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A postergação do acordo Mercosul–UE e seus custos estratégicos para o Brasil


Postergação limita a inserção estratégica do Brasil nas cadeias globais de valor

Por Rubens Medrano*

A postergação por parte do lado europeu é um episódio que transcende a esfera comercial. Em um sistema internacional pressionado pela polarização sino-americana e pelas incertezas de novas diretrizes em Washington — a consolidação desta parceria é de suma relevância para integrar o Brasil como um protagonista nas cadeias globais de valor.

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A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), fiel à sua trajetória de defesa por uma abertura comercial criteriosa e responsável, observa com preocupação o fato de que após duas décadas de esforços diplomáticos, as negociações tenham encontrado resistências domésticas de alguns membros europeus. É lamentável que pressões setoriais localizadas ainda prevaleçam sobre uma visão de estado moderna, mantendo vivo um protecionismo que se mostra anacrônico diante dos benefícios que o acordo trará para o desenvolvimento do Bloco Econômico.

Os números não deixam margem para dúvidas sobre a relevância dessa relação: a União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com um intercâmbio que atingiu a marca de US$ 95 bilhões em 2024, abarcando uma população de mais de 700 milhões de pessoas, e responsável por metade do investimento direto externo em nosso solo. O acordo não representa, por sua vez, uma via para o escoamento de produtos, mas um catalisador de produtividade, inovação e redução de custos operacionais para as empresas brasileiras.

“Ao adiar o acordo com o Mercosul, a Europa não apenas fecha portas ao Brasil — compromete sua própria relevância em um mundo cada vez mais multipolar.”

O distanciamento de certos governos europeus dessa convergência econômica contrasta com as lições da história recente. Enquanto economias dinâmicas buscam a eficiência por meio da integração, o retorno a barreiras tarifárias e barreiras não-tarifárias costuma punir o próprio consumidor e diminuir a competitividade industrial.

O tratado vislumbra um horizonte ambicioso: a desoneração de 90% dos produtos em um ciclo de 15 anos. Do agronegócio de precisão à manufatura de alto valor agregado, os benefícios serão mútuos e profundos. O sucesso das negociações do acordo Mercosul-EFTA prova que, quando há pragmatismo e vontade política, o acordo pode caminhar e evoluir sem percalços.

Em suma, a FecomercioSP reitera que o Estado Brasileiro cumpriu seu papel nesta etapa de integração internacional. A persistência de visões protecionistas na Europa não apenas priva o Mercosul de oportunidades valiosas, mas também ameaça a relevância política e econômica da própria União Europeia em um mundo cada vez mais multipolar. A esperança é que a Europa consiga contornar em curto prazo as dificuldades que deram causa a postergação, a fim de que o processo de assinatura seja concluído definitivamente.

O Brasil demonstra prontidão e comprometimento com a promoção diplomática para o futuro, cabendo aos nossos parceiros europeus decidirem se preferem o isolamento ou as vantagens da parceira.

*Rubens Medrano é presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Fonte Oficial: https://www.fecomercio.com.br/noticia/a-postergacao-do-acordo-mercosulue-e-seus-custos-estrategicos-para-o-brasil

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