Se decidiu ler este artigo buscando uma resposta concreta, sugiro procurar outra fonte. Mas não abandone meu texto de estreia neste espaço sem lembrar que apesar de todas as vendas efetivas de Natal, Papai Noel não existe. Sim David Copperfield vive, o mágico, não o personagem de Dickens, e até tornou-se quase bilionário, em dólar, fazendo truques e ilusionismos, mas no fundo você sabe que são artifícios. No seu negócio, sugiro que não tente muitos deles, a tecnologia facilita a fiscalização.
A minha proposta é aproximar esses dois mundos, o empreendedorismo e a psicanálise, mesmo que os benefícios não sejam rápidos e diretos a todos. A psicanálise olha para o que é singular em cada um de nós, e não tem respostas prontas e aceleradas e nem que possam ser replicadas para toda a equipe, ainda que seja fácil aceitar que um time se beneficia muito de um líder atuando próximo de sua capacidade mais plena possível para aquele momento.
Perguntei ao ChatGpt o que Freud diria a um empreendedor. A resposta foi muito boa, pedi para ele encurtar para caber aqui, veja o que acha:
“Você acredita que empreende para construir algo concreto — uma empresa, um produto, um legado. Mas, na verdade, tenta dar forma ao seu desejo, essa força inquieta que nunca se satisfaz. O trabalho é uma forma de sublimação: transformar angústia e pulsão em criação. Sua ambição tem algo de Eros, que constrói, e de Tânatos, que repete e destrói. Atenção aos excessos: por trás da pressa pode haver angústia; por trás do sucesso, uma cobrança sem fim do Supereu. Liderar é também ocupar um lugar simbólico – espelho, pai, promessa. Não se perca no papel. Você lida com o desejo dos outros tanto quanto com o seu. Nunca há garantia de plenitude. Mas se conseguir transformar falta em movimento e criação, terá encontrado um sentido – e vencido, por um instante, o mal-estar de existir.”
– S. Freud, adaptado por ChatGPT.
Peço permissão aos meus colegas psicanalistas para reproduzir essa adaptação da tecnologia. Nem nós nem ninguém pode fingir que a Inteligência Artificial não irá impactar de formas impensáveis, nem por isso desprezíveis, nossas atuações.
OBRA EM EVOLUÇÃO – Para quem não mergulhou na obra de Freud, fica o aviso de que foi uma produção em evolução, ele não teve nenhum pudor em rever o que disse ou escreveu. Isso já não deixa de ser uma enorme sugestão: para que se agarrar ao dito ou pensado se o mundo não para e somos capazes de descobrir sempre algo novo? Assim a questão é que ao ler os conceitos é preciso checar se ele não os reviu depois, outro procedimento que pode ser recomendado sem restrições, principalmente em tempos onde as IAs produzem respostas aos montes e numa velocidade avassaladora, mas nem sempre corretas.
É preciso olhar Freud em seu tempo, mas terei espaço para voltar a essas intersecções. Ele estava imbuído de criar uma nova ciência e teve a coragem de olhar para dentro da espécie com rara bravura. Seus discípulos seguiram debatendo, encarando suas diferenças e lutando por uma não regulamentação como acontece em outras áreas do conhecimento em universidades, mas posso garantir que com muita seriedade, pelo menos em boa parte das instituições.
Quero começar deixando claro que no mínimo há a proximidade de nascença entre a psicanálise e o empreendedorismo. Não temporal. O marco inicial da psicanálise foi a publicação de A Interpretação dos Sonhos, no final de 1899, com data de 1900. Foram 600 exemplares que demoraram oito anos para serem vendidos. O empreendedorismo é 42 anos mais jovem e ganhou força quando o conceito de destruição criativa foi apresentado no livro Capitalismo, Socialismo e Democracia (Joseph Schumpeter), seis anos após a morte de Freud.
Eles são próximos porque Sigmund Freud nasceu em 1856 na cidade de Pribor e Schumpeter, 27 anos depois, em Trest, distantes apenas 256 km uma da outra no então Império Austro-Húngaro e hoje República Tcheca. Ou seja, num mundo onde são necessários mais de 40.000 km para se dar uma volta completa, esses dois conceitos tão fundamentais para o desenvolvimento humano brotaram ou se consolidaram a partir de uma distância que se alguém sair de São Paulo pela Dutra, não chega nem na divisa do Rio de Janeiro.
Quando Schumpeter nasceu Freud estava se debatendo com as questões materiais da vida, dispondo-se a renunciar a uma carreira acadêmica por vislumbrar na clínica médica maiores possibilidades de ganho material e possibilidade de criar uma família. Mas ele tinha algo mais dentro dele. Algum consultor atual pode classificar como propósito, palavra que entrou na moda e como quase tudo que atinge esse status, se banaliza. Freud, quem sou eu para analisá-lo, assumiu uma verdadeira obsessão para viabilizar a psicanálise. E lá se vão 125 anos. Ela já apanhou bastante, vive encontrando inimigos, vê surgir tantas técnicas com promessas sedutoras, já vi até quem jure conseguir conciliar psicanálise e coaching. No mínimo são atividades muito distintas e tenho dificuldades em aceitar que quem é um pode também ser o outro.
Além dessas informações, se você tem um mínimo de curiosidade a respeito de seu funcionamento psíquico, reconhece sua capacidade desejante e que não tem domínio consciente de tudo que te envolve, talvez seja interessante buscar a psicanálise como alternativa de te colocar em contato mais profundo, não necessariamente digestivo consigo mesmo, nesse mundo tão complexo. Pode até mudar a última linha da demonstração de resultado do seu negócio, nunca diretamente.
MARCELO CANDIDO DE MELO
Escritor e psicanalista, é graduado e pós-graduado em administração pela EAESP-SP da FGV. Atuou na área de marketing de grandes empresas nacionais e multinacionais antes de empreender no mercado editorial. Sua editora alcançou bastante sucesso e foi adquirida por uma multinacional. Já escreveu 18 livros em seu nome ou como ghost-writer. Dá atenção especial à produção ficcional. Também já fez roteiro de documentário. Nos últimos anos mergulhou numa formação em psicanálise e desenvolve atividade clínica.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-marcelo-candido-de-melo-como-a-psicanalise-pode-impactar-o-seu-negocio/