O Internacional, de Porto Alegre, viveu, com seus dois últimos treinadores, episódios que expõem contradições entre a imagem institucional do clube e declarações de seus comandantes.
Ramón Díaz (ex-treinador), em entrevista, fez comentário misógino ao questionar a presença de uma árbitra no VAR. Abel Braga (atual treinador), logo em sua entrevista coletiva de apresentação, proferiu fala homofóbica, posteriormente alvo de ação no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
No atual momento do futebol, comportamentos como esses não são mais aceitáveis institucionalmente. Clubes precisam se posicionar de forma clara em relação a temas de inclusão e diversidade.
PASSADO – O Internacional, apelidado de Clube do Povo, tem uma história marcada pela abertura a camadas populares e pela luta contra o racismo. Esse passado contrasta com declarações que atingem grupos oprimidos e fragilizam a imagem construída ao longo de décadas.
Você pode até pensar que tais falas apenas reproduzem preconceitos arraigados na sociedade. Mas o clube deve preparar melhor seus profissionais, transmitir seus valores e evitar arranhar a imagem institucional com episódios como esses, já que conversam com amplas comunidades. Declarações como essas são as mesmas que justificam violência contra as mulheres e a comunidade LGBTQIAPN+.
Falando de negócios, patrocinadores tendem a se afastar de instituições associadas a discursos discriminatórios. Uma empresa, quando procura um clube para patrocinar, busca conectar sua marca a valores históricos daquela instituição esportiva.
Falas como as de Ramón Díaz e Abel Braga também são ótima oportunidade para os rivais se posicionarem. Em um cenário de hiperconcorrência como o do futebol brasileiro é uma chance que não dá para perder.
O Ceará, que seria o próximo adversário do Inter no Campeonato Brasileiro, promoveu ingressos gratuitos para mulheres após a fala de Ramón Díaz.
Já o Grêmio, principal rival do Inter no Rio Grande do Sul, lançou ações voltadas ao público feminino e, mais recentemente, promoveu a venda de sua camisa rosa em resposta à fala de Abel Braga. Essas iniciativas reforçam a percepção de que inclusão pode ser transformada em vantagem competitiva.
CONTRADIÇÃO – O Internacional, que construiu sua identidade como Clube do Povo, precisa avaliar como discursos de seus treinadores impactam não apenas a reputação esportiva, mas também o ambiente de negócios.
Em um cenário em que diversidade e inclusão são valores centrais para patrocinadores e público, falas discriminatórias representam não apenas retrocesso, mas também perda de oportunidades estratégicas.
ADALBERTO LEISTER FILHO
Diretor de conteúdo da Máquina do Esporte, professor de pós-graduação na Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), palestrante e autor de livros. É especialista em marketing esportivo e comunicação estratégica, com passagens por grandes veículos como Folha de S.Paulo, O Globo, Record, CNN Brasil e UOL. Atuou na liderança de equipes e na cobertura de eventos internacionais. Formado em Jornalismo e mestre em História pela USP.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-adalberto-leister-filho-inter-rs-se-afunda-em-misoginia-e-homofobia-de-treinadores/