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ARTIGO, por Silvia Belluzzo: “Engole o choro e segue a viagem”

“Mamãe, você achou o estojo?” Dessa vez, não. Hoje a mamãe falou sobre inovação, eficiência em marketing e alinhou KPIs com lideranças globais. Toda vez que viajo a trabalho, algo em mim fica. Não importa o quanto eu ame o que faço, ou o quanto me orgulhe das vivências que o trabalho me proporciona. A culpa embarca comigo. Ela vai ao assento ao lado, silenciosa. E se eu negociar? Comigo mesma, com minha filha, com o tempo. Só não negocio que sou movida pela ideia de ir — e também de voltar.

As soluções são sempre lúdicas. “Vamos fazer um calendário para contar os dias até eu voltar?” Ou a velha compensação: “Nessa viagem, a mamãe vai trazer o estojo mais legal de todos.” Ser mãe e trabalhar é uma equação possível, mas nunca simples.

Nos disseram que podíamos ter tudo. Mas esqueceram de nos ensinar como conviver com essa companheira que, mesmo silenciosa, acende a luz enquanto buscamos um equilíbrio que não existe. Entre tapas, apresentações, vinhos e alinhamentos intensos com lideranças globais da empresa, em Barcelona, eu sigo.

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Antes de embarcar, troquei mensagens com uma das muitas amigas que vivem diariamente o mesmo dilema. Sempre buscamos umas nas outras as razões para permanecer, para seguir em movimento. A gente só engoliu o choro até então. Sabemos da nossa potência, sabemos que é possível ser mãe e trabalhar. Mas a culpa nos atravessa — nos torna vulneráveis, humanas.

Eu, que tenho rede de apoio, um parceiro presente, flexibilidade e consciência do meu privilégio, sei que muitas não têm. E é justamente por isso que sigo. Porque posso. Porque quero abrir caminho. Talvez você, como eu, tenha tido uma mãe que disse “Você não desiste. Já basta eu ter feito isso.” Porque quando uma mulher se movimenta, tantas outras se permitem também.

“Filha, acho que achei o estojo.” Fiz uma videocall feliz, pronta para mostrar e celebrar. Depois de avaliarmos que ele não cabia as canetinhas, lápis de cor e grafites, veio o choro. Doído, solto, repetitivo. “Eu quero você, mamãe. Eu quero você.” Sim, engoli o choro no meio da rua, tentando acalmar uma filha que não queria estojo nenhum — queria a mãe.

E foi ali, sentada na calçada, que eu me lembrei do porquê sigo. Por ela. Por mim. Pelas que vieram antes. E por tantas que virão depois. Esse texto não é um pedido de desculpas. É um lembrete: a dor e a força podem coexistir. A culpa não nos define — o que fazemos com ela, sim.

Hoje, ao entrar no trem rumo a Madri, leio a mensagem de outra amiga, líder inspiradora, que esqueceu a atividade de Páscoa, dirigiu o mais rápido que pode no caminho até a escola. Nós, mães que trabalham, que viajam, que lideram, que choram — não vamos parar. Vamos furar os sinais vermelhos, quando preciso, porque há muito em jogo. E, porque, no fundo, sabemos que carregamos umas às outras quando decidimos seguir viagem nesse trem.

SILVIA BELLUZZO
Formada em comunicação social pela Universidade Federal Fluminense, em marketing pela Coppead UFRJ e em marketing digital pela Columbia Business School. Atualmente ocupa o cargo de Diretora de Marketing no TikTok América Latina.

Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-silvia-belluzzo-engole-o-choro-e-segue-a-viagem/

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