No comércio ampliado, retração foi mais intensa, puxada por material de construção e setor automotivo
A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de junho de 2025, divulgada nesta quarta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou recuo de 0,1% no volume de vendas do varejo restrito frente a maio. O resultado ficou abaixo das expectativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que projetava alta de 0,3%, e do mercado, que estimava crescimento de 0,8%. Este é o terceiro mês seguido de queda, após o indicador atingir, em março, o maior nível da série histórica.
No acumulado de 12 meses, a alta é de 2,7%, abaixo dos 3,3% observados no mesmo período de 2024, sinalizando um desaquecimento gradual depois do avanço robusto do ano passado.
A CNC avalia que, embora a perda de fôlego seja lenta, já é possível identificar impactos do cenário macroeconômico mais restritivo sobre o consumo, especialmente no crédito, que permanece caro e seletivo.
Comércio ampliado tem queda mais acentuada
O comércio varejista ampliado, que inclui as vendas de veículos, motos, partes e peças, além de material de construção, apresentou retração de 2,5% frente a maio e crescimento de 2,0% em 12 meses. O segmento de material de construção recuou 2,6% no mês, enquanto o de veículos, motos, partes e peças caiu 1,8%.
Para a CNC, esses setores são mais sensíveis à alta da taxa básica de juros (Selic), pois envolvem produtos de maior valor e comprometimento da renda, levando famílias a postergar decisões de compra. O custo de crédito, divulgado pelo Banco Central, reforça esse cenário, com taxas elevadas que inibem o consumo de bens duráveis e semiduráveis.
Desempenho por grupos no varejo restrito
Cinco dos oito grupos pesquisados no varejo restrito apresentaram retração em junho. O destaque negativo foi o setor de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação, com queda de 2,7%, um movimento que, segundo o IBGE, pode ser explicado pela base de comparação elevada de maio, quando o segmento cresceu 3%.
O setor de móveis e eletrodomésticos recuou 0,7%, também pressionado pelo encarecimento do crédito. Hipermercados e supermercados, que respondem por quase metade do indicador restrito, registraram queda de 0,5%.
No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ajustado sazonalmente, o grupo alimentação e bebidas subiu 0,15% no mês e acumula alta de 3,45% no ano. Foi o terceiro mês seguido de estabilidade ou queda nas vendas do setor, mas a deflação de 0,16% na alimentação em domicílio registrada em julho pode indicar recuperação na próxima divulgação.
Setores em alta e sinais de reversão
Após três meses de retração, o grupo de combustíveis e lubrificantes apresentou alta de 0,3% em junho. A queda acumulada nos preços dos combustíveis, observada de abril a julho, contribuiu para esse resultado. A Confederação avalia que este cenário deve continuar influenciando positivamente o volume negociado nos próximos meses.
No recorte das importações, a CNC segue monitorando a entrada de produtos chineses no Brasil, especialmente no segmento industrial. A análise é feita a partir dos dados da Comex, com seleção baseada na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), excluindo categorias agropecuárias.
Embora o impacto direto da guerra tarifária entre Estados Unidos e China seja difícil de medir, as oscilações de preços e quantidades de produtos importados já refletem mudanças no ambiente comercial global.
Perspectivas para julho
Para o próximo mês, a CNC projeta crescimento de 0,17% na série do varejo restrito com ajuste sazonal e alta de 1,8% no acumulado de 2025. A expectativa é de que a desaceleração da inflação, especialmente nos preços de alimentos, e a manutenção da tendência positiva em combustíveis possam sustentar uma leve recuperação.
No entanto, a entidade alerta que, sem melhora nas condições de crédito e no ritmo de geração de empregos, o avanço tende a ser limitado.
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