Impulsionado pelo desempenho de supermercados e lojas de roupas, o varejo paulista deve crescer 5% em 2025 na comparação ao ano passado, afirma a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Apesar de positivo, o número sinaliza desaceleração do ritmo de vendas, em consonância com o desempenho da economia brasileira, sobretudo neste segundo semestre. Em 2024, as receitas do setor cresceram 9,3%, alcançando o faturamento bruto mais alto da série histórica (R$ 1,42 trilhão) até então.
Para a Federação, essa projeção é resultado de uma conjuntura complexa, marcada por elementos positivos e, da mesma forma, por desafios relevantes com os quais o País deverá lidar no ano que se aproxima.
[TABELA 1]
Projeção de faturamento anual do varejo de São Paulo (2025)
Fonte: FecomercioSP
|
Atividade |
Faturamento de 2025 |
25/24 (%) |
Part. (%) |
Contr. (em p.p) |
|
Autopeças e acessórios |
45.736 |
5% |
3,0% |
0,1 |
|
Concessionárias de veículos |
171.676 |
4% |
11,1% |
0,4 |
|
Farmácias e perfumarias |
148.642 |
6% |
9,6% |
0,6 |
|
Eletrodomésticos, eletrônicos e L.D. |
97.120 |
4% |
6,3% |
0,2 |
|
Materiais de construção |
120.658 |
1% |
7,8% |
0,1 |
|
Lojas de móveis e decoração |
19.623 |
-2% |
1,3% |
0,0 |
|
Lojas de vestuário, tecidos e calçados |
124.511 |
10% |
8,1% |
0,8 |
|
Supermercados |
531.354 |
5% |
34,4% |
1,8 |
|
Outras atividades |
285.099 |
4% |
18,5% |
0,8 |
|
Total |
1.544.419 |
5% |
100% |
5 |
Dentre os aspectos positivos, destacam-se, sobretudo, um mercado de trabalho aquecido (o desemprego estava em 5,4% no trimestre encerrado em outubro, segundo o IBGE), que mantém as famílias consumindo e impacta a renda média (o Ipea aponta que rendimentos do trabalho cresceram 4% no terceiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2024). É a dinâmica que fará o Brasil cumprir as expectativas de crescimento do produto Interno Bruto (PIB) deste ano, entre 2% e 2,5%.
Além disso, a inflação começou uma curva de queda a partir do início do segundo semestre, embora ainda permaneça acima do teto da meta (4,5%), estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O IPCA acumulado dos últimos 12 meses até outubro ficou em 4,68%.
Outro fator de desestímulo às vendas, principalmente de bens duráveis, são os juros muito altos: A Selic está em 15% ao ano (a.a.), o maior nível dos últimos 20 anos, posicionando o Brasil na segunda posição no ranking de maiores taxas de juros reais (descontando a inflação) do mundo (9,74%), abaixo apenas da Turquia (17,8%).
Ademais, as incertezas fiscais aumentam riscos do ambiente de negócios. O fato de não haver um plano de corte de gastos robusto, além dos frequentes questionamentos de membros do governo e aliados sobre a redução da taxa de juros, traz muita volatilidade aos mercados, pressionando o câmbio e mantendo a expectativa de inflação em alta e adiando o início do ciclo de queda dos juros.
Soma-se a isso a desaceleração da atividade, principalmente da Indústria. Há a projeção de que o setor cresça apenas 1% em 2025, após expandir 3,1% no ano passado.
Marcas da desaceleração
Os dados da FecomercioSP mostram como o País viveu semestres diferentes neste 2025. Nos primeiros três meses, o varejo paulista cresceu 9%, estimulado pelas lojas de roupas e, sobretudo, pelas vendas de automóveis.
No trimestre seguinte, confirmando a fase positiva, o setor expandiu 7%, dessa vez com um salto dos supermercados [tabela 2] e a manutenção do vestuário.
No terceiro trimestre, porém, as lojas de móveis retraíram 7%, enquanto peças de veículos, que estavam em alta expressiva nos meses anteriores, caíram 1%. O desempenho do setor desacelerou para 2%, taxa que deve se manter, agora, entre outubro e dezembro, mantendo resultado anual abaixo do registrado no ano passado.
[TABELA 2]
Faturamento trimestral do varejo de São Paulo (2025)
Comparações anuais
Fonte: FecomercioSP
|
Atividade |
1º tri (25) |
2º tri (25) |
3º tri (25) |
4º tri (25) |
|
Autopeças e acessórios |
14% |
8% |
-1% |
1% |
|
Concessionárias de veículos |
11% |
2% |
4% |
-1% |
|
Farmácias e perfumarias |
9% |
7% |
6% |
3% |
|
Eletrodomésticos, eletrônicos e L.D. |
9% |
9% |
0% |
-1% |
|
Materiais de construção |
8% |
3% |
-2% |
-2% |
|
Lojas de móveis e decoração |
4% |
0% |
-7% |
-4% |
|
Lojas de vestuário, tecidos e calçados |
15% |
16% |
4% |
8% |
|
Supermercados |
6% |
8% |
3% |
4% |
|
Outras atividades |
10% |
7% |
-1% |
1% |
|
Total do comércio varejista |
9% |
7% |
2% |
2% |
Segmentos beneficiados pela renda
A elevação de 5% do varejo será puxada, principalmente, pela sustentação da demanda das famílias ao longo deste ano. A atividades que comercializam itens essenciais, como as farmácias e perfumarias (6%) e supermercados (5%), se destacaram positivamente.
É intrigante como segmentos mais sensíveis à disponibilidade do crédito, como eletrodomésticos e eletrônicos, móveis e decoração e até mesmo materiais de construção obtiveram crescimentos mais modestos, quando não retraíram suas receitas de um ano para o outro. São efeitos mais evidentes dos juros altos.
Isso se vê, em parte, nos dados já consolidados pela Entidade para o intervalo entre janeiro e setembro, nos quais as lojas de vestuário e acessórios foram os que apresentaram maior crescimento (11%) no acumulado do ano, seguidas por autopeças, eletrônicos e supermercados, com elevações de 6% no período.