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Após 20 anos livre, RS enfrenta desafio com Influenza Aviária

Especial para o JC*

Por mais de 20 anos, o Rio Grande do Sul se manteve livre da ocorrência de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) H5N1, enquanto outros países enfrentavam a doença que inclusive infectou e matou humanos. No entanto, em maio deste ano, uma falha ainda não identificada no sistema de biossegurança de uma granja de genética avícola, localizada no município de Montenegro, permitiu que o vírus entrasse em contato com os animais, dizimando mais de 85% do plantel. Mas afinal, quais são as lições que o episódio deixa para a cadeia avícola gaúcha?

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Ação consiste em atuar junto às granjas para que reforcem os cuidados sanitários e ajudem os trabalhadores dos locais a terem um plano para resolver as pendências que ocorram eventualmente


Lucas Scherer/Embrapa Suínos e Aves/JC

Pela primeira vez na história da avicultura brasileira, uma granja comercial gaúcha, localizada no município de Montenegro e que aloja matrizes, registrou um foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) H5N1, em maio deste ano. Apesar de todas as medidas de biosseguridade adotadas por anos pela indústria e integrados, e preconizadas pelos serviços veterinários oficiais, tanto da Secretaria da Agricultura como do Ministério da Agricultura, que ajudaram a manter o Estado livre da doença, algum elo dessa cadeia de proteção falhou e o vírus rapidamente dizimou 84% dos animais alojados na granja e outros precisaram ser sacrificados.

Mais de três meses após o evento, que fez os gaúchos enfrentarem uma das enfermidades mais temidas do setor, surge a pergunta: quais as lições ficam como legado para o Estado e quais as medidas que precisam ser adotadas para que não se repita? O chefe da Divisão de Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura (Seapi), Fernando Groff, afirma que a intensificação das medidas de biossegurança é ponto-chave nesse cenário. “Intensificamos as auditorias de biossegurança, principalmente nas granjas de poedeiras, mais de 300 no Estado, que são as que têm risco maior, para reduzir o risco. Lembrando que zero não vai ficar”, afirma.

O trabalho consiste em atuar junto às granjas para reforçarem os cuidados sanitários e ajudem o pessoal que trabalha nos locais a ter um plano de trabalho e resolver as pendências que eventualmente ocorram. Dentro dessa intensificação entram os protocolos de biossegurança que envolvem desde os cuidados ao entrar nos recintos onde ficam os animais, que incluem tomar banho, trocar de sapato, até as medidas adotadas na estrutura dos espaços como telas e isolamentos.

“Potencializamos essas orientações desde o ano passado e agora mais do que nunca, aumentando as auditorias nas granjas, visitando e orientando e estabelecendo prazo para resolverem questões, quando houver, uma vez que contamos com a Instrução Normativa 56 que impõe isso”, acrescenta Groff.

No dia 12 de maio, o Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), atendeu a suspeita de síndrome respiratória e nervosa de aves. As amostras foram coletadas e encaminhadas ao Laboratório Federal de Diagnóstico Agropecuário, em Campinas–SP, que confirmou o diagnóstico de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1) em 16 de maio.

Com a confirmação do foco, o Serviço Veterinário Oficial do RS (SVO-RS) desencadeou as ações previstas no Plano Nacional de Contingência de Influenza Aviária, com isolamento da área em Montenegro e eliminação das aves restantes, para ser iniciado o protocolo de saneamento da granja. Será conduzida investigação complementar em raio inicial de 10 km da área de ocorrência do foco, e de possíveis vínculos com outras propriedades. A mortalidade de aves no Zoológico de Sapucaia do Sul, que está fechado para visitação, também foi atendida e a Seapi aguarda o resultado do sequenciamento.

 

Produtores defendem medidas de biossegurança para aves de subsistência

Necessidade é de estabelecer políticas públicas que ajudem a fomentar práticas sanitárias para as aves chamadas de fundo de quintal


Seapi/Divulgação/JC

 O presidente da Associação de Avicultores de Frango de Corte e Postura (Asacop), Sadi Mesavilla, afirma que, entre as lições que ficam após o foco de Influenza Aviária, em Montenegro, está a necessidade de estabelecer políticas públicas que ajudem a fomentar práticas sanitárias também para as aves chamadas de fundo de quintal. “É preciso que o Estado olhe para esse braço da avicultura de subsistência, de pessoas que criam aves para se alimentarem, que também precisam ter algumas políticas de biosseguridade, para não acontecer de essas aves soltas contaminarem as aves comerciais”, protestou.

Segundo ele, a posição geográfica do Rio Grande do Sul é favorável ao aparecimento de aves migratórias, principais responsáveis por trazer a doença para o Estado. “São os vetores que acabam entrando em contato com essas aves de vida livre. A associação trabalha muito para que os produtores possam ter medidas de biosseguridade dentro das suas granjas, impedindo que a doença entre nas granjas comerciais”, acrescenta Mesavilla. O dirigente defende a criação de linhas de custeio para que os produtores com “mais dificuldades” possam buscar recursos específicos para investir em biosseguridade nas suas propriedades.

O dirigente afirma que o foco de Influenza afetou severamente o setor avícola gaúcho, que conta com mais de 7 mil avicultores e gera em torno de 35 mil empregos diretos e 500 mil indiretos. “Não temos os prejuízos mensurados, mas sabemos que muitos produtores na região não alojaram ainda, e isso já vai para mais de 60 dias, pois trancou a exportação”, revela.  

Além disso, municípios mais distantes do foco também estão com os alojamentos represados, ainda em função dos embargos, o que levou alguns frigoríficos a darem férias coletivas.  “A ideia é parar nesse período, até que as coisas se ajeitem. Os produtores já vêm numa situação de rentabilidade baixa e deixando de alojar os lotes, automaticamente vão deixar de ter fluxo de caixa”, pondera Mesavilla.   

Ele destacou o compromisso dos produtores associados de trabalhar com padrão técnico elevado, garantindo sanidade, rastreabilidade e qualidade no processo produtivo, sendo que a biosseguridade é um compromisso constante do setor. “Formamos uma comissão, em parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura e as secretarias de diversos municípios, para a realização de seminários junto aos produtores para discutir temas de biosseguridade”, acrescentou.

O coordenador Geral da Comissão da Farsul, Rodrigo Ramos Rizzo, afirma que todos os eventos sanitários que podem atingir uma cadeia produtiva gigante como é a das aves e ovos no Rio Grande do Sul trazem muita preocupação. “É inegável o prejuízo imediato com essas suspensões, porém deve-se reconhecer o preparo de entidades, como a Asgav que se antecipou ao problema, tendo em vista sinais de que esta ameaça se tornasse realidade”, afirma Rizzo. Isso tudo em função do cenário mundial, onde já se observava, há meses, diversos focos de gripe aviária, inclusive em granjas comerciais.  As agroindústrias já vinham se preparando, caso o surto se confirmasse, procurando minimizar o impacto comercial interno que isto poderia causar com excesso de oferta nas gôndolas dos supermercados brasileiros. “Mas aos poucos o mercado vem se ajustando. De imediato, quando é detectado e confirmado um foco de gripe aviária, todo o setor de proteína animal entra em estado de alerta”.

Para Rizzo, o grande ensinamento que fica é que o Estado não foi surpreendido, pois “só é surpreendido quem não está preparado”. O Serviço Veterinário Oficial respondeu de forma rápida e, em poucos dias, o caso foi considerado encerrado, com todas as etapas previstas no protocolo cumpridas. “Também contamos com a participação do Fundesa, pela liberação de R$ 200 mil para a realização das ações necessárias. Que exigiram recursos com liberação imediata ou até antecipada na ordem de R$ 200 mil”, diz Rizzo.

 

Gripe Aviária e o impacto na avicultura gaúcha: análise econômica e desafios comerciais

Em 2024, o R,S exportou US$ 365,1 milhões (27,9%) em produtos do abate de aves


FREDY VIEIRA/ARQUIVO/JC

 

Diante dos Surtos de Newcastle e H5N1

Doença de Newcastle – Anta Gorda–RS

Foco confirmado em 17 de julho de 2024, encerrado oficialmente em 26/07/2024.

Controle rápido evitou danos maiores, mas gerou impactos nas exportações.

Gripe Aviária H5N1 – Montenegro–RS

Primeiro caso em aves comerciais no Brasil, confirmado em 16/05/2025.

Gerou alerta nacional e internacional, com embargo de países como China, Japão, Malásia,

Coreia do Sul e União Europeia.

Exportações do Abate de aves no RS em 2024 (antes do surto de H5N1)

Quantidades: 708,8 mil toneladas.

Receita: US$ 1,3 bilhão.

Participação nacional: 13,8% em receita, 3ª maior entre os estados exportadores.

Representa 8,0% da receita com exportações da Indústria de Transformação do Rio Grande do

Sul

Impacto do surto de Newcastle (2024)

Julho: queda de 2,6% no quantum (-1,6 mil t) e 4,2% na receita (-US$ 4,8 mi).

Agosto: queda de 38,4% no quantum (-24,2 mil t) e 32,5% na receita

Jul-dez/2024 vs. jul-dez/2023:

Quantidades: retração de 8,4% (-31,6 mil t).

Receita: retração de 8,0% (-US$ 57,6 milhões).

Impacto do surto de H5N1 (2025) (em curso):

Suspensões de importação atingem o RS e o Brasil.

Projeção de novos prejuízos comerciais e logísticos no curto prazo.

Em 2024 o R,S exportou US$ 365,1 milhões (27,9%) em produtos do abate de aves para os

países que hoje restringiram suas compras do Brasil de maneira geral e US$ 398,9 milhões

(30,4%) para países que apresentaram restrições relacionadas à área.

Emprego Formal (RAIS/2023)

Total de empregos no Abate de aves: 31.094 vínculos (12,2% do Brasil no ramo).

Principais municípios:

Lajeado: 5.338 (17,2% do RS)

Passo Fundo: 3.036 (9,8%)

Montenegro: 2.619 (8,4%)

Forte dependência local:

Miraguaí: 97,5% dos empregos da Indústria de Transformação e 66,1% do total de

empregos do município.

Trindade do Sul: 96,5% e 56,2%, respectivamente.

Nova Araçá: 82,0% e 56,4%, respectivamente.

Fonte: Unidade de Estudos Econômicos – Fiergs

Especialista afirma que impactos no mercado seguirão se agravando durante 2025

Leães lembra que, em 2024, exportações de carne de frango caíram 12,7%


Ricardo Leães/Arquivo Pessoal/JC

O Rio Grande do Sul nem se recuperou completamente do impacto do foco de Newcastle, identificado no município de Anta Gorda, em 2024, e um novo revés se abateu sobre o Estado, desta vez com a ocorrência de um surto de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) H5N1, em Montenegro.  Os reflexos deste último evento ainda não foram totalmente mensurados, mas a projeção é de novos prejuízos comerciais e logísticos no curto prazo, com perdas em volume exportado e produção, depois do embargo imediato de países como China, Japão, Malásia, Coreia do Sul e União Europeia. Em 2024, o Estado exportou US$ 365,1 milhões (27,9%) em produtos do abate de aves para os países que hoje restringiram suas compras do Brasil de maneira geral e US$ 398,9 milhões (30,4%) para países que apresentaram restrições relacionadas à área. Em julho, a Asgav divulgou dados que indicam que as exportações de carne de frango, processadas e in natura do Rio Grande do Sul registraram recuo de 22,1% nos volumes exportados, comparados ao mesmo mês do ano passado. Nessa entrevista, o analista e pesquisador em Relações Internacionais no Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE-SPGG) Ricardo Leães fala sobre o impacto da ocorrência da doença para o Estado.

Empresas & Negócios – Quais foram os principais impactos da ocorrência da Influenza Aviária para o setor avícola e para a economia gaúcha?

Ricardo Leães – Traçamos um panorama sobre a influência da cadeia do frango para a economia do Rio Grande do Sul, sobretudo das exportações, mas também emprego, municípios mais afetados por esse setor. Mas, ainda não conseguimos medir os impactos e suas as consequências. Inclusive, alguns dados de maio mostram que até aumentou o volume de exportado de carne de frango. É normal haver um certo delay, ou intervalo de tempo para que os efeitos comecem a ser sentidos. O Rio Grande do Sul já estava com um banimento das exportações de carne de frango para a China, desde julho do ano passado, porque houve uma denúncia de um caso de um foco de doença de Newcastle. E embora poucas semanas depois, o Rio Grande do Sul já tenha sido declarado como uma região livre dessa doença, mesmo assim os chineses acabaram mantendo o embargo. Isso é importante porque mostra que os chineses têm a postura, em geral, de serem bem taxativos, bem assertivos, quando há focos de doenças contagiosas e, via de regra, eles levam bastante tempo para retomar as importações dos países que foram afetados. Então, se o Rio Grande do Sul foi declarado livre da doença de Newcastle, em poucas semanas, e mesmo assim os chineses não retomaram as importações de carne de frango do Rio Grande do Sul, tudo indica que vai demorar ainda mais porque a gente teve agora esse caso de surto de gripe aviária.

E&N – E você já tem um levantamento desse prejuízo com a continuidade desse embargo por parte da China? 

Leães – Ainda não, mas a tendência é de que 2025 os impactos sejam ainda maiores do que os do ano passado. Desde julho de 2024, começaram a cair as exportações de carne de frango para a China e elas foram se reduzindo paulatinamente até que em outubro e novembro já estavam praticamente zeradas. É normal levar um tempo, porque, em geral, quando os países adotam essas restrições ações, não significa que do dia para a noite as exportações acabem. Muitas vezes o que acontece é que os países param de emitir licença de importação a partir de determinada data. Então aí, muitas vezes, como as empresas fizeram contratos no passado, eles ainda conseguem manter, de uma maneira residual, algumas exportações. Até por isso que a gente ainda não falou sobre os impactos que já aconteceram, porque a gente vai precisar de um distanciamento um pouco maior para ter uma avaliação mais precisa desse impacto. No ano passado, por exemplo, as exportações de carne de frango do Rio Grande sul para o mundo caíram 12,7%. E, sem dúvida, um dos motivos pelos quais esse valor caiu já em 2024 é porque a China parou de comprar, na metade do ano.

E&N – E como está o ranking dos países que mais compram produtos avícolas do Estado?

Leães – Em 2024, a China foi o quarto principal comprador de produtos avícolas do Estado, atrás dos Emirados Árabes Unidos, da Arábia Saudita e da União Europeia. Em 2023, a China foi o segundo destino e neste ano é possível que nem figure entre os compradores. Teve um mês que a China importou US$ 100 de carne de frango. Até brinquei que, nesse mês, eu devo ter gasto mais com frango do que a China. Tirando a União Europeia, existe um domínio do Oriente Médio e do Leste Asiático e, nesse sentido, a gente até deu sorte, porque o embargo dos Emirados Árabes Unidos, ficou limitado ao município de Montenegro. Em 2024, fazendo aqui um top 15, teríamos: Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, União Europeia, China, Japão, Singapura, Kuwait, Oman, Qatar, Iraque, Filipinas, Coreia do Sul, Iémen, Líbia e Jordânia.

E&N – E quais os impactos no mercado interno, chegou a sobrar produto em função dos embargos?

Leães – Logo que aconteceu, muita gente ficou dizendo que o preço do frango iria baixar. Até é possível que ele baixe no curto prazo. Só que o ciclo da criação do frango é relativamente curto. O que isso significa? Que se o embargo se prolongar, o que vai acontecer é que o setor vai criar menos frango e, provavelmente, esse impacto dos preços não vai ser tão significativo, porque vai diminuir a oferta de produto também. No curto prazo, pode até haver uma queda, mas a tendência de médio e longo prazo é de que não haja uma diminuição tão expressiva no frango. Poderia haver uma diminuição no preço, se de repente houvesse uma percepção do consumidor de que era perigoso consumir frango.

E&N – Quais as lições que ficam para o Estado após esse foco de H5N1?

Leães – O Brasil tem um papel a desempenhar, mostrando através do Ministério da Agricultura, que somos sérios e capazes de resolver crises dessa magnitude com bastante celeridade. Os nossos técnicos são bem conceituados, têm certo prestígio. Óbvio que o ideal é que os casos não aconteçam, mas, havendo a denúncia, é importante que informemos rapidamente o prejuízo. Inclusive, dizemos que os países fazem um autoembargo, pois anunciam para o mundo que essa é a situação. Ao mesmo tempo, conseguimos agir rapidamente, impedindo que a doença se espalhasse para outras regiões, reduzindo ao máximo os embargos.

 

Autoridades sanitárias reforçam que situação atual do Estado é de livre da doença

Brasil atuou com biossegurança, presteza e rastreabilidade, destaca Groff


Fernando Groff/Seapi/Divulgação/JC

Desde que o foco de H5N1 foi identificado, os técnicos da Secretaria da Agricultura visitaram mais de 20 propriedades que ficavam no perímetro de 3km do local de ocorrência do surto e mais 540 propriedades que ficam na zona de vigilância, equivalente a mais 7 km de Montenegro. “Naquela região de 10 km ao redor do local onde houve o foco, os médicos-veterinários da Seapi realizaram mais de 2 mil visitas, naqueles dias que se sucederam, após a confirmação do foco”, afirma o chefe da Divisão de Defesa Sanitária Animal da Secretaria da Agricultura (Seapi), médico-veterinário, Fernando Groff.

O especialista reforça que o atual status do Estado é de livre da H5N1, pois não foram registrados mais casos em aves comerciais, desde maio. Um levantamento da Seapi demonstra que, nos últimos dois anos, desde o primeiro caso de investigação sobre a doença em 2023, já houve, no Brasil, 4,3 mil investigações.

“São notificações obrigatórias feitas ao ter a chamada síndrome respiratória nervosa das aves, que também pode ser doença de Newcastle. Foram  178 casos de focos de influenza de alta patogenicidade, sendo que somente um foi em ave comercial, o restante foi ou em ave de subsistência, ou silvestre”, explica o médico-veterinário.

Para Groff, o Brasil atuou com transparência, biossegurança, agilidade e rastreabilidade, pois se sabia exatamente para onde tinham ido os materiais da granja de Montenegro, estabelecimento de aves reprodutoras.

“Sabiam-se exatamente para onde os ovos daquelas matrizes tinham ido e o processo foi feito então de maneira muito rápida e muito transparente, o que dá muita garantia para os outros países”. Para ele, o Brasil só conseguiu ter essa reação porque está, há 20 anos, se preparando para a possível ocorrência de doenças dessa magnitude, estabelecendo protocolos de biosseguridade e de atuação em emergências.

“Esses nossos planos de contingência são muito bem feitos, foram muito discutidos com as universidades, ministério da agricultura, as secretarias, então todo mundo que atuou nesse foco, sabia o que tinha que fazer”, acrescenta Groff.

Na região onde foi registrado o foco, mais de 100 pessoas se envolveram nos trabalhos, desde os técnicos da Seapi, passando por Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, levando água até a propriedade e substâncias desinfetantes para a limpeza do local. “Houve uma mobilização enorme e tudo precisou de coordenação, de gestão e tudo isso estava previsto. Então que a gente conseguiu sair dessa situação”

O médico veterinário, ph. D. e professor Titular de Medicina de Aves da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Favet/UFRGS), Vladimir Pinheiro do Nascimento destaca o papel da universidade como suporte para as ações.

“Aqui na UFRGS, fazemos parte do Comitê Estadual de Sanidade Avícola, que analisa todas essas situações: desde a instalação de uma granja, local, se é uma região de risco para esse tipo de situação, faz todas as análises de risco e das situações que ocorram”, explica. Segundo o especialista, quando ocorre uma situação de foco, a universidade é consultora técnica, opina sobre as medidas a serem implementadas para contenção dos focos. Nascimento reforça que, no caso da H5N1 não existe risco de contágio por parte dos humanos, apesar de a doença ser uma zoonose, ou seja, transmissível dos animais para os humanos.

“Como os produtos são consumidos cozidos, não existe nenhum tipo de risco, pois a temperatura de cocção que é acima de 74 °C inativa o vírus. E esse foco que ocorreu foi em reprodutoras, ou seja, o material produzido por essa granja nunca chegaria ao consumo humano”.

 

Agilidade foi crucial para a contenção da doença

Santos pondera que a enfermidade não se disseminou como em outros países


Asgav/Divulgação/JC

A Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) H5N1 é uma doença altamente contagiosa e que, caso não seja contida imediatamente, se alastra rapidamente. O presidente executivo da Associação de Avicultura do Rio Grande do Sul (Asgav/RS), José Eduardo dos Santos, destacou a capacidade de resposta rápida das autoridades Brasileiras em conter a doença, pois quando fecharam os 28 dias de vazio sanitário, após todo trabalho todo que foi feito de investigação epidemiológica na região, num raio de 10 km, não se detectou nenhum caso positivo.

“A doença não disseminou como aconteceu em países como Estados Unidos, que nos últimos três anos já sacrificou quase 175 milhões de aves. Só no primeiro trimestre de 2025, quase 30 milhões. Então, veja bem qual foi a nossa resposta para esse caso isolado e como conseguimos estancar com celeridade”, avaliou Santos.

Para o dirigente, agora falta rapidez por parte das autoridades para negociar com países que suspenderam a compra de produtos do Brasil para que as restrições sejam definitivamente suspensas. “Já foi feito o comunicado para a Organização Mundial da Saúde Animal sobre o Estado estar livre da doença, então o setor está pedindo ao governo federal que interaja, com os países que mantém embargos para que agilizem o restabelecimento da comercialização dos produtos avícolas do Brasil e do Rio Grande sul, pois o mundo depende muito da proteína animal produzida aqui.

Segundo Santos, o setor avícola brasileiro tem clientes em mais de 100 países. Para o dirigente, daqui para a frente, o foco deve ser em fortalecer a biosseguridade nas propriedades agrícolas, tanto em relação às aves migratórias como na circulação de pessoas que também podem carrear o vírus.

O médico veterinário, ph. D. e professor Titular de Medicina de Aves da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Favet/Ufrgs), Vladimir Pinheiro do Nascimento, relembra que episódios de Influenza Aviária já haviam sido identificados em 2023, em aves silvestres e em algumas de subsistência e o primeiro caso do Brasil em aves comerciais acabou acontecendo dois anos depois do primeiro caso. “Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, essa passagem de ocorrência em silvestre para comerciais levou no máximo 20 dias, o que indica que a biosseguridade tem sido foi colocada à prova e tem funcionado muito bem”, destaca.

Para o especialista, a tendência é de que, mesmo assim, haja um reforço importante em termos de biossegurança, pois “certamente houve algum tipo de falha no local do foco, ou entrou alguma ave silvestre no galpão, ou alguma coisa aconteceu ali”, aponta. A questão da biossegurança no caso específico da Influenza Aviária se concentra em dois pontos: primeiro evitar que o problema entre nos galpões, mas, caso isso ocorra, é preciso evitar que ele saia desses recintos.

“O papel dos médicos-veterinários foi muito importante, pois tiveram que fazer o esvaziamento do local, a disposição das carcaças dos animais que já tinham morrido, o sacrifício dos que sobraram e o enterro de todas elas, e todo esse processo foi feito muito rapidamente e com muita eficiência. Depois disso, foi feita uma desinfecção e foram 28 dias de vazio sanitário posterior”, explica Nascimento.

 

*Ana Esteves é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Atuou como repórter setorista de agronegócios no Jornal do Comércio, Correio do Povo e Revista A Granja. Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer. Também é graduada em Medicina Veterinária pela Ufrgs.

 

Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/08/1215180-apos-20-anos-livre-rs-enfrenta-desafio-com-influenza-aviaria.html

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