Sócio-diretor da Cherto Consultoria
Nos últimos anos, tenho acompanhado de perto a jornada de pequenas, médias e grandes empresas que decidiram crescer. Algumas escalaram com sucesso. Outras quebraram logo após os primeiros passos. O que separa esses dois grupos? Na maioria dos casos, o que define o sucesso é a base: estrutura, processos e pessoas; e o principal, o modelo de negócios que deverá expandir e como deverá ser essa expansão.
Costumo dizer que o problema não é crescer. O problema é crescer mal. E isso tem se tornado cada vez mais frequente, especialmente num país onde mais de 970 mil empresas encerraram atividades apenas no primeiro quadrimestre de 2025, segundo dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento. O número impressiona, mas revela uma realidade já conhecida: o Brasil empreende muito, mas sustenta pouco.
Esse cenário se agrava quando analisamos o ambiente macroeconômico. A Selic em 15%, o crédito cada vez mais restrito e um PIB projetado abaixo de 2,5% formam uma equação em que errar custa caro. E, mesmo assim, continuamos vendo negócios expandindo por impulso, sem planejamento, sem clareza de modelo e sem time preparado.
Tenho visto empresas de todos os setores — do varejo à indústria, dos serviços à alimentação — escalarem sem validar a operação atual. Multiplicam pontos antes de consolidar um padrão. Contratam antes de treinar. Crescem geograficamente antes de criar uma cultura que possa ser replicada.
Outro ponto crítico nessa equação é a gestão de gente. O desafio de integrar e reter talentos, especialmente entre as novas gerações, é cada vez maior. A Geração Z, por exemplo, permanece menos tempo nos empregos, busca propósito mais do que estabilidade e exige líderes preparados para dialogar com agilidade, transparência e flexibilidade. Ignorar isso é comprometer não apenas o clima interno, mas a própria viabilidade da expansão.
Não há crescimento sustentável sem gente certa, no lugar certo, com processos claros e cultura compartilhada. Escalar exige mais do que coragem — exige maturidade. Exige saber o momento de avançar e, sobretudo, o momento de ajustar.
O que recomendo, a quem me pergunta se vale a pena crescer, é sempre o mesmo: revise sua base. Margem, entrega, padrão, atendimento, liderança. Só o que é consistente pode ser multiplicado. E, acima de tudo, trate expansão como um projeto estratégico — não como euforia.
Porque crescer amplia tudo: o que funciona, mas também o que falha. E o mercado, especialmente em tempos de incerteza, tem sido implacável com amadores.