De Cidreira
Setor supermercadista, farmácias e comércio em geral competem pelos mesmos perfis de candidatos nos principais municípios litorâneos com o objetivo de reforçar equipes para atendimento nos meses de verão. Com base em dados da rede FGTAS/Sine, as farmácias vivem a maior demanda por mão de obra na região desde 2012. O crescimento no número de lojas, nos últimos cinco anos, ajuda a explicar a busca intensa por colaboradores. A partir da pandemia, segmento teria absorvido em torno de 8 mil contratações nas principais praias do Litoral Norte gaúcho. De acordo com a FGTAS, outubro e novembro são os meses com o maior número de postos no ano. Outubro chegou a mais de 800 vagas abertas em todos os setores; novembro deve bater as 900 oportunidades e, em dezembro, em torno de 500 serão oferecidas, conforme projeção. O mercado mais aquecido não se restringe aos postos temporários. Chances permanentes somam mais de 3 mil no acumulado do ano até 30 de outubro.
Aos 20 anos, Isabella Aguiar, moradora de Cidreira, no Litoral Norte, está com os planos traçados para sua jornada profissional graças a uma oportunidade como atendente, em uma das lojas da rede Farmácias Associadas, localizada em Balneário Pinhal, município vizinho.
Trata-se de uma das centenas de vagas temporárias oferecidas pelo varejo farmacêutico motivadas pela proximidade da temporada de verão. A jovem viu a chance por meio das redes sociais da loja. Fez a entrevista no final de setembro e no dia seguinte foi chamada. Ela assumiu a posição em 1º de outubro de olho em uma efetivação após o veraneio – o que permitirá dar continuidade a seus planos. Isabella é estudante de Biomedicina mas pretende trancar o curso para começar o de Farmácia. Gosta da área.
“Eu não consigo ficar em casa, queria trabalhar. O pessoal aqui me acolheu muito bem. Está sendo a melhor experiência que já tive“, comenta ela, que deu seus primeiros passos no mercado como Jovem Aprendiz aos 16 anos e, recentemente, por pouco mais de ano, atuou como atendente em outra rede de farmácias.
Outubro marca o início de uma disputa acirrada no Litoral Norte: segmentos varejistas buscam colaboradores para reforçar equipes no atendimento ao grande fluxo de clientes que o veraneio trará. O setor supermercadista é o primeiro no movimento. Um segmento entrou forte no encalço dos supermercados nos últimos anos, tornando a conquista de funcionários temporários ainda mais desafiadora para contratantes: o segmento de farmácias. O comércio em geral também precisa revigorar o quadro na medida em que dezembro se aproxima. Estão todos disputando o mesmo perfil de pessoas.
Dados da rede FGTAS/Sine mostram que é a maior demanda de farmácias por mão de obra na região desde 2012, considerando os principais municípios de Torres, Arroio do Sal, Capão da Canoa, Xangri-lá, Tramandaí, Imbé e Cidreira. O cenário das oportunidades até final de outubro, com 175 posições abertas, superava os dois picos anteriores: 2015 (155 vagas) e 2023 (148). Comparado a cinco anos, é um crescimento de 821,05% – em 2020, se registraram somente 19 oportunidades.
De acordo com Juliano Florczak Almeida, analista sociólogo, chefe da seção de Informação e Pesquisa da FGTAS, outubro e novembro se destacam como os meses com maior número de postos disponíveis nessas cidades, em todo o ano. Considerando integralmente os setores econômicos observados no Sine, outubro somava 819 posições em aberto. “E, conforme o histórico, devemos oferecer cerca de 900 vagas em novembro e mais 500 em dezembro”, analisa ele.
Tradicionalmente ambicioso na busca por temporários, o setor supermercadista ganhou novo fôlego nas últimas temporadas com a abertura de mais unidades no modelo hipermercado. O “boom” nos municípios litorâneos foi no ano passado: o sistema FGTAS/Sine registrou 299 oportunidades, uma alta de aproximadamente 1.259% em relação a 2023. Cinco anos antes, o modelo “hiper” havia aberto somente uma vaga. Os hipermercados se caracterizam por uma área de vendas maior (a partir de 4 mil ou 5 mil metros quadrados) e um mix de produtos mais amplo. A chegada deles ao Litoral Norte retrata a transformação que a região experimentou desde a pandemia.
A rede Asun acaba de entregar, em 1º de outubro, uma loja mais ampla e totalmente remodelada em Cidreira, assumindo um perfil mais próximo de atacarejo. Em setembro, a catarinense Bistek elevou o padrão dos serviços no segmento com a inauguração de uma unidade em Tramandaí. Duas lojas Desco Atacado (do grupo Imec) abriram em 2024: uma em Xangri-lá e outra em Imbé. Também no ano passado, o Comercial Zaffari abriu uma Stok Center em Torres, se somando às lojas de Capão, desde 2020, e de Tramandai, desde 2022. A Stok Center de Imbé deve inaugurar em novembro, gerando 180 empregos.
No modelo supermercados, os gráficos FGTAS/Sine sinalizam pelo menos três saltos em ofertas de vagas nos últimos anos: em 2019 (aumento de cerca de 155% ante 2018), em 2021 (alta de mais de 70% ante ano anterior) e em 2024 (alta de 30% frente a 2023). Neste ano, a demanda por mão de obra continua relevante, com o segundo maior índice desde 2020.
As ofertas de emprego temporário no comércio em geral devem se aquecer ao longo de novembro e dezembro, conforme expectativa de entidades representativas do setor, como a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Tramandaí/Imbé. Para o presidente da ACICC (Associação Comercial, Industrial e de Prestadores de Serviços de Capão da Canoa e Xangri-lá), Augusto Roesler, a quantidade de oportunidades é muito maior do que revelam os dados Sine. “Estimamos em cerca de 1 mil vagas nos mais diversos segmentos, entre temporárias e fixas. Mas falta mão de obra”, comenta. Roesler atesta que estrangeiros têm ocupado as posições, entre os quais, angolanos, senegaleses e venezuelanos.
Mesmo que o bom número de vagas temporárias seja uma característica marcante do mercado de trabalho no Litoral Norte, a oferta de posições permanentes vem se mostrando consistente nos últimos anos. “As vagas permanentes estão seguindo um padrão elevado neste ano, ainda que outubro esteja um pouco aquém em relação ao mês passado”, atesta o chefe da seção de Informação e Pesquisa da FGTAS. Até 30 de outubro, a soma no ano chegava a mais de 3 mil, com destaque para Torres e Tramandaí – quase 1 mil cada uma -, Capão da Canoa e Imbé.
Nível de ocupação por municípios
A proporção de pessoas que estão ocupadas (com trabalho) entre todas as pessoas consideradas “em idade de trabalhar” nos principais municípios litorâneos da porção média e norte da faixa beira-mar.
Torres 57,21%
Xangri-lá 56,71%
Capão da Canoa 56,64%
Tramandaí 50,55%
Imbé 48,88%
Arroio do Sal 46,11%
Balneário Pinhal 39,37%
Cidreira 38,71%
Fonte: IBGE/2022
Como atuam esses ocupados
Compare os municípios no que se refere à posição na ocupação:
Setor privado Por conta própria
Torres 46,04% 32,56%
Xangri-lá 44,54% 33,83%
Capão da Canoa 45,48% 38,25%
Tramandaí 43,98% 35,75%
Imbé 39,80% 36,46%
Arroio do Sal 31,51% 46,86%
Balneário Pinhal 36,85% 37,38%
Cidreira 32,75% 43,65%
Por conta própria e sem abrir empresas
No universo “por conta própria” de cada município, é expressivo o percentual “sem CNPJ”:
Torres – 59,27%
Xangri-lá – 67,48%
Capão da Canoa – 64,38%
Tramandaí – 69,68%
Imbé – 73,55%
Arroio do Sal – 67,15%
Balneário Pinhal – 72,33%
Cidreira – 70,83%
Setor privado e por conta própria são as condições predominantes nos municípios analisados. Mas há outras cinco posições, com representação menor: setor público, empregador, trabalhador doméstico, não remunerado em ajuda a morador do domicílio ou parente e militar.
Quem são esses esses ocupados
Por gênero:
Homens Mulheres
Xangri-lá 31,81% 24,90%
Capão da Canoa 30,35% 25,79%
Torres 30,25% 26,96%
Tramandaí 27,80% 22,75%
Imbé 27,08% 21,80%
Arroio do Sal 26,58% 19,53%
Baln. Pinhal 22,05% 17,32%
Cidreira 21,77% 16,94%
Nível de instrução
Sem instrução e fundamental incompleto:
Balneário Pinhal 29,62%
Arroio do Sal 27,28%
Cidreira 26.01%
Xangri-lá 24,43%
Tramandaí 24,36%
Capão da Canoa 23,68%
Imbé 22,86%
Torres 21,13%
Fundamental completo e médio incompleto:
Cidreira 23,81%
Baln. Pinhal 23,19%
Xangri-lá 22,35%
Tramandaí 20,83%
Capão da Canoa 20,53%
Imbé 19,71%
Arroio do Sal 18,86%
Torres 17,90%
Médio completo e superior incompleto
Arroio do Sal 41,87%
Tramandaí 39,99%
Imbé 39,86%
Torres 39,15%
Capão da Canoa 37,85%
Cidreira 36,62%
Xangri-lá 36,42%
Baln. Pinhal 34,76%
Superior completo
Torres 21,83%
Capão da Canoa 17,95%
Imbé 17,56%
Xangri-lá 16,80%
Cidreira 13,56%
Tramandaí 14,82%
Baln Pinhal 12,46%
Arroio do Sal 11,96%
Rendimento domiciliar mensal per capita
Xangri-lá R$ 2.134,14
Torres R$ 2.080,13
Capão da Canoa R$ 1.932,27
Tramandaí R$ 1.871,57
Imbé R$ 1.774,31
Arroio do Sal R$ 1.638,58
Cidreira R$ 1.526,55
Balneário Pinhal R$ 1.475,90
Incluir benefícios é saída para driblar desinteresse por vagas
Somando oportunidades permanentes e temporárias, o número de postos de trabalho abertos em outubro deste ano chegou a mais de 800, o maior patamar do semestre, conforme dados da FGTAS, somando Torres, Arroio do Sal, Xangri-lá, Capão da Canoa, Tramandaí, Imbé, Cidreira e Balneário Pinhal. O universo de oportunidades, porém, é mais amplo.
Empresas de seleção e recrutamento e as lojas de todo o varejo também fazem movimentos próprios em busca de colaboradores, sem passar pelas agências Sine. Além de áreas específicas em seus sites para anunciar oportunidades e receber candidaturas, bem como usar as redes sociais para divulgação, é comum encontrar cartazes em portas ou vitrines avisando de vagas – tanto quanto é, da cultura da região, a entrega de currículos porta a porta. Dada a dificuldade de contratação, esse movimento de quem quer trabalhar no mercado formal é sempre bem-vindo o ano todo pelos contratantes.
O cenário de disputa por mão de obra é agravado pelo contingente de pessoas que acaba optando por outras formas de atuação, como as chamadas posições “por conta própria”, conforme comprova o Censo 2022 de Trabalho e Rendimento divulgado pelo IBGE.
“Está muito difícil a captação de candidatos. Há vagas mas falta mão de obra“, assegura Andreia Matheus, gestora de RH na NeoTempus, empresa com foco na contratação de profissionais temporários e que em meados de outubro tinha dezenas de vagas para operadores de supermercado no Litoral Norte.
Conforme sua percepção, as empresas estão bem flexíveis nas exigências e tentam deixar as vagas mais atraentes, como o prêmio por assiduidade semanal. “Com a dificuldade de contratação, surgiram estes benefícios como uma forma de reter candidatos“, explica. Empresas flexibilizaram exigências, mas priorizam candidatos que demonstrem força de vontade, comprometimento, interesse em crescer e ser prestativo.
Mary Flores, gerente de RH do Grupo Mundial, que também prospecta candidatos na região, aponta que o alto índice de empregos informais impacta na disponibilidade de candidatos para o mercado formal. Ela observa que, nos últimos quatro anos, o número de vagas na região litorânea tem aumentado significativamente. Visando a temporada de verão, a oferta supera a procura.
“A principal dificuldade enfrentada pelas empresas é encontrar profissionais qualificados. A qualificação técnica e comportamental ainda é um diferencial escasso. Para reter talentos, é essencial que as empresas ofereçam salários competitivos e pacotes de benefícios atrativos”, avalia.
Evento revela esforço para garantir contratações
Durante a edição do Empregar RS no Litoral Norte, em meados do mês passado, a Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social (FGTAS) anunciou mais de 600 vagas, considerando os municípios de Arroio do Sal, Capão da Canoa, Cidreira, Imbé, Torres, Tramandaí e Xangri-lá.
O evento agrupa as oportunidades em cada município, abrindo espaço para que empresas façam entrevistas nas agências Sine locais. Em relação ao ano passado, a data de realização foi antecipada para outubro, porque é quando começa a procura por trabalhadores temporários visando aos meses de verão.
A coordenação da agência Sine/FGTAS de Torres considerou o evento de um único dia um sucesso. Foram registrados 120 encaminhamentos para vagas na cidade, com efetivação de 80 pessoas. A agência de Capão da Canoa recebeu um número de candidatos abaixo do esperado – em torno de cem pessoas. Ainda assim, o encaminhamento para vagas foi proveitoso, na avaliação do coordenador, Rodrigo Manica. “Ainda vamos promover um evento voltado aos mais jovens e, no final de novembro, outro em que candidatos LGBTQIAPN terão preferência. A gente segue tentando buscar mão de obra, porque realmente está muito complicada essa questão”, atesta.
Em Tramandaí, entre as empresas presentes em busca de colaboradores, estavam O Boticário, Stok Center, Macromix e Panvel. Cerca de 120 pessoas se candidataram. “O Stok Center entrevistou 21 e contratou 15”, comenta Marcelo Maseda, coordenador da agência. “Estamos em uma crescente de vagas e falta mão de obra”, confirma ele.
Nos dias anteriores ao Empregar, o n úmero de postos abertos para a região foi mudando rapidamente. No dia 13, por exemplo, entre os tipos de vagas disponíveis, os campeões eram atendente de farmácia/balconista, com 142 oportunidades (21% do total), seguido por operador de caixa (88) e repositor de mercadorias/supermercados (60). Chamava a atenção o fato de que das 31 vagas disponiveis para Arroio do Sal, 30 eram para farmácia; e em Cidreira as 10 vagas disponíveis eram todas para lojas do mesmo segmento – dois dias depois, a oferta tinha caído pela metade.
As áreas de varejo e atendimento dominavam o total de posições disponíveis, com operador de caixa e repositor também entre as mais procuradas. Tramandaí tinha o maior interesse por operadores de caixa (49% do total) e repositores (53% do total). Capão da Canoa aparecia consistentemente em 2º ou 3º lugar nessas três categorias principais, revelando um mercado bem equilibrado.
IBGE atualiza retrato de trabalho e rendimento na região
Mão de obra ativa predominantemente masculina, com Ensino Médio completo, em um cenário onde o número de trabalhadores por conta própria sem CNPJ é bastante expressivo e recebendo, em média, pouco mais de R$ 1,8 mil de renda domiciliar mensal per capita. Essa é uma descrição compatível com o mercado de trabalho do Litoral Norte, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, considerando os principais municípios beira-mar: Torres, Xangri-lá, Capão da Canoa, Tramandaí, Imbé, Arroio do Sal, Balneário Pinhal e Cidreira.
Os dados foram divulgados no início de outubro e não permitem comparação com o Censo de 2010, seja porque são preliminares, seja devido a mudanças metodológicas entre os dois levantamentos – como no caso do nível de ocupação por municípios. Neste quesito, a proporção de pessoas que estão ocupadas entre todas as pessoas consideradas “em idade de trabalhar” não supera os 50% em metade dessas cidades. Essa condição pode indicar baixa diversificação econômica (dependentes de atividades sazonais), envelhecimento populacional e informalidade elevada. Essas duas últimas possibilidade se associam à alta dependência de políticas públicas (como aposentadorias e programas sociais).
Ainda que o setor privado absorva boa parte da mão de obra ativa em cidades como Torres e Xangri-lá, o retrato local revela que a condição “por conta própria” é bastante significativa na maior parte da região. O modelo vence em Arroio do Sal, Cidreira e em Balneário Pinhal. Em todos os municípios pesquisados, a grande maioria dos trabalhadores ativos “por conta própria” não tem CNPJ.
Uma análise sobre rendimentos revela que, no topo, está Xangri-lá, com pouco mais de R$ 2,1 mil de renda domiciliar mensal per capita. No extremo oposto, se encontra Balneário Pinhal, com pouco menos de R$ 1,5 mil. O conjunto de informações divulgadas, também acessível no portal do IBGE e no canal Panorama Censo 2022, apresenta as informações referentes aos dados coletados pelo Censo Demográfico 2022, no período de 1º de agosto de 2022 a 28 de maio de 2023, com a incorporação das revisões realizadas entre 29 de maio a 7 de julho de 2023.
Sobram oportunidades na construção civil
Em comparação com o varejo, o setor da construção civil busca um perfil diferente de mão de obra – com formação mais técnica e habilidades práticas, incluindo um certo vigor físico. Além disso, a oferta mantém regularidade ao longo dos meses, sem ser tão afetada pela chegada ou não do verão. Em outras palavras, a dificuldade de contratações persegue os empregadores o ano todo.
“O Litoral está um canteiro de obras. Temos falta de mão de obra”, afirma Renan Martinello Marques, presidente da Regional Litoral Norte do Sinduscon-RS, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul. Dados da Rede FGTAS/Sine, atualizados até 27 de outubro, demonstram que, desde 2019, não havia tantas vagas disponíveis no setor. Com 338 posições em aberto, o ano de 2025 é o segundo mais dependente do interesse de pessoas pelo mercado formal desde 2012.
Conforme a Regional Litoral Norte do Sinduscon-RS, há mais de 200 empreendimentos em construção, somando verticais e horizontais. É próprio do segmento, na região, absorver um grande número de trabalhadores num único empreendimento, já que, especialmente os municípios de Capão da Canoa, Xangri-lá e Torres concentram projetos de condomínios e loteamentos de grandes proporções.
Em fase de obras, iniciadas este ano, o condomínio de luxo Scenario, da Pioner Empreendimentos, em Capão da Canoa, é um exemplo. Sozinho, o projeto representa emprego para 200 pessoas, entre ajudantes, serventes, pedreiros, carpinteiros, pintores e ceramistas, além de equipes terceirizadas para serviços especializados, como elétrica e instalações. Estima-se que cerca de 80% da mão de obra seja local.
Outro empreendimento que teve a participação da empresa, o condomínio Murano, lançado em 2018 em parceria com o Grupo Marina Park, chegou a reunir simultaneamente mais de 250 colaboradores e, ao longo dos seis anos de execução, empregou mais de 500 profissionais.
Duas grandes redes somam mais de 500 vagas para o veraneio
A oferta intensa de trabalho temporário no segmento de farmácias no Litoral Norte gaúcho avança até pelo menos o início de dezembro, conforme planejamento de duas grandes redes, a São João e a Panvel. Juntas, as duas empresas oferecem mais de 500 oportunidades, a fim de dar conta do maior fluxo de clientes durante o veraneio nas principais praias.
Cientes da concorrência pela mão de obra, especialmente neste época do ano, mais do que experiência no ramo, os contratantes valorizam os candidatos com disponibilidade de horário para trabalhar nos finais de semana e feriados e com vontade de aprender – uma vez aceitos na seleção, passam por treinamento e têm o monitoramento dos mais experientes dentro das lojas.
Com a chegada de reforços, o quadro de funcionários pode dobrar em determinadas lojas. Em unidades maiores da São João, a equipe salta de 14 para mais de 30 trabalhadores. Com 691 funcionários permanentes na região, a Panvel prevê um acréscimo geral de 40% no número de trabalhadores. As chances de efetivação são reais.
“As vagas temporárias são uma porta de entrada na empresa. Aqueles que performarem têm chance de permanência depois do verão“, afirma Vanessa Fontoura, diretoria de Gente e Gestão das Farmácias São João, em referência às 400 oportunidades atuais. “Fazemos a seleção em três turnos. O ápice final é na primeira semana de dezembro”, detalha.
Essa é a mesma expectativa na Panvel. “Muitos colaboradores que ingressam como temporários acabam sendo efetivados”, afirma Arthur Klein Neto, gerente de Atração e Seleção, Remuneração & Performance do grupo. Foi exatamente o que aconteceu com Vanessa Vargas Bach, 36 anos.
Em 2018, Vanessa passou na seleção para assistente de atendimento em loja de Capão da Canoa. “Eu não tinha tanto conhecimento de medicamento, mas no quarto dia ganhei afinidade com o sistema e atuei como caixa operadora naquele primeiro verão”, conta ela, hoje gerente na Panvel de Xangri-lá. Formada em Biologia e com pós-graduação na área, Vanessa aproveitou a oportunidade para mudar radicalmente de rumo e construir um carreira no varejo farmacêutico.
“Me dediquei muito naquela temporada para poder ficar. Eu queria ficar. Nunca imaginei que passaria a trabalhar com gestão de pessoas. Foi um recomeço para mim. E hoje amo muito o meu trabalho”, diz, acrescentando que passou a buscar conhecimento na área de gestão. Agora, é ela quem se prepara para receber e treinar os temporários. “Devemos receber de 10 a 12, mais ou menos, em novembro ou conforme o calendário de admissões, para que até a virada de ano estejam todos preparados”, planeja.
Durante o mês de outubro, a rede Panvel promoveu um intensivo em busca de 119 novos colaboradores em suas lojas no Litoral Norte. Sem exigir experiência, promoveu uma seleção de 6 a 31 de outubro nas unidades de Capão da Canoa, Imbé e Tramandaí. Somente em Capão, eram mais de 70 oportunidades para atendente de filial no regime CLT por tempo determinado. No mesmo município, a rede também realizou entrevistas durante o evento Empregar, promovido pela Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social (FGTAS) em 16 de outubro.
“A cada ano, o Litoral registra um movimento maior. Esse cenário vem acompanhado da expansão das lojas Panvel e isso se reflete diretamente na busca por novos talentos para atender à demanda“, afirma Klein Neto. Nos últimos cinco anos, a rede cresceu 75% na região (eram 40 lojas em 2020 e atualmente são 70). Já a São João expandiu em quase 80%: eram 29 lojas há cinco anos e, em 2025, são 52 no Litoral Norte.
Na leitura de Guilherme Leipnitz, executivo do Sinprofar RS (Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado), o ano de 2020 marcou o início de um período de expansão para o segmento no Litoral Norte, um movimento associado às consequências migratórias da pandemia de Covid. “Além da abertura de farmácias ligadas a redes associativistas, os grandes conglomerados farmacêuticos abriram PDVs nessas cidades”, afirma. “Isso gerou um número expressivo de contratações, de lá para cá, de mais ou menos 8 mil contratados entre balconistas, atendentes e farmacêuticos”, estima.
Outro ponto observado por ele é a presença de farmacêuticos vindos do Norte e Nordeste para o Rio Grande do Sul. “Mesmo com o bom número de escolas de farmácia, faltam profissionais. E as redes foram buscar em outros Estados para atender a demanda”, explica, se referindo à exigência em lei de que os estabelecimentos mantenham um farmacêutico durante todo o período de funcionamento.
Foi justamente em 2020 que uma farmácia tradicional de Balneário Pinhal, fundada em 1991 e integrante da rede Associadas desde 2008, abriu suas duas primeiras filiais no mesmo município. Em 2024, chegou a Osório, com mais duas filiais. Atualmente são seis lojas ativas, sendo a última inaugurada em setembro deste ano, dentro do novo Bistek Supermercados. Em 2020, a rede associativista de que faz parte tinha 55 lojas na região; atualmente, são 69.
Em menor escala, Humberto Fraga Martins, administrador das seis unidades, encara as mesmas dificuldades que Panvel e São João: necessidade de reforçar equipes para atender o movimento do veraneio e dificuldade para preencher essas vagas – o quadro de funcionários deve chegar a 60 para atender a demanda dos meses de verão. Para a unidade de Tramandaí, recebeu 300 currículos. Destes, apenas seis foram selecionados. “Não só estamos em seleção como ficamos permanentemente”, avisa Martins, que há 13 anos se tornou sócio da empresa que administra as seis lojas. Os currículos continuam bem-vindos sempre, dada a dificuldade de manter colaboradores comprometidos e que se adaptem ao trabalho em finais de semana e feriados.
“Muita gente percebe que não tem como fazer esses horários e acaba pedindo para sair”, comenta. Segundo ele, os motivos variam conforme a faixa etária. Quando o olhar recai sobre os mais novos, ele identifica um certo padrão. “A nova geração tem uma percepção diferente do trabalho: quer ganhar muito e trabalha pouco. Eu não estou nem reclamando, é uma constatação, porque a gente tem que aprender a lidar com eles”, conforma-se. “Não são todos, mas temos de fazer esse filtro”, pondera. As atividades em farmácia requerem comprometimento. “Eu preciso o funcionário saiba o que está fazendo. É remédio, não é pizza. Nunca vou ficar tranquilo com alguém mal preparado no balcão”, relata.
* Loraine Luz é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso.
Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/11/1224527-litoral-norte-acelera-corrida-por-mao-de-obra.html