A Reforma Tributária, que entra em vigor em janeiro de 2026, deve provocar uma das maiores reestruturações corporativas do país. Mais do que ajustes em tributos ou em sistemas de gestão, o epicentro da adaptação estará na reorganização das equipes, com a abertura de novas funções e uma disputa crescente não só por profissionais de TI com fluência fiscal, mas também por especialistas tributários aptos a lidar com um ambiente regulatório sem precedentes.
Segundo pesquisa da consultoria Robert Half, 53% das empresas brasileiras devem contratar, pelo menos, três novos colaboradores para lidar com o novo cenário. Entre os perfis mais disputados, destaca-se o profissional híbrido, seja ele de tecnologia ou da área fiscal, capaz de conectar regulamentação e prática empresarial.
“O especialista desejado pelo mercado é o que conhece além do software. Seja no campo tributário ou tecnológico, é preciso entender os impactos do IVA Dual, dos regimes especiais e da lógica do split payment, traduzindo tudo isso em parametrizações, controles e análises dentro dos sistemas”, afirma Thaís Borges, Diretora Comercial e Marketing da Systax.
A necessidade surge a partir das transformações trazidas pela Reforma, que prevê a extinção de cinco tributos sobre o consumo – PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS – e sua substituição por um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de natureza dual. A nova estrutura é composta pelo CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), de competência federal, e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), de competência compartilhada entre estados e municípios.
Segundo a especialista, apesar da meta final da simplificação da tributação, a Reforma impõe um período de convivência com dois sistemas simultâneos. Para as empresas, isso significa operar com a lógica antiga e a nova ao mesmo tempo.
“A duplicidade regulatória torna a adaptação manual inviável e impõe uma pressão massiva sobre as ERPs. Esses sistemas, que controlam desde o faturamento até a gestão de estoque, precisam ser reconfigurados quase do zero para calcular, declarar e recolher impostos sob duas lógicas totalmente distintas ao mesmo tempo”, detalha Borges. Ela complementa ainda que a complexidade é agravada pela criação de novas plataformas de arrecadação e a introdução de mecanismos como o split payment, que automatiza a retenção de impostos em tempo real.
Escassez além da TI
Se, por um lado, faltam especialistas em ERP e integração sistêmica, por outro, há um movimento crescente de profissionais da área fiscal com preparo técnico e estratégico. Isso porque a Reforma vai exigir análises humanas em múltiplas frentes como as mudanças sistêmicas de campos e cadastros e impactos em obrigações acessórias. “Como será o início de uma jornada, além de análise dos impactos diretos, também é necessário validar os efeitos indiretos sobre precificação, fluxo de caixa, compliance e uma avaliação regulatória contínua”, reforça a executiva.
Borges destaca ainda que, com a implementação do split payment, prevista para 2027, a lógica muda radicalmente, pois, em muitas operações será o próprio fisco fazendo a retenção e dedução do tributo em tempo real. Isso significa uma atuação ainda mais próxima à de auditores fiscais internos, validando processos e conferindo a integridade das informações e cálculos realizados.
Novas funções em ascensão
Nesse cenário, surgem papéis inéditos, como o cientista de dados fiscais, que transforma exigências regulatórias em inteligência de negócios, e o PMO Tributário, gestor de projetos capaz de orquestrar áreas historicamente isoladas, como Fiscal, TI, Jurídico, Operações e Finanças.
Mas a especialista alerta que a disputa por talentos já está aquecida. “Não se trata apenas de contratar mais pessoas, mas de reter os profissionais certos. A tecnologia será o gatilho para isso. Quanto mais as empresas investirem em soluções robustas, mais esses profissionais terão condições de atuar estrategicamente, e não apenas de forma operacional. Isso aumenta engajamento, retenção e performance”, explica Borges.
O movimento revela uma mudança de mentalidade. A executiva da Systax alerta que neste momento, as empresas deixam de buscar apenas conformidade e passam a ver seus times fiscais e de TI como vetores de vantagem competitiva. “Para os profissionais, abre-se uma trilha de carreira promissora, em que gestão, comunicação e visão estratégica tornam-se competências críticas para liderar a travessia da Reforma”, conclui ela.
Fonte: Systax