Os setores de Comércio e de Serviços podem sofrer consequência dupla com a alta dos juros (Arte: TUTU)
Dados recentes do Banco Central (Bacen) indicam que, em 2024, foram concedidos mais de R$ 3,215 trilhões em novos empréstimos para empresas, um crescimento nominal de mais de 17% em comparação com o mesmo período de 2023. Cerca de 92% dessa cifra refere-se a linhas de crédito de recursos livres, das quais as modalidades com maior participação foram as de desconto de duplicatas e recebíveis, antecipação de faturas de cartão de crédito e linhas destinadas a recompor o capital de giro das empresas.
O avanço do crédito desempenha um papel fundamental no crescimento econômico do Brasil. Por um lado, atua como um suporte para o consumo dos indivíduos em períodos de dificuldade financeira e contribui para o aumento da renda disponível, facilitando a aquisição de bens e serviços, especialmente os de maior valor agregado. Por outro, no caso das pessoas jurídicas, o crédito é essencial não apenas para complementar o caixa e manter o capital de giro, mas também para viabilizar a criação, o desenvolvimento e a expansão dos negócios, especialmente para empreendedores que não dispõem de recursos próprios suficientes para alcançar seus objetivos.
Entretanto, mesmo com a melhora geral em 2024, um olhar mais atento para as modalidades de crédito revela sinais de alerta. Embora o índice geral de inadimplência das empresas tenha caído para 2,04% — o menor desde fevereiro de 2023 —, algumas linhas específicas apresentam taxas preocupantes: o capital de giro rotativo, por exemplo, registrou uma inadimplência de 5,17%, enquanto o cartão de crédito rotativo atingiu alarmantes 32,35%.
A apreensão tem base, pois o crescimento do crédito concedido e a inadimplência das empresas geralmente são acompanhados por uma alta no custo do crédito para os empreendedores. Com a alta da taxa básica de juros (Selic), que já atingiu 13,25% ao ano, com projeções de chegar a 15% até o fim de 2025, o custo do crédito disparou, e isso tem afetado empresários de diversos setores.
Juros mais altos atingem empresas e consumidores
A alta da Selic inflacionou o custo do crédito para as empresas, e os dados do Bacen mostram claramente essa tendência. A taxa média mensal das operações de crédito para pessoas jurídicas chegou a 1,50% ao mês em dezembro de 2024, o maior percentual desde janeiro daquele ano. Quando se analisa o crédito de recursos livres — principal fonte de financiamento para empresas —, a taxa foi ainda maior: 1,68% ao mês.
Gráfico 1: Evolução da Taxa Básica de Juros — Selic (% a.a.)
Modalidades de crédito específicas também sofreram forte elevação nos juros:
Desconto de duplicatas e recebíveis: 1,33% ao mês, maior desde abril de 2024;
Antecipação de faturas de cartão de crédito: 1,12% ao mês, maior desde outubro de 2023;
Capital de giro com prazo superior a 365 dias: 1,80% ao mês, maior desde fevereiro de 2023;
Capital de giro rotativo: 2,52% ao mês, maior desde janeiro de 2023;
Cartão de crédito parcelado: 7,74% ao mês, maior desde junho de 2024.
Tabela 1: Taxa mensal de juros para pessoas jurídicas em dezembro de 2024 — Brasil (%)
Em um cenário de crédito mais caro, muitos empresários enfrentam dificuldades para expandir seus negócios, ou até mesmo para manter operações diárias, pois o encarecimento das linhas de capital de giro pressiona os custos e reduz a margem de lucro.
Setores de Comércio e de Serviços são os mais afetados
Os setores de Comércio e de Serviços podem sofrer consequência dupla com a alta dos juros. Primeiro, porque suas próprias linhas de financiamento ficaram mais caras, o que reduz a capacidade de investimento para expansão e modernização dos negócios. Além disso, o encarecimento do crédito para consumidores finais compromete a demanda. Com mais dificuldades para obter empréstimos e taxas elevadas de financiamentos, os clientes tendem a reduzir o consumo, o que afeta diretamente as receitas das empresas. Em outras palavras, juros mais altos significam operação mais cara e demanda do cliente final mais fraca.
O cenário agrava-se para micro e pequenas empresas, que já enfrentam desafios na obtenção de crédito devido a avaliações de risco mais rígidas e à falta de garantias. Sem acesso a financiamento em condições competitivas, muitas podem enfrentar problemas de liquidez, e até mesmo risco de fechamento, aumentando a pressão sobre o mercado de trabalho e a economia como um todo.
Perspectivas para 2025
O avanço recente da Selic, impulsionado pela necessidade de controle inflacionário, deve continuar pressionando o custo do crédito ao longo de 2025.
Caso a taxa de juros continue aumentando, o Brasil pode enfrentar um período de menor crescimento, dificultando a recuperação de setores que ainda tentam se estabilizar após a turbulência dos últimos anos.
Enquanto isso, empresários precisam redobrar os cuidados ao buscar financiamentos. Planejamento financeiro estratégico, otimização de custos e negociação de melhores condições de crédito são ferramentas essenciais para atravessar um período de juros elevados sem comprometer a saúde financeira dos negócios. Confira as recomendações da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) aqui!
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Fonte Oficial: https://www.fecomercio.com.br/noticia/sinais-de-alerta-a-tomada-de-credito-pelas-empresas