José Goldemberg é um dos homenageados da primeira temporada do projeto Notáveis — iniciativa dedicada a retratar as experiências, os valores, as memórias e a contribuição de quatro personalidades para as realidades socioeconômica, jurídica, cultural e intelectual brasileira. O projeto é uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
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José Goldemberg é físico, professor e administrador gaúcho, reconhecido internacionalmente pela contribuição nas áreas de Energia Nuclear e Meio Ambiente. Goldemberg nasceu em 1928, no município de Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, filho de imigrantes da Bessarábia, antigo Império Russo. O físico é presidente do Conselho de Sustentabilidade e do Comitê de Energia da FecomercioSP.
De infância humilde, Goldemberg passou grande parte da juventude com o pai, Jacob, e as três irmãs, Anita, Fani e Rosa, que cuidaram dele após a morte prematura da mãe, Bertha.
A mudança para Porto Alegre quando ainda era criança foi uma tentativa de progresso na qualidade de vida e nas oportunidades. Na cidade grande, Goldemberg estreitou laços com os estudos, no tradicional Colégio Júlio de Castilhos. Incentivado pelos professores, o estudante ruma à São Paulo acompanhado da família, com o intuito de ingressar na Universidade de São Paulo (USP). Em 1947, foi aprovado no curso de Física — os porquês sempre lhe interessaram.
Ainda na graduação, destacou-se como um exímio — e jovem — cientista, que questionava os métodos utilizados pelos colegas na área de Energia Nuclear. O Betatron foi o seu primeiro contato com um acelerador de partículas, aparelho fonte de trabalho de importantes físicos, como Marcello Damy e Oscar Sala. Indicado por David Bohr, Goldemberg passa a estudar com o mesmo modelo acelerador na Universidade de Saskatchewan, no Canadá. Em 1953, o físico volta ao Brasil e logo se integra ao programa de doutorado da USP, tornando-se um dos primeiros a obter o título na universidade. No ano seguinte, 1954, Goldemberg inicia a livre docência na mesma universidade.
Em 1961, é convidado pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos, para pesquisar em um acelerador linear. O profícuo contrato de dois anos resultou na publicação de cerca de dez trabalhos nas melhores revistas científicas do país norte-americano. Nos anos seguintes, foi convidado a lecionar na renomada Universidade de Paris. A passagem foi curta: o agravamento do estado de saúde da esposa, Penina, levou o físico de volta ao Brasil. Penina Goldemberg faleceu pouco depois da chegada ao país.
No campo da Energia Nuclear, mostra-se veementemente contra a utilização da área para fins não pacíficos. Durante a ditadura, foi um nome de peso contra a importação de tecnologia alemã e o processo de enriquecimento de urânio, articulados pelos militares. A política do então presidente Ernesto Geisel, criticada por Goldemberg e projetada com apoio alemão, além de não valorizar a ciência e os cientistas nacionais, tinha como objetivo final a produção de armas de destruição em massa.
Entre a ciência e a resistência
Goldemberg viveu momentos de muita incerteza durante a ditadura brasileira. Ele acredita não ter sido preso e torturado justamente por ser um nome fundamental na questão nuclear no Brasil, área de interesse dos militares. Apesar da relevância pública, o seu nome não deixou de ser vigiado de perto pelo Sistema Nacional de Informações (SNI).
Durante a prisão do filho, Clóvis, o professor se viu enfrentando diretamente essa opressão. Na busca por ele, recorreu ao suporte da comunidade acadêmica, assim como ao então reitor da USP, Orlando Marques de Paiva, que facilitou o acesso de Goldemberg à localização de Clóvis. O processo envolvendo a prisão tramitou por cerca de um ano, e, nesse ínterim, os estudantes envolvidos em uma suposta palestra comunista nas instalações do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) foram expulsos da instituição e realocados na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Clóvis e José Goldemberg estavam sendo continuamente investigados pelo regime — pilhas de supostas contravenções foram apresentadas ao professor durante o processo, que reagiu com tranquilidade ao saber da vigilância.
Gestão pública e Rio‑92
A partir dos anos 1980, Goldemberg dedicou-se à administração pública, marcando presença em cargos de notoriedade. Entre 1982 e 1985, foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e membro do conselho da Eletrobras; entre 1986 e 1990, exerceu o papel de reitor da Universidade de São Paulo (USP), reformando o estatuto da instituição. No ano de 1981, foi nomeado como presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mas teve a posse vetada pelo SNI. Em 2015, ocupou a presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), deixando o cargo em 2018.
Durante o governo Collor (1990–1992), ficou à frente do Ministério da Educação, do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Secretaria Nacional do Meio Ambiente, sendo um importante conselheiro do presidente. Goldemberg foi um dos responsáveis pela organização da histórica Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Entre 2002 e 2006, Goldemberg foi Secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo durante a gestão de Geraldo Alckmin.
Entre diversos prêmios e posições de prestígio, foi eleito, em 2007, pela revista Time como um dos 13 Heróis do Meio Ambiente na categoria Líderes e Visionários. O físico também carrega o título de doutor honoris causa pelo Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), assim como uma cátedra com o seu nome na Universidade de Tel Aviv. Em 1995, recebe a Grã-Cruz Ordem Nacional do Mérito Científico, e no mesmo ano, torna-se membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Goldemberg é casado com Tereza, pai de quatro filhos e avô de cinco netos. Hoje, aos 97 anos, continua ativo no Conselho de Sustentabilidade e no Comitê de Energia da FecomercioSP. É professor emérito na USP e segue sendo referência em assuntos como energia sustentável. A sua vida é cercada de episódios marcantes, tanto para a vida pessoal quanto para a história nacional.
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Fonte Oficial: https://www.fecomercio.com.br/noticia/jose-goldemberg-referencia-global-em-energia