O mercado de tecnologia brasileiro vive um paradoxo. Mesmo em forte expansão, a entrada de novos profissionais esbarra em barreiras estruturais que elevam a chamada “régua de entrada”. O resultado é previsível: jovens de origem vulnerável, sem inglês, experiência prática ou formação em instituições de prestígio acabam excluídos de um setor estratégico e em crescimento acelerado.
Dados da pesquisa de empregabilidade da Escola da Nuvem mostram que menos de 15% das vagas abertas são destinadas a profissionais juniores. Embora tenha ocorrido um pequeno avanço — de 13% para 15% no segundo semestre de 2024 — o desafio permanece o mesmo: sensibilizar empresas sobre a importância de contratar e desenvolver novos talentos, criando caminhos reais de progressão para cargos plenos e sêniores.
Crescimento acelerado, portas estreitas
As áreas mais demandadas concentram-se em Cloud, Desenvolvimento, Infraestrutura, Ciência de Dados e Inteligência Artificial. Entre os cargos com maior volume de oportunidades estão Desenvolvimento de Software, Suporte Técnico, Engenharia de Nuvem, DevOps e Análise de Infraestrutura.
Além de competências técnicas, empresas vêm priorizando habilidades como comunicação, curiosidade e engajamento, enquanto comprometimento, autonomia e resiliência ainda aparecem como pontos frágeis nos processos seletivos. Embora 30% das empresas não exijam formação específica, 40% aceitam candidatos que ainda estão estudando e apenas 20% pedem graduação completa.
Certificações raramente são obrigatórias nas vagas de entrada, mas funcionam como diferencial. O inglês aparece como exigência formal em 10% das posições, ainda que 70% das empresas o considerem relevante.
“É fundamental entendermos que o crescimento do mercado de tecnologia não garante, por si só, oportunidades igualitárias. A barreira de entrada elevada significa que muitos jovens talentosos acabam ficando de fora de um setor que deveria ser motor de inclusão e mobilidade social. Nosso papel na Escola da Nuvem é reduzir esse hiato”, afirma Ana Letícia Lucca, CRO da instituição.
Escassez de talentos: Brasil acima da média global
O estudo também destaca limitações das funções de entrada. O suporte técnico — porta de entrada mais comum — nem sempre oferece progressão para áreas estratégicas como cloud, dados e IA, o que restringe ascensão e salários. Em relação ao desenvolvimento de talentos, 60% das empresas apostam em programas sob demanda, enquanto apenas 20% oferecem trilhas estruturadas.
O cenário global reforça o alerta. A pesquisa de Escassez de Talentos 2025, da ManpowerGroup, indica que 74% das organizações ao redor do mundo têm dificuldade para preencher vagas — número que sobe para 81% no Brasil e chega a 84% no setor de TI. Em áreas como Dados e Tecnologia da Informação, a lacuna de profissionais atinge 39%.
No Brasil, o macrossetor de TIC projeta a criação de até 147 mil postos formais em 2025, com cenário médio estimando 88 mil contratações. Entre 2019 e 2024, surgiram 665 mil novas vagas em tecnologia, mas apenas 464 mil profissionais qualificados entraram no mercado — um déficit de 30,2%, segundo a Brasscom. Questões como qualificação, informalidade, reoneração da folha, reforma tributária e o PL 2338 sobre Inteligência Artificial influenciam diretamente essa oferta insuficiente.
A Brasscom aponta ainda que, entre 2025 e 2030, o mercado passará a exigir novas competências, como pensamento analítico, liderança, influência social, criatividade e aprendizado contínuo. As profissões mais procuradas estarão ligadas a tecnologias emergentes, com certificações cada vez mais específicas. Nos últimos anos, o ritmo de crescimento de trabalhos informais, como MEIs, superou o de vagas formais — um sinal de mudanças estruturais no setor.
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Fonte Oficial: https://startupi.com.br/regua-de-entrada-sobe-mercado-de-ti-limita-jovens/