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Confiança do consumidor recua mais de 11% em um ano, apesar de leve alta em junho


Inflação, juros elevados, endividamento e cenário fiscal incerto afetadom diretamente o custo de vida dos paulistanos (Arte: TUTU)

A inflação, os juros elevados, o endividamento e o cenário fiscal incerto têm afetado diretamente o custo de vida dos paulistanos, influenciando a intenção de consumo e a confiança dos consumidores, na capital. De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), em junho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) apresentou retração de 11,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado — completando 11 meses consecutivos de queda —, ao passo que a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 2,2%, no mesmo período. 

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Ainda assim, na variação mensal, a intenção de consumo permaneceu estável (0,9%), enquanto a confiança dos consumidores subiu 1%. Na escala que vai de 0 a 200 pontos — representando, respectivamente, pessimismo e otimismo total —, o ICF registra 105,1 pontos, enquanto o ICC está na casa dos 112,9 pontos.

Quadro macroeconômico ainda afeta famílias

Segundo a FecomercioSP, a recuperação mensal do ICF, após quatro meses consecutivos de queda, e o leve avanço do ICC ainda não são suficientes para sinalizar uma retomada consistente. A retração em comparação com 2024 aponta um contexto econômico desafiador, marcado por incertezas fiscais, inflação persistente — principalmente nos serviços —, juros e endividamento elevados, que limitam a expansão do crédito e freiam o consumo, em especial de bens duráveis. Além disso, a condução da política fiscal expansionista gera dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas, trazendo à tona a necessidade urgente de uma Reforma Administrativa estatal.

Todo esse contexto afeta a percepção e a capacidade de consumo, levando os paulistanos a priorizarem compras essenciais, postergando as de maior valor agregado e optando por marcas mais acessíveis e/ou similares.

Variações dos indicadores da confiança

Dentre as variáveis que compõem o ICF, o item Momento para duráveis foi o que mais se destacou negativamente. Com retração de 13,9% no comparativo anual, o subíndice caiu para 68,6 pontos, refletindo principalmente a combinação de três fatores: demanda parcialmente atendida, encarecimento do crédito e comprometimento da renda com dívidas. O Nível de consumo atual recuou 7,8%, alcançando 82,6 pontos, enquanto a Perspectiva de consumo caiu 6%, atingindo 95,2 pontos. O item Renda atual, por sua vez registrou queda de 3,6%, totalizando 134,4 pontos. 

Contudo, também houve variações positivas entre os subíndices. O item Emprego atual subiu 0,9%, atingindo 133,8 pontos, enquanto Perspectiva profissional registrou alta de 8,6%, alcançando 120,1 pontos. De acordo com a FecomercioSP, esses números refletem um mercado de trabalho mais aquecido, com a taxa de desemprego (para o trimestre encerrado em maio) no menor índice (6,2%) para o para o período desde 2014. Além disso, o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado alcançou um novo recorde, somando 39,8 milhões de pessoas.

Já o Acesso ao crédito teve crescimento de 2,2%, totalizando 101,2 pontos. Dados do Banco Central (BC) mostram que, em maio de 2025, a concessão de crédito às pessoas físicas cresceu 10,6% em 12 meses. Apesar desses sinais positivos, a Federação alerta que é necessário acompanhar os efeitos da taxa Selic — atualmente, em 15% ao ano (a.a.) —, que tende a encarecer o crédito no segundo semestre e impactar a capacidade de endividamento das famílias, bem como a sua efetividade no controle da inflação.

No comparativo mensal, três componentes apresentaram queda: Perspectiva de consumo (-0,5%), Perspectiva profissional (-0,5%) e Emprego atual (-0,2%), refletindo a incerteza quanto ao futuro da economia — com destaques para a ausência de uma Reforma Administrativa, o aumento dos gastos públicos e as dúvidas em torno de uma política fiscal expansionista e uma política monetária contracionista. Renda atual (1,2%), Acesso ao crédito (3,1%) e Nível de consumo atual (1,8%) apresentaram expansões no mês. 

Entre as faixas de renda, a pesquisa revela uma alta mensal de 1% na Intenção de Consumo das Famílias (ICF) no grupo com renda de até dez salários mínimos, embora tenha ocorrido uma queda de 2,5% na comparação com junho de 2024. Já entre os que ganham acima desse valor, o ICF variou 0,4% em relação a maio, recuando 1,4% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Oscilações do consumo

A alta de 1% do ICC em junho foi motivada, principalmente, pelo Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA), que subiu 4,1%, apesar da queda anual de 7,4%. Atualmente, a variável está no patamar de 107,9 pontos, influenciada pela queda no desemprego, pelo aumento no número de trabalhadores com carteira assinada e pela redução da informalidade. Já o Índice de Expectativas do Consumidor (IEC) variou 0,8%, registrando 116,2 pontos. No comparativo anual, porém, a queda foi de 13,3%. 

Na análise por faixa de renda, os consumidores com rendimento de até dez salários mínimos apresentaram alta de 2,5% no ICC, entre maio e junho. No entanto, na comparação anual, houve queda de 11,1%. Entre os que recebem acima desse valor, o índice recuou 1,9%, no mês, e 11,2%, em relação a junho do ano passado. O grupo com mais de 35 anos registrou a maior retração anual, com queda de 13,6%. Entre as mulheres, a confiança do consumidor caiu 1,3%, no mês, e 12,4%, em comparação com o mesmo período de 2024.

Recomendações para os varejistas

A FecomercioSP ressalta que, apesar da retração na intenção de consumo e da confiança na economia, há espaço para crescimento sustentável no varejo por meio de gestão eficiente, inovação e proximidade com o cliente. Estratégias como controle de estoques e custos, promoções focadas em itens essenciais, fidelização, presença digital, uso de dados e planejamento dinâmico são fundamentais. Embora a alta do ICC em junho seja positiva, a recuperação do consumo ainda depende de avanços macroeconômicos — e a capacidade de adaptação será o principal diferencial das empresas.

ICC

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde 1994. Os dados são coletados com aproximadamente 2,1 mil consumidores no município de São Paulo. O objetivo é identificar o sentimento dos consumidores levando em conta suas condições econômicas atuais e suas expectativas quanto à situação econômica futura. Esses dados são segmentados por nível de renda, sexo e idade. O ICC varia de zero (pessimismo total) a 200 (otimismo total). Sua composição, além do índice geral, se apresenta como: Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e Índice das Expectativas do Consumidor (IEC). Os dados da pesquisa servem como um balizador para decisões de investimento e para formação de estoques por parte dos varejistas, bem como para outros tipos de investimento das empresas.

ICF

O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente pela FecomercioSP, desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego Atual; Perspectiva Profissional; Renda Atual; Acesso ao Crédito; Nível de Consumo; Perspectiva de Consumo; e Momento para Duráveis. O índice vai de zero a 200 pontos, sendo que abaixo de cem pontos é considerado insatisfatório, e acima de cem pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente de vendas do comércio, tornando possível — a partir do ponto de vista dos consumidores e não por uso de modelos econométricos — que seja uma ferramenta poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias, assim como para as instituições financeiras.

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Fonte Oficial: https://www.fecomercio.com.br/noticia/confianca-do-consumidor-recua-mais-de-11-em-um-ano-apesar-de-leve-alta-em-junho

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