in

Viajando nos dados, por Mariana Aldrigui – FecomercioSP

Especialista diz que o melhor está em revisar as fontes de informação, descartar verdades antigas e, quem sabe, começar a escolher melhores líderes em todas as escalas, comprometidos com resultados 
(Arte: TUTU)

Recentemente, o jornal inglês The Guardian publicou um artigo de Tim Harford sobre nossa relação com dados e sentimentos. A chamada do texto já é em si bastante interessante – “a pandemia nos mostrou que a falta de estatísticas robustas pode ser perigosa Mas mesmo com as mais firmes evidências, nós tendemos a ignorar os fatos que nos desagradam”. Nem preciso registrar aqui os diferentes exemplos de falas que negavam os dados ou as previsões… basta sugerir que todos nós, em março, acreditávamos que estaríamos “de volta ao normal” em no máximo dois meses.

Harford afirma que, “quando se trata de interpretar o mundo ao nosso redor. temos que entender que nossos sentimentos se sobrepõem à nossa experiência. Isso explica o fato de comprarmos coisas de que não precisamos, escolhermos os parceiros românticos errados, ou votarmos em políticos que traem nossa confiança. Em especial, isso explica porque nós frequentemente aceitamos dados e afirmações estatísticas que seriam desmentidas por alguns segundos de reflexão Muitas vezes, nós queremos ser enganados”. De fato, se alguma “notícia” valida algo que acreditamos, desprezamos as falhas ou incoerências e simplesmente passamos a compartilhá-la, da mesma forma que se aparece uma “notícia” evidenciando algo que nos desagrada, tendemos a rotulá-la, atualmente, como fake news.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Fique por dentro de outras notícias do setor:
Como o brasileiro vai viajar a partir de agora? Reveja o webinário e conheça as expectativas dos turistas
Turismo perde metade do faturamento em julho ainda sob os reflexos da pandemia de covid-19
Descubra as novas estratégias para o turismo atrair clientes durante a pandemia; ouça

Naturalmente, Harford não estava falando de Turismo, e sequer deve se preocupar com Turismo brasileiro. Porém, suas afirmações e ponderações são perfeitas para subsidiar as necessárias discussões que evitamos ter – quando é que teremos dados confiáveis e, mais ainda, quando é que passaremos a ser coadjuvantes na geração destes dados confiáveis?

A pandemia escancarou uma série de questões em todas as esferas, e muitos de nós precisamos escolher quais dos pratinhos manter girando – foi necessário tomar atitudes rápidas para preservar a saúde física de nós mesmos e de nossos familiares, preservar empregos e empresas; desenvolver novas competências para seguir em contato com clientes, ampliando o contato com a tecnologia, atualizando repertório, pensando em auto desenvolvimento. Em muitos casos, buscar reconstruir o papel associativo, verificar quem tinha voz ativa para representar os interesses, redigir e-mails, fazer ofícios, demandar, sentar e… esperar.

Enquanto uma entidade como a CNC indica que o setor teve um prejuízo de, pelo menos, R$ 150 bilhões, o Ministério do Turismo acena com R$ 5 bilhões em recursos que serão disputados mediante uma “certa’ burocracia. Algo como 30 vezes menos que o necessário. Mas nosso lado que ignora os dados nos leva a celebrar e aplaudir o empenho. “Afinal, antes pouco do que nada”, digam alguns…

Uma pessoa em posto de autoridade pública celebrou – ‘estamos a quase 60% do que fazíamos no ano passado” e gerou manchetes, e aplausos de sua claque constante – ignorando o fato de que a imensa maioria das viagens realizadas agora demanda menos dos agentes e operadores e, infelizmente, remuneram muito menos.

A recuperação do setor será longa, demorada, e vai deixar muita gente pelo caminho, por mais que se evite falar no assunto. Seguiremos celebrando dados positivos, maquiados, torturados até para fazerem caber nossas ideias e esperanças, quando na verdade o melhor será estarmos mais preocupados em revisar nossas fontes de informação, descartar verdades antigas (ainda que confortáveis) e, quem sabe, começar a escolher melhores líderes em todas as escalas, comprometidos não apenas com discursos ou votos, mas com resultados que impliquem na indicação de caminhos trilháveis, alternativas possíveis para o restabelecimento do segmento que depende demais de um país com pessoas saudáveis, com economia aquecida, e atrativos preservados.

*Mariana Aldrigui é Presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado na revista Panrotas em setembro de 2020.

Clique aqui e saiba mais sobre Conselho de Turismo.

Fonte Oficial: FecomercioSP

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Campo Tupi chegou a 2 bilhões de barris de óleo equivalente em julho

Taxa média de juros para famílias cai, diz Banco Central