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Brasil precisa romper processo de estagnação, defende Jorge Gerdau

Jorge Gerdau Johannpeter está inquieto. Ou, mais precisamente, é um inquieto. Um dos mais respeitados empresários brasileiros, ele hoje atua como membro do grupo de controle do Grupo Gerdau, mas seu olhar nunca se resumiu apenas aos seus negócios: ele enxerga e se preocupa, com os desafios nacionais. E o maior deles diz respeito à estagnação do desenvolvimento econômico social do Brasil. Mais do que isso, dedica boa parte do seu tempo hoje a pensar e constribuir para a melhoria do cenário nacional. Em entrevista ao Better Future, podcast do Jornal do Comércio, ele falou sobre os caminhos que considera fundamentais para avançarmos, elogia a excelência da mão de obra brasileira e fala sobre valores e propósitos que guiam a sua trajetória.

Mercado Digital – O seu livro, recém-lançado, tem um título instigante A Busca, os aprendizados de uma jornada de inquietações e realizações. Hoje, qual é a sua maior inquietação?

Jorge Gerdau Johannpeter — Eu diria que a maior inquietação está relacionada com o desenvolvimento econômico social do país. Quando eu analiso o cenário global, o que mais me preocupa é a última eficiência a ser atingida na gestão política e pública. E aí tem dois temas que eu acho que são chaves. O primeiro é a educação, que é tremendamente falha. Nós não estamos conseguindo atender as bases históricas, estamos cada vez mais entrando no mundo da inteligência artificial e ainda falhando na educação básica. O país está praticamente estagnado no crescimento per capita. Nós crescemos, mas no crescimento per capita, que é importante, estamos estagnados. Eu tenho realmente preocupação, porque precisamos romper isso. Um indicador que me choca, que é o consumo de aço per capita, mostra que estamos há 30 anos, quase 40 anos, com o mesmo índice, próximo aos 100 quilos. Então, a produção cresce, mas o consumo per capita está estagnado, enquanto outros países dobraram o consumo.

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Mercado Digital- Como é que se rompe isso para a gente conseguir ir para outro nível mesmo?

Gerdau — Eu acho que em todos os aspectos nós devemos discutir o propósito. Quando se tem essa definição, a gente luta para buscar esse propósito. Então se você pergunta qual é o propósito que nós temos no Brasil? Não existe uma clareza de quais são os propósitos que temos. Se não definirmos isso, não conseguirmos avançar.

Mercado Digital – A Gerdau é hoje um dos maiores players globais de siderurgia. Como foram esses movimentos de crescimento ao longo dos anos?

Gerdau — No passado, teve um momento em que a Gerdau atingiu um patamar no Rio Grande do Sul de 160 mil toneladas. Na época, nosso maior concorrente já fazia 360 mil toneladas. Então, sabíamos que ou crescíamos ou teríamos o risco de não conseguir atingir patamares de competitividade global. Isso fez com que nós tomássemos a decisão de crescer, primeiro para o Brasil e depois, internacionalmente, na América do Sul, depois nos Estados Unidos, na América do Norte. Meu pai sempre teve uma visão internacional muito aberta e nos fez despertar para esse tema nos negócios. Começamos a crescer nacionalmente, mas dentro do objetivo de conseguir atingir patamares de competitividade a nível nacional e depois internacional. Ou as empresas ou crescem ou desaparecem.

Mercado Digital – Essa visão de tecnologia de gestão é que direciona o crescimento da empresa?

Gerdau — Sim, a minha visão profissional sempre foi voltada fortemente para a tecnologia de gestão. Um passo marcante na minha vida foi a convivência com o Vicente Falconi. Nos anos 1980, nós nos aproximamos para buscar essa cultura de tecnologia de gestão sobre processos. O Falconi desenvolveu essa tecnologia de uma forma espetacular. Nós aprendemos com ele, introduzimos isso na empresa e atingimos patamares de produtividade internacionais. Faço este depoimento com alegria enorme: o nosso operário, você educando e capacitando, atinge patamares de produtividade internacionais sem dificuldades. O Brasil tem isso. Em outros países que eu tenho experiência, isso é mais difícil. Eu diria que o nosso operário brasileiro é excepcional.

Mercado Digital – No seu livro, você selecionou 23 palavras que definem vivências e aquilo em que acredita. Como foi esse processo?

Gerdau — Depois de ter terminado praticamente o livro, eu me questionei: será que eu consegui, com esses exemplos que eu abordei, exteriorizar toda a minha visão? E aí surgiu essa ideia de fazer palavras. Inicialmente eu pensava em 10 palavras, 15 talvez, mas cheguei a 23. Mas é importante, nessas 23 palavras, eu gostaria de ressaltar duas palavras: respeito e amor. Com essas duas, eu quase que empacoto o conjunto dessas palavras. Meu pai cumprimentava o porteiro da mesma forma que fazia com o principal executivo de uma empresa ou engenheiro. Então é uma visão filosófica, porque todo mundo é importante na organização, certo? Então, eu falo isso do respeito, mas é, o respeito tem que existir em tudo, na aula, na classe, na estrutura burocrática. O segundo ponto é o amor. Eu acho que tudo que a gente faz com o amor, com envolvimento emocional, com um propósito maior, é o que nos dá condições realmente de avançar.

Mercado Digital – O que, na sua visão, a gente pode fazer por um futuro melhor?

Gerdau — Eu acho que temos que nos concentrar em dois temas: educação e índice de poupança para investimento. Olhando atentememte para esses fatores, que têm um impacto imenso, conseguiremos resolver todas as outras coisas por extensão.

Mercado Digital – Eu li uma frase recentemente em que você dizia: “quando pensamos que sabemos tudo, estamos perdidos”. Como lidar com a vaidade?

Gerdau – Podemos pensar isso da seguinte forma. Vamos olhar para a medicina, e um cardiologista muito competente que já salvou muitas vidas. Pode ser difícil ele não ter vaidade pessoal. Agora, como é que eu vou ter vaidade se isso significa apenas 0,03% do conhecimento humano? Há um mundo de conhecimentos, e eu conheço um pedacinho disso. Em qualquer campo de atividade, a gente sempre conhece um pedaço. Como é que, conhecendo só esse pedaço, eu vou ter vaidade? A vaidade pode talvez surgir para um país que consegue mobilizar politicamente a inteligência para o seu desenvolvimento. Mas, de uma forma geral, não é bom ter vaidade. A vaidade define o limite. Como eu não quero ter limites no aprendizado e na realização, eu tenho convicções profundas que a vaidade é um inimigo do ser humano.

Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/colunas/mercado-digital/2025/09/1215889-brasil-precisa-romper-processo-de-estagnacao-defende-jorge-gerdau.html

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