Em um ambiente financeiro marcado por juros elevados, digitalização acelerada e crescente competição de fintechs, João Batista Loredo de Souza, CEO da Unicred Porto Alegre, enxerga no cooperativismo não apenas um modelo de negócio, mas um instrumento de transformação econômica e social. Porta-voz institucional da cooperativa, Batista conduz uma estratégia que combina gestão sustentável, proximidade com o cooperado e visão de futuro — pilares que têm consolidado a Unicred Porto Alegre como referência no atendimento ao setor da saúde.
Sob sua liderança, a cooperativa expandiu sua presença física para 33 agências, alcançando novas praças como o Rio de Janeiro e o litoral gaúcho, ao mesmo tempo em que acelera a transformação digital e fortalece o relacionamento humano que sustenta o modelo cooperativo. Iniciativas como o Uni4Life, voltado à conexão com estudantes e jovens médicos, simbolizam essa aposta na formação de novas gerações dentro da cultura cooperativa.
Em entrevista exclusiva, Batista fala sobre o papel do crédito no desenvolvimento regional, os diferenciais do modelo cooperativo diante da concorrência dos bancos digitais, o equilíbrio entre tecnologia e relacionamento humano e as prioridades da Unicred Porto Alegre para os próximos anos — entre elas, consolidar-se como a principal instituição financeira cooperativa voltada à saúde no País.
Empresas & Negócios – O mercado de crédito no Brasil atravessa um cenário de juros ainda elevados, competição crescente de bancos digitais e fintechs, e, ao mesmo tempo, uma demanda enorme por investimentos em setores estratégicos como, por exemplo, a saúde. Onde o senhor enxerga espaço para crescer nesse ambiente tão desafiador?
João Batista Loredo de Souza – O crédito segue sendo o motor da economia, mas quem opera de forma tradicional enfrenta um dilema, que é escalar de modo digital com pouca personalização, ou manter um relacionamento físico com alto custo. O cooperativismo rompe esse binarismo porque entrega proximidade com eficiência. No caso da saúde, isso significa compreender a lógica de funcionamento de uma clínica, a sazonalidade de consultórios e a necessidade de capital de hospitais e Cooperativas médicas. O crédito contextualizado é o que gera valor real. Esse espaço, que bancos e fintechs têm dificuldade de ocupar, é onde o cooperativismo cresce de forma consistente. Há uma grande oportunidade em atender nichos profissionais com alto grau de especialização, mas que ainda demandam relacionamento humano e segurança no processo de decisão financeira.
E&N – Nos últimos anos, o cooperativismo de crédito tem crescido acima da média do sistema financeiro. O que explica essa tração e como a Unicred Porto Alegre vem se posicionando?
Batista – A força do cooperativismo está no alinhamento de interesses: o associado é, ao mesmo tempo, cliente e dono. Isso cria um ciclo de confiança, fidelidade e senso de pertencimento que bancos tradicionais dificilmente replicam. Em 2024, crescemos 11% em ativos e patrimônio líquido, alcançando quase R$ 3 bilhões em ativos. Esse desempenho mostra que o modelo cooperativo funciona mesmo em contextos adversos, como vimos na enchente histórica do Rio Grande do Sul, quando seguimos atendendo nossos cooperados com agilidade e empatia. Nosso posicionamento é claro: ser a instituição financeira de referência para o setor de saúde, apoiando desde operações do dia a dia até projetos de alta complexidade. A consistência dos resultados é reflexo direto da governança sólida, da gestão técnica e da proximidade com o cooperado.
E&N – Na prática, como esse modelo se traduz em operações concretas?
Batista – Temos exemplos em toda a escala. O estudante de medicina que financia suas mensalidades encontra soluções conosco. O dentista que renova o consultório, o psicólogo que abre uma clínica, a Cooperativa médica que amplia sua sede — todos encontram apoio especializado. Recentemente, financiamos para o Hospital Divina Providência um angiógrafo de última geração, no maior contrato já registrado na história da feira Health Meeting Brasil, o principal evento de saúde do Sul do país. Esse tipo de operação demonstra nossa amplitude: apoiamos tanto a aquisição de insumos cotidianos quanto investimentos que redefinem padrões de atendimento e acolhimento. Acreditamos que o crédito, quando bem direcionado, é um instrumento de desenvolvimento regional e social.
E&N – Enquanto muitas instituições reduzem presença física, a Unicred Porto Alegre expandiu para 33 agências, incluindo unidades no Rio de Janeiro e no litoral gaúcho. Qual a lógica de investir em rede física em um setor que caminha para o digital?
Batista – Não acreditamos em “físico ou digital”. Nosso modelo é híbrido. A agência é um espaço de relacionamento consultivo, onde o cooperado discute projetos, riscos e oportunidades com especialistas. Estar em Copacabana, Volta Redonda, Porto Alegre ou Torres, mais do que ocupar metros quadrados, é consolidar proximidade com polos e profissionais de saúde. Ao mesmo tempo, investimos fortemente em automação de crédito e canais digitais, como o financiamento estudantil e o app da Cooperativa, que cresce em adesão a cada mês. A estratégia é estar presente onde e como o cooperado precisa, da agência física ao smartphone. Essa combinação de tecnologia com presença humana é o que nos diferencia e sustenta a expansão com qualidade de relacionamento.
E&N – O setor financeiro vive sob forte pressão regulatória em compliance, risco e solvência. Como a Unicred Porto Alegre se prepara para esse cenário?
Batista – A Cooperativa sempre atuou com visão de longo prazo e rigor técnico. Antecipamo-nos às exigências do marco regulatório, e um exemplo é a implementação da Governança Plena em 2014, antes mesmo da norma entrar em vigor em 2015. Hoje, temos controles internos robustos, auditorias independentes e uma cultura de conformidade disseminada em todos os níveis. Nosso índice de Basiléia fechou 2024 em 17,95%, muito acima do mínimo exigido pelo Banco Central, o que reflete solidez patrimonial e capacidade de crescimento sustentável. Prova inquestionável disso é a avaliação que temos feita pela maior agência de rating do mundo, a Fitch Rating que avalia a capacidade de uma instituição frente aos mais diversos aspectos, e a nossa nota é A, o que significa que somos uma instituição confiável para receber as economias de nossos associados. Além dos números, nossa principal demonstração de compliance é a confiança: o cooperado sabe que pode realizar uma operação, seja estudantil ou hospitalar, com total segurança e transparência.
E&N – A Unicred Porto Alegre vem investindo em transformação digital. Como o senhor enxerga o papel da tecnologia no relacionamento com o cooperado e na concessão de crédito?
Batista – A tecnologia é uma aliada estratégica, mas não substitui o relacionamento humano. O que fazemos é usá-la para qualificar o atendimento. Ferramentas de análise de dados mais a expertise do nosso time, nos permitem compreender o comportamento financeiro dos cooperados e antecipar necessidades. Um exemplo é o crédito estudantil, que já nasce com análise automatizada, reduzindo tempo e burocracia, sem perder o olhar personalizado do gerente. Também ampliamos o uso de plataformas digitais para onboarding de cooperados e gestão de investimentos. Essa evolução é contínua, considerando que cooperado quer conveniência, mas também quer confiança. Por isso, o equilíbrio entre inovação e empatia é o eixo central da nossa transformação digital.
E&N – O cooperativismo tem no impacto social uma de suas bases. Como a Unicred Porto Alegre trabalha esse propósito no dia a dia?
Batista – Nosso propósito é gerar prosperidade compartilhada. Isso significa transformar resultados financeiros em benefícios para a comunidade e para o setor de saúde. Além do crédito, investimos em educação financeira, projetos culturais e apoio a instituições médicas. O Uni4Life, nosso hub de inovação e conhecimento, é uma das expressões mais concretas desse compromisso. Ele nasceu para conectar saúde, negócios e propósito, reunindo profissionais, empreendedores e pesquisadores em um ambiente de aprendizado contínuo. Dentro dele, promovemos debates sobre tecnologia, liderança multigeracional, bem-estar e sustentabilidade — temas que moldam o futuro da saúde. O Uni4Life nos posiciona como parte ativa de um ecossistema de impacto, que vai muito além dos serviços financeiros.
E&N – Quais são as prioridades da Unicred Porto Alegre para os próximos anos?
Batista – Nosso foco é consolidar a Unicred Porto Alegre como a principal instituição financeira cooperativa voltada à saúde no país. Isso passa por três eixos: ampliar parcerias estratégicas, expandir a base de cooperados e continuar financiando operações de impacto. Nesse caminho, o Uni4Life tem papel central: é o nosso hub de inovação, onde ciência, tecnologia e finanças se encontram para impulsionar o desenvolvimento do setor.