A expansão da economia digital trouxe ganhos inegáveis para empresas e consumidores. Modelos de negócio baseados em dados, algoritmos de recomendação e marketing segmentado ampliaram o alcance das marcas e criaram experiências de consumo cada vez mais personalizadas. Contudo, o mesmo ambiente que gera eficiência e proximidade também tem intensificado práticas que levantam um alerta crescente: o chamado “assédio de consumo”.
O termo se refere a estratégias insistentes, invasivas ou enganosas que pressionam o consumidor a contratar bens ou serviços sem plena liberdade de escolha. Entre os exemplos mais comuns estão notificações constantes, pop-ups que dificultam a navegação e o uso de dark patterns — padrões de design que induzem decisões contrárias ao interesse real do usuário.
No Brasil, quando o assunto é direito do consumidor, a legislação coloca a transparência como princípio fundamental, exigindo clareza e equilíbrio na relação entre fornecedores e clientes. Isso significa que práticas digitais abusivas não apenas expõem empresas a riscos jurídicos, como também corroem a confiança do consumidor — ativo cada vez mais determinante na competição entre marcas.
Com a atenção crescente do Ministério Público e de órgãos de defesa do consumidor, é esperado que a atuação institucional se intensifique, por meio de ações coletivas e termos de ajustamento de conduta (TACs). Empresas que insistirem em estratégias agressivas poderão enfrentar não apenas condenações financeiras, mas também danos reputacionais difíceis de reparar.
O desafio é especialmente sensível em setores como varejo online, serviços financeiros digitais e aplicativos de mobilidade, nos quais a experiência do usuário depende de interfaces claras e intuitivas. A linha que separa conveniência de manipulação é cada vez mais tênue.
Se, por um lado, a pressão regulatória tende a aumentar os custos de conformidade, por outro abre-se uma oportunidade estratégica: empresas que adotarem políticas de comunicação ética e transparente podem se diferenciar pela confiança. Em um ambiente digital saturado de ofertas, conquistar o consumidor pela clareza e pelo respeito pode ser mais valioso do que atraí-lo por insistência.
Diante desse cenário, cabe às lideranças empresariais revisar práticas de marketing e experiência do usuário. Incorporar áreas de compliance digital, investir em design centrado no consumidor e fortalecer programas internos de ética são medidas que reduzem riscos e reforçam a imagem institucional. Mais do que uma obrigação legal, a defesa da transparência se converte em estratégia de negócios.
Consumidores informados tendem a ser mais leais, enquanto práticas abusivas rapidamente se tornam públicas em redes sociais, minando a credibilidade de marcas consolidadas. O assédio de consumo na economia digital não é apenas um tema jurídico: trata-se de um desafio empresarial estratégico. A postura adotada hoje pelas companhias determinará não só sua exposição a litígios e fiscalizações, mas principalmente sua capacidade de competir em um mercado no qual a confiança é o diferencial mais valioso.