Desde que lançou a placa para processamento gráfico (GPU), há 25 anos, a Nvidia percorreu uma trajetória muito próxima das pesquisas que levariam ao desenvolvimento da inteligência artificial como conhecemos hoje. Com foco em fornecer infraestrutura para essa área, a companhia promoveu sucessivos avanços em recursos computacionais.
Hoje, é a empresa com maior valor de mercado do mundo, superando gigantes da tecnologia como Microsoft e Apple. Recentemente, ganhou destaque como a primeira marca avaliada em US$ 4 trilhões, projeção que reflete a forte relação da empresa com os recentes avanços da IA.
“Às vezes perguntam qual solução que a Nvidia tem para IA. Nenhuma. Temos componente de hardware e software para desenvolver IA”, comenta o gerente de relacionamento com desenvolvedores da Nvidia para a América Latina, Jomar Silva. “A gente não faz bolo, mas a gente faz a farinha, o leite, o ovo e cada um vai fazer o bolo do jeito que quer.”
O executivo participou do Better Future, podcast do Jornal do Comércio, e falou sobre como o desenvolvimento de hardware está impulsionando tanto a evolução da IA quanto o crescimento da própria Nvidia.
Mercado Digital – A Nvidia é, hoje, a empresa mais valiosa do mercado. A inteligência artificial ajudou?
Jomar Silva — Sim. Existe uma simbiose entre inteligência artificial e a Nvidia. Todas as pesquisas de IA sempre tiveram muito relacionamento com a Nvidia, por conta da demanda e da necessidade de adequarmos o hardware para que eles possam investigar outras coisas. Tecnologias que mudaram o mundo da IA Generativa, começaram sendo feitas por software. É uma relação simbiótica mesmo, os pesquisadores sempre usando cada vez mais recurso computacional, a gente sempre tentando integrar mais, e o importante é sempre trabalhar com redução de consumo de energia, que esse é o grande desafio. Então, nos últimos oito anos, nós aceleramos 1 mil vezes a capacidade de processamento de inteligência artificial e reduzimos 45 mil vezes o consumo de energia por token gerado. Token é a base da IA generativa, que é o novo paradigma de inteligência artificial. Se a gente não tivesse alcançado isso, a gente não ia ter IA do jeito que temos hoje.
Mercado Digital- Tecnicamente, o que nos trouxe a esse momento de agora, 2025, em relação à inteligência artificial?
Silva — É uma convergência de muitas coisas, mas eu diria que as principais são a capacidade de processamento muito elevada a um custo muito acessível. Antigamente, para você fazer desenvolvimento com IA, a gente precisava usar supercomputadores. Isso era restrito a alguns centros de pesquisa que tinham uma grande infraestrutura e muito dinheiro para implementar aquilo. Ao trazer isso para dentro das GPUs, conseguimos disseminar esse conhecimento para toda a sociedade.
Cada vez mais a Nvidia cria ferramentas para desenvolvedores que simplificam mais o uso do hardware. Então, não é mais ciência de foguete trabalhar com GPU. Hoje é uma tecnologia que está muito acessível, inclusive para que a galera comece a estudar na universidade. Do lado da geração de demanda, a IA já opera em indústrias, na área médica, e em uma uma série de locais há muitos anos, mas são coisas que a gente não vê no dia a dia. E foi o chatGPT que entregou a inteligência artificial com IA generativa na mão de todas as pessoas. Essa convergência, principalmente de capacidade computacional a um custo muito acessível, é o que nos permite estar onde estamos hoje.
Mercado Digital – Como é a relação da Nvidia com as startups e com o ecossistema de inovação?
Silva — Temos milhares de startups no nosso programa de startups Inception, e o que o Jensen Huang, fundador e CEO da Nvidia, fala é que a próxima empresa de US$ 1 trilhão faz parte desse programa hoje. A gente só não sabe qual é, mas ela faz parte do programa.
A condição de igualdade para competir depende muito de como aplicar a tecnologia. Essa possibilidade de ter acesso rápido à tecnologia no momento que ela nasce, a utilização de muito software open source são catalisadores disso que a gente tem hoje, desse boom de startups, trabalhando com IA. E eles são os caras que desenvolvem a solução que chega ao usuário final. Às vezes, perguntam qual solução que a Nvidia tem para IA. Nenhuma. Temos componente de hardware e software para desenvolver IA. A gente não faz bolo, mas a gente faz farinha, faz leite, faz ovo e cada um vai fazer o bolo do jeito que quer. A inovação acontece nesses momentos.
Mercado Digital – Qual a sua avaliação sobre as startups aqui da América Latina?
Silva — Na América Latina, temos mais de 1,2 mil startups no Inception. Eu adoro conversar com todo mundo. O que você puder imaginar de loucura com inteligência artificial, tem alguém fazendo, desde criação publicitária até aplicações para problemas muito pontuais e regionais.
Quando eu entrei na Nvidia, há três anos e meio, as startups chegavam no Inception e falavam: sou uma startup de IA. Todas eram startups de IA. Hoje não. Agora, falam: sou uma startup de clima. Quando você vai ver o core que ela faz, inteligência artificial. Então é muito legal ver que os desenvolvedores e os empreendedores aqui na América Latina já se apropriaram da inteligência artificial. Uma vez que alguém conheça muito bem um problema, aplicar IA para resolver aquilo não é mais ciência de foguete, é tranquilo de fazer. Com isso, a gente tem inovações maravilhosas acontecendo em todos os lugares aqui da região.
Mercado Digital – Em qual parte do processo da IA o Brasil tem mais chances de se inserir realmente como uma referência?
Silva — Tem áreas aqui na América Latina e no Brasil que a gente pode se destacar globalmente na aplicação de IA. Uma delas é agricultura e toda a indústria pecuária. Tem uma startup chamada Biofy de Uberlândia. Se você vê o que esses caras fazem com engenharia genética, com sequenciamento de DNA e com investigação de defensivo agrícola não agressor para o meio ambiente, é um absurdo. E tudo usando IA. Tem uma praga que ataca a plantação de maçã. O tradicional é usar veneno naquilo tudo. Eles desenvolvem um fungo que só vai matar o bichinho e não vai fazer nada para a plantação. Isso não é ficção científica, é feito aqui.
Então, essas aplicações, como a do agro é um grande negócio do Brasil. O mesmo vale para a manufatura, porque a gente tem desafios muito grandes em redução de custo e eficiência operacional.
O mesmo vale para a manufatura, porque a gente tem desafios muito grandes em redução de custo e eficiência operacional. Na área de smart cities e de segurança, a gente tem muito problema ainda. Se olharmos as grandes dores que a gente tem no Brasil e olhar para fora, você vai descobrir que elas são muito parecidas com dores de outros lugares. Se focar nisso, a gente consegue tirar grandes empresas daqui.
Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/colunas/mercado-digital/2025/10/1220716-ha-uma-simbiose-entre-ia-e-a-nvidia-aponta-jomar.html