Ele era um dos nomes mais marcantes da música instrumental brasileira, mestre na fusão de bossa nova e jazz.

O músico foi sequestrado, torturado e executado a tiros por integrantes da Operação Condor. Tenório Jr. foi enterrado dois dias depois, como indigente, no cemitério de Benavídez, em Buenos Aires.

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A Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) confirmou, por meio de exames de impressão digital, a identidade do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior em setembro deste ano.

Reconhecido como desaparecido político pelo Estado brasileiro, Tenorinho, como era chamado, também teve a ausência assumida pelo governo argentino em 1997. Seu nome foi inscrito no Parque da Memória, em Buenos Aires, em homenagem às vítimas da ditadura.

Segundo a EAAF, ele foi enterrado sem documentos no cemitério de Benavídez. O corpo, porém, não pôde ser recuperado.

A confirmação encerra um mistério de cinco décadas, uma história que marcou não só a música brasileira, mas também a luta por memória, verdade e justiça na América Latina.

O perito Lucas Guanini, da Antropologia Forense argentina, responsável pela identificação dos restos mortais do músico, disse que o serviço foi criado em 1984 pela necessidade das famílias de localizar os desaparecidos na Operação Condor.

“Nossa finalidade é dar às famílias respostas sobre o que aconteceu aos seus entes queridos”.

Segundo Lucas, esse pacto de confiança com as famílias foi se consolidando.

“Temos o cuidado de não criar expectativas. Quando fazemos uma identificação, a mulher, os filhos e os netos devem ser logo comunicadas para que recebam os restos mortais de seus familiares”.

A programação, coordenada pelo cantor e compositor Gilberto Gil, contou com apresentações de grandes nomes da música popular brasileira, como Caetano Veloso, Joyce Moreno e Marcos Valle.

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, apresentou os participantes. O evento teve ainda a presença de familiares de Tenório Jr. e de Eunice e Rubens Paiva, mulher do deputado federal Rubens Paiva, sequestrado e morto durante o regime militar. Também participaram do evento lideranças das Mães da Praça de Maio, da Argentina, e da Marcha do Silêncio, do Uruguai, dois movimentos históricos de defesa da memória e da justiça para vítimas das ditaduras militares no Cone Sul.

“Nós tínhamos de lutar por todas as vítimas da ditadura por culpa de um governo cruel. Um governo que se transformou. Tínhamos que ser fortes para continuar com a luta. A única luta que se perde é a que se a abandona”, disse Helena Molinaro, representante das Mães da Praça de Maio.

Argentina

O movimento das Mães da Praça de Maio foi criado em 30 de abril de 1977 na Argentina, quando 14 mulheres se reuniram pela primeira vez no local, em Buenos Aires, para protestar pacificamente contra os desaparecimentos forçados de seus filhos durante a ditadura militar. Mães como Azucena Villaflor, De Vincenti e mais dez mulheres começaram a se reunir para exigir respostas do governo sobre o paradeiro de seus filhos. Elas caminhavam em círculos na praça em frente à Casa Rosada, o que deu origem à tradicional ronda que se repete até hoje. O uso de lenços brancos na cabeça, que simbolizavam as fraldas dos filhos, tornou-se um símbolo marcante do movimento. 

O grupo se consolidou como uma força internacional na luta pelos direitos humanos, memória, verdade e justiça. A organização desempenhou papel fundamental ao expor as atrocidades da ditadura argentina e pressionar pela responsabilização dos culpados. As Mães da Praça de Maio continuam sua luta, mesmo com o passar dos anos, garantindo que a história e as violações de direitos humanos não sejam esquecidas. 

Carioca de Laranjeiras, Tenório Jr. foi referência no samba-jazz e na bossa-nova, com colaborações marcantes ao lado de Vinícius de Moraes, Toquinho, Gal Costa e Milton Nascimento. Seu corpo foi oficialmente identificado em 13 de setembro deste ano, quase cinco décadas após o desaparecimento em Buenos Aires.

Fonte Oficial: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-10/bndes-promove-ato-cultural-em-homenagem-ao-pianista-tenorio-jr

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