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ARTIGO, por Lana Pinheiro: “ESG está morto? Ou só em crise existencial?”

Mal chegou a ser implementada por completo em diversos setores da economia, a agenda ESG (ambiental, social e de governança) parece não fazer mais sentido algum. Os indícios vêm do contexto global. De guerras mais barulhentas como a da Rússia contra a Ucrânia, a de Israel contra palestinos em Gaza, até as que menos repercutem, como a Guerra Sudanesa, o mundo imergiu em um agravamento de situações humanitárias tão violentas que falar em Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) passou a ser uma utopia desconectada da realidade. Além disso, o capitalismo tradicional, mais preocupado com lucros de curto prazo, mostrou-se pouco disposto a mudar sua lógica de investimentos para apoiar soluções sustentáveis. Como resultado, o chamado arrefecimento ESG tem causado uma sensação dúbia.

De um lado, um certo alívio por parte de setores que já enfrentavam dificuldades para captar recursos, implementar melhorias operacionais básicas ou mesmo para manter as portas abertas. Para esses, pensar em ESG significava lidar com novas obrigações, regras, controles e gastos sem uma recompensa clara no curto prazo. De outro, há frustração: se retirados os exageros e o radicalismo de parte da militância ESG, muitas dessas práticas poderiam sim gerar valor, eficiência e reputação positiva para os negócios.

O problema é que, como quase tudo hoje, o ESG foi capturado pelo debate polarizado. Tornou-se rótulo, ideologia. De um lado, ativistas exigindo mudanças drásticas e rápidas rumo a um modelo 100% livre de combustíveis fósseis. De outro, empresas, especialmente as médias e pequenas, acuadas, sem entender como ou por que se adequar. Algumas grandes até incorporaram o discurso, mas muitas vezes mais por conveniência de imagem do que por convicção. Mas a base da economia ficou à margem desse debate.

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Essa desconexão é, de certa forma, lamentável. Práticas bem calibradas de ESG, adaptadas à realidade e porte de cada negócio, podem melhorar a eficiência, atrair novos clientes, reduzir riscos e abrir portas com fornecedores e investidores. E mais do que qualquer narrativa sobre obrigação moral, elas podem ser boas para o bolso. O difícil é comprovar a tese em números, já que nenhuma cifra de um suposto mundo mais inclusivo, responsável ambientalmente e com boas práticas de governança parece ter confiabilidade garantida, pois a metodologia para seu cálculo carece de transparência. 

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, por exemplo, a economia verde deve criar cerca de 25 milhões de novos empregos até 2030 e segundo pesquisa realizada pelo Instituto AYA, a mesma economia verde deverá incrementar mais de US$ 430 bilhões ao PIB do Brasil até 2030. No cenário global, o Boston Consulting Group (BCG) estima que a transição para uma economia verde global pode gerar um crescimento de até US$ 11 trilhões no PIB mundial até 2040. 

Os números superlativos geram desconfiança, mas alguns casos práticos ainda que de baixa escala mostram que algumas iniciativas são capazes de mudar um pouco da realidade da sociedade e dos negócios para melhor. No Pará, a Votorantim passou a incluir o caroço de açaí na sua matriz de matéria-prima para produção de energia, deixando o estoque de coque de petróleo de lado em um galpão da fábrica. Em material sobre a iniciativa, a empresa afirma que o processamento de 6,5 mil toneladas de caroço por mês gerou uma economia de R$ 500 mil mensais. 

Redes varejistas que investem em diversidade nas equipes de vendas relatam aumento na satisfação dos clientes e no tíquete médio. Restaurantes e hotéis que adotaram práticas de reaproveitamento de alimentos conseguiram reduzir custos e ainda se destacar em avaliações de consumidores preocupados com o desperdício. Empresas de logística que optaram por frotas mais eficientes e menos poluentes reportam ganhos em produtividade e acesso a novos mercados.

A verdade é que o ESG não está morto, ele está passando por uma transformação. Longe do discurso impositivo e do engessamento ideológico, o futuro do ESG está na adaptação prática e estratégica às realidades do dia a dia dos negócios. Não se trata de salvar o planeta sozinho e até 2030, mas de fazer escolhas mais inteligentes, alinhadas com os novos valores de consumo, com o bem-estar coletivo e com a própria sobrevivência econômica. Porque no fim, investir em ESG não é sobre ideologia, é sobre oportunidade. E quem enxergar isso, especialmente no comércio e no setor produtivo, pode colher bons frutos.

LANA PINHEIRO
Formada em jornalismo pelo Uniceub e em publicidade e propaganda pela ESPM, tem MBA em Liderança e Gestão de Pessoas pela FGV e é especializada em ESG. Com 30 anos de experiência, atualmente ocupa o cargo de chefe de gabinete da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).

Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-lana-pinheiro-esg-esta-morto-ou-so-em-crise-existencial/

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