O ambiente econômico brasileiro vive um período de contrastes: enquanto setores estratégicos enfrentam limitações estruturais, o Turismo — sobretudo o corporativo — mantém trajetória de expansão. Esse foi o eixo central da análise apresentada pelo presidente do Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Guilherme Dietze, durante o tradicional café da manhã entre conselheiros e mantenedores da Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev), realizado nesta quarta-feira (3), no Palácio Tangará, em São Paulo.
Convidado como palestrante especial, Dietze apresentou projeções para 2025 e 2026 e detalhou os elementos que devem orientar o planejamento de empresas e lideranças do setor. O evento reuniu lideranças estratégicas da Alagev, conselheiros e mantenedores em um espaço de diálogo e atualização sobre tendências econômicas e perspectivas para o setor de viagens corporativas.
Crescimento limitado
Logo no início, Dietze destacou que a economia brasileira avança em ritmo inferior ao dos principais mercados globais. As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional — 2,6% em 2025, 1,8% em 2026 e 1,9% em 2027 — ficam abaixo da média mundial projetada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). “O País cresce, mas cresce menos que nossos pares. Isso reduz competitividade, dificulta investimentos e exige atenção redobrada de quem toma decisões estratégicas”, afirmou. A combinação de taxa de juros elevada, crédito restrito e consumo comprimido compõe uma situação que limita a expansão de negócios.
Pressão fiscal
Ao abordar o quadro fiscal, Dietze apresentou dados que mostram deterioração nas contas públicas e aceleração da dívida. Mesmo com recordes sucessivos de arrecadação, o governo deve encerrar o ano com déficit próximo de R$ 41 bilhões. A dívida bruta, que representava cerca de 60% do PIB em 2015, está, hoje, próxima de 80%. “É o que chamo de estado febril. O País não vai quebrar, mas opera com mal-estar constante. Sem medidas de ajuste, como controle de gastos e melhora do resultado primário, esse quadro tende a se agravar”, analisou.
Dietze também apontou possíveis impactos da Reforma Tributária — especialmente para os Serviços e o Turismo, segmentos intensivos em mão de obra e menos beneficiados pelo sistema de créditos — e comentou os efeitos da tributação de dividendos, que pode estimular reorganizações societárias e mudanças no comportamento corporativo. Sobre o cenário eleitoral de 2026, avaliou que não deve haver sobressaltos. “Já conhecemos os candidatos e seus perfis. Isso reduz o temor de mudanças abruptas e evita volatilidade exagerada no câmbio ou nos fluxos de capital”, disse.
Turismo em alta
Apesar do quadro macroeconômico mais duro, o Turismo segue em curva ascendente. O volume de passageiros no País atingiu recordes históricos em 2024 e 2025, e o setor mantém demanda firme mesmo diante da queda do câmbio e do preço do querosene de aviação. O movimento pressiona tarifas e reduz espaço para negociações no mercado corporativo. “Temos uma demanda muito forte e uma oferta limitada. Isso vale para passagens, hotelaria e eventos. O resultado financeiro das empresas do setor deve continuar positivo justamente pela pressão da demanda”, explicou.
A hotelaria reforça essa conjuntura: a taxa de ocupação média passou de 60% para 61% e a diária média subiu de R$ 380 para R$ 420 — aumento real após descontar a inflação. No mercado de viagens corporativas, o levantamento da FecomercioSP aponta R$ 106 bilhões em gastos de janeiro a setembro, o maior volume da série histórica.
Projeções 2026
Para 2025, a FecomercioSP projeta crescimento real de 6,5% no setor de viagens corporativas, alcançando R$ 136,3 bilhões. Em 2026, o avanço esperado é de 6%, chegando a R$ 153 bilhões. “O Turismo destoa da economia. Enquanto outros setores enfrentam travas, o nosso segue quebrando recordes”, destacou Dietze.
Dentre os desafios para o ano que vem, o presidente do conselho citou a escassez de espaços para eventos — já com calendário praticamente esgotado em São Paulo —, o impacto dos feriados prolongados para a produtividade corporativa e a manutenção de preços elevados em razão da oferta limitada. Por outro lado, o calendário da Copa do Mundo deve gerar ativações e impulsionar viagens de incentivo, amenizando parte das restrições.
Ao encerrar a apresentação, Dietze reforçou a importância da cooperação entre entidades e dos dados qualificados para orientar decisões. “Nosso papel é munir o setor com informação precisa para atravessar um ambiente desafiador sem perder capacidade de crescimento. O Turismo brasileiro é resiliente e continuará avançando”, concluiu.
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Fonte Oficial: https://www.fecomercio.com.br/noticia/fecomerciosp-projeta-cenario-economico-desafiador-para-o-turismo-de-negocios-em-2026