A nova versão da novela Vale Tudo, exibida pela Rede Globo, reacendeu não apenas memórias afetivas da televisão brasileira, mas também reflexões duras sobre a atualidade. Entre os muitos temas retratados pela trama, um se destaca pela sua força e proximidade com a vida real: a fraude familiar.
Logo nos primeiros capítulos, a protagonista Raquel (Thaís Araújo) perde a casa — único patrimônio da família — após a filha, Maria de Fátima (Bella Campos), vender o imóvel em busca de ascensão social, motivada pelo desprezo à vida simples ao lado da mãe. O episódio revela que corrupção moral e desvios de caráter não estão restritos a gabinetes ou empresas: também podem nascer dentro de casa. Pais, filhos, cônjuges e irmãos se envolvem em esquemas de manipulação financeira e emocional, aproveitando-se da confiança que deveria ser inabalável. É uma representação cruel, mas fiel ao que acontece fora da ficção.
Exemplo disso ocorreu no início deste ano, em Teresina (PI), quando uma idosa de 72 anos perdeu a casa após a filha adotiva vender o imóvel sem seu consentimento. Casos como esse não são isolados: a fraude familiar é mais comum do que se imagina no Brasil. De golpes digitais aplicados por parentes próximos a disputas por herança transformadas em batalhas judiciais, passando por manipulações financeiras contra idosos — cada vez mais vulneráveis em um mundo hiperconectado —, a lista é extensa. E o impacto vai além das perdas materiais: quando o golpe vem de dentro da família, a vítima também perde a referência de segurança e pertencimento.
Esse fenômeno expõe uma ferida cultural: a crença de que laços de sangue bastam para blindar contra abusos. A novela mostra justamente o contrário: relações familiares podem se transformar em terreno fértil para a fraude quando ética e confiança cedem espaço à ganância.
Além das perdas financeiras, há um trauma silencioso que precisa ser reconhecido: o abalo psicológico. A sensação de ter sido enganado por alguém próximo compromete a saúde emocional da vítima, que muitas vezes enfrenta vergonha, medo de julgamento e até dificuldades em buscar ajuda. A solidão que acompanha esses casos contribui para que muitas histórias permaneçam ocultas, aumentando a vulnerabilidade de quem já foi lesado.
Por isso, a conscientização tem um papel essencial. Educação digital e orientação financeira devem ser tratadas como parte da rotina familiar, da mesma forma que se fala sobre saúde ou segurança física. Criar uma cultura de prevenção, baseada no diálogo e na informação, ajuda a reduzir o espaço para manipulações e fortalece laços de confiança verdadeiros — justamente o contrário do que a fraude familiar busca destruir.
Como se proteger
Apesar do cenário preocupante, é possível adotar medidas preventivas. O primeiro passo é proteger suas credenciais: nunca compartilhe senhas, mesmo com familiares, e trate dados biométricos como pessoais e intransferíveis. Em seguida, ative a autenticação multifator (MFA) em serviços financeiros e digitais, e mantenha o hábito de monitorar regularmente suas contas. Sempre que possível, utilize alertas de transações bancárias, recurso presente em muitos aplicativos, para identificar movimentações suspeitas.
O enfrentamento à fraude familiar não depende apenas dos indivíduos. Bancos, fintechs e demais organizações financeiras precisam reforçar processos de verificação de identidade, investir em sistemas de detecção em tempo real e em soluções de orquestração de fraudes, capazes de reduzir as brechas exploradas por quem possui acesso privilegiado.
A grande lição que a ficção e a vida real nos oferecem é clara: confiança é um ativo frágil e insubstituível. Perder dinheiro é ruim; perder a confiança em quem amamos é devastador. O desafio, no mundo digital, é criar mecanismos que protejam as relações daquilo que mais as ameaça — a vulnerabilidade da intimidade transformada em golpe.
Assim como Raquel precisou recomeçar após a traição de Maria de Fátima, vítimas de fraude familiar precisam de suporte para reconstruir não apenas seu patrimônio, mas também sua fé nas relações humanas. A tecnologia pode — e deve — ser uma aliada nesse processo.
Contatos para a imprensa: Capital Informação
Por Leonardo Cesário, Delivery and Sales Engineer Brasil da VU
Fonte Oficial: https://www.contabeis.com.br/artigos/73543/fraude-familiar-saiba-como-se-proteger/