A economia brasileira vem apresentando movimentos distintos nos últimos meses, mas com uma tendência comum: a desaceleração. Dados recentes da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostram que a Indústria, após registrar pequenas altas entre fevereiro e abril, voltou a cair em maio (-0,5%) e teve apenas uma recuperação tímida em junho (0,1%). O segmento mais afetado é o de bens de consumo, que não consegue sustentar crescimento.
No Varejo, a situação também é delicada. Depois de uma breve alta em março (0,3%), o setor amargou quedas consecutivas em abril (-0,3%), maio (-0,4%) e junho (-0,1%), resultado de um cenário de inflação persistente e crédito restrito, que limita a capacidade de consumo das famílias.
Em contrapartida, o setor de Serviços mantém-se como motor da economia, com cinco meses consecutivos de crescimento, puxado especialmente por transporte e tecnologia. Junho registrou alta de 0,3%, consolidando o setor como o mais resiliente do período.
Panorama geral: desaceleração à vista
Apesar das diferenças setoriais, o acumulado de 12 meses é superior ao desempenho registrado no ano, apontando que o ritmo de crescimento está diminuindo. O IBC-Br de junho, que mede a atividade econômica, reforça o aviso, com queda de 0,70%, repetindo o recuo de maio.
Segundo análises do Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP, o efeito retardado da política monetária, com juros altos por período prolongado, somado ao aumento da inadimplência e à menor concessão de crédito, deve intensificar os sinais negativos no segundo semestre.
Impactos para empresas e recomendações
O mercado de trabalho segue aquecido, mas tende a ser o último a refletir a desaceleração, em decorrência da rigidez das leis trabalhistas. Para as empresas, isso significa custos crescentes e margens mais estreitas até o fim do ano.
Diante dessa conjuntura, a FecomercioSP recomenda cautela. “O momento exige conservadorismo. As empresas devem evitar grandes investimentos ou gastos adicionais no curto prazo. Só um ajuste fiscal relevante poderia mudar esse quadro, mas essa possibilidade não está no horizonte imediato”, destaca André Sacconato, assessor da Federação.
Análise para o setor produtivo
O retrato atual exige que empresários e gestores avaliem com rigor as estratégias. Frente ao consumo retraído e à Indústria patinando, a aposta nos Serviços pode reduzir parte dos efeitos negativos, mas o caminho será de resiliência e prudência.
“Enquanto não houver sinais claros de recuperação, especialmente no crédito e no consumo, a melhor postura é manter o foco na eficiência operacional, preservar o caixa e adiar projetos de expansão”, complementa Sacconato.
Recomendações práticas para as empresas
1. Preservar o caixa
Evite grandes investimentos ou gastos adicionais no curto prazo. A liquidez será importante para enfrentar meses de retração.
2. Reduzir riscos financeiros
Revise contratos, condições de pagamento e prazos de recebimento. Busque renegociar juros e alongar prazos com fornecedores e bancos.
3. Revisar estoques
Ajuste os níveis de estoque de acordo com a demanda real. O excesso pode imobilizar capital em um momento delicado.
4. Focar em eficiência operacional
Invista em melhorias de processos e digitalização que tragam redução de custos e aumento de produtividade.
5. Apostar no setor de Serviços
Com Indústria e Varejo em retração, os Serviços (especialmente os de tecnologia, transporte e logística) podem ser uma alternativa para manter resultados positivos.
6. Monitorar indicadores econômicos
Acompanhe de perto inflação, juros e crédito. A leitura desses sinais ajuda a antecipar movimentos do mercado.
7. Reter talentos estratégicos
Mesmo com desaceleração, preservar equipes-chave é fundamental para garantir competitividade quando a economia voltar a crescer.