Os painéis desta quarta-feira (19/11) no Pavilhão da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), na COP30, foram dedicados à agricultura sustentável, produtividade verde, créditos de carbono e rastreamento das cadeias produtivas. A agenda teve por objetivo apresentar os papéis estratégicos do Brasil e da agroindústria nacional na transição para uma economia de baixo carbono.
Os debates do dia foram abertos com o painel “Agricultura Sustentável: Tecnologia e Inovação para a Produtividade Verde”. O encontro mergulhou em resultados concretos e focados na produtividade verde alcançados por meio de tecnologias e inovações na agricultura brasileira. Estudos de caso, projetos e plataformas demonstram que o uso de máquinas, biotecnologias e digitalização tem permitido conciliar o aumento da produção com sustentabilidade ambiental.
Conduzido pela gerente de Difusão de Tecnologias da ABDI, Isabela Gaya, o painel contou com a participação do cofundador da SmartAgri, Marcos Nascimento Ferraz; da gerente de produtos da Agrotools, Stefannie Leffer; e da especialista em sustentabilidade da Accenture, Ephraim França. A conversa abordou os impactos reais dessas novas tecnologias no campo, como a redução de emissões, a recuperação de áreas degradadas e o aumento da eficiência de recursos (água, energia e insumos).
Segundo Ferraz, o futuro do agronegócio já é uma realidade e está baseado em tecnologias de ponta, energias limpas e no compromisso com a preservação do meio ambiente.
“Empresas, produtores e consumidores já estão tendo essa consciência, construindo um agro mais eficiente, responsável e preparado para desafios globais. O agro sustentável não é apenas uma tendência passageira: é uma necessidade global. Com a crescente demanda por alimentos e a pressão sobre os recursos naturais, práticas inovadoras são indispensáveis”, explicou.
Programa Agro 4.0
A forma em que o Brasil pode atrair capital privado e adotar instrumentos financeiros verdes capazes de impulsionar um agronegócio mais sustentável, produtivo e conectado à inovação foi o gancho do painel seguinte, intitulado “Economia e Finanças Verdes na Cadeia Agropecuária – Financiamento para o Agro do Futuro: Créditos de Carbono e Mercados Verdes”.
Também mediadora do debate, Isabela Gaya dividiu espaço com o CEO da NetWord Agro, startup que utiliza tecnologia para otimizar solos e reduzir custos no agronegócio, Marcos Ferronato; o presidente do Parque de Inovação Tecnológica (PIT), que promove colaboração entre startups e empresas, Jeferson Cheriegate; e a coordenadora sênior do Imaflora, Renata Potenza, que atua com o propósito de conciliar a conservação do meio ambiente com a economia sustentável.
Aos participantes, Isabela destacou a série de ações que a ABDI promove voltadas à modernização da agroindústria, como o Programa Agro 4.0. “Queremos incentivar e fomentar a adoção de tecnologias porque a gente entende a importância da tecnologia não só para o aumento de eficiência e produtividade, mas para a sustentabilidade”, afirmou.
O Agro 4.0 já apoiou cerca de 100 fazendas e cooperativas com tecnologias como sensoriamento remoto, inteligência artificial e IoT. As soluções têm gerado reduções significativas de insumos, como de 70% no uso de herbicidas, e grande economia de água em sistemas de irrigação, resultados que aumentam a credibilidade dos projetos junto a investidores.
Os projetos do programa também mostram avanços diretos em produtividade, critério decisivo para o financiamento climático. O monitoramento digital de solos reduziu em 30% os custos com fertilizantes e aumentou em 5,5% a produtividade, enquanto tecnologias aplicadas à colheita têm diminuído em até 50% as perdas de soja.
“Tudo iniciou com o programa Agro 4.0, com as ações que nos fizeram ser aceitos nele: monitoramento de solos e lavouras para manejo integrado”, lembrou Feronato, cuja startup foi um dos projetos selecionados e apoiados pela iniciativa da ABDI. “É dessa maneira que as propriedades ficam mais sustentáveis, só que levando em conta o tripé social, econômico e ambiental. Não só o ambiental, porque ele sozinho não para em pé se não tiver o financeiro e o social.”
Plataforma de dados e inclusão produtiva
As discussões no estande da ABDI foram encerradas com um aprofundamento do tema inovação no painel “Plataformas de Compartilhamento de Dados (Data Space): rastreabilidade na cadeia produtiva”, que analisou como a digitalização e a gestão integrada de informações estão redefinindo o futuro da rastreabilidade no agronegócio.
A discussão apresentou o conceito de Data Space como uma infraestrutura segura, confiável e interoperável, capaz de conectar produtores, indústrias, certificadoras, governo e consumidores em um mesmo ecossistema de dados, elemento essencial para consolidar a produtividade verde e impulsionar a bioeconomia.
O painel mostrou como essas plataformas podem gerar valor direto para o produtor ao facilitar seu acesso a mercados premium, ampliar a oferta de crédito verde e permitir a remuneração por créditos de carbono, graças à maior precisão e transparência das informações. Tratou, também, da proposta de reforçar, nelas, a inclusão produtiva de pequenos e médios produtores com a oferta de ferramentas digitais que permitam comprovar boas práticas, originação sustentável e conformidade regulatória.
O assunto gerou reflexões da chefe de Agricultura Regenerativa da Nestlé, Barbara Sollero; do CEO da Safetrace, Vasco Picchi; e do gerente de informática da Embrapa, Ricardo Inamasu. E o consenso de que a conexão de todos os atores envolvidos em uma única plataforma, com rastreamento das cadeias produtivas, deve se somar, no campo, às demais tecnologias 4.0.
“Esse é o grande desafio da área rural hoje. Desafio não só do lado do produtor rural, mas também do consumidor”, observou Inamasu, ao apontar a expectativa dos consumidores por um alimento cada vez com mais qualidade e sustentabilidade e a demanda que isso implica ao agricultor e a diferentes cadeias.
“É um grande desafio produzir mais com menos. Mais qualidade, mais quantidade, mais segurança com menos recursos naturais, menos insumos”, prosseguiu o gerente. “Esse é o grande desafio hoje da sociedade. E a Embrapa faz parte desse desafio, muito com as suas parceiras, de buscar as tecnologias digitais.”
Fonte Oficial: https://www.abdi.com.br/abdi-incentiva-financiamento-verde-tecnologias-4-0-e-data-spaces-na-agroindustria/