Abram Szajman é um dos homenageados da primeira temporada do projeto Notáveis — iniciativa dedicada a retratar as experiências, os valores, as memórias e a contribuição de quatro personalidades para as realidades socioeconômica, jurídica, cultural e intelectual brasileira. O projeto é uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
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Presidente da FecomercioSP desde 1984, Abram Szajman é considerado um dos homens de negócios mais bem-sucedidos do País. Fundador da Vale Refeição (VR), empresa que liderou o mercado e virou referência no segmento de refeições conveniadas, é um dos principais interlocutores dos setores de Comércio, Serviços e Turismo. Crítico dos rumos político-econômicos do Brasil, defende medidas para um ambiente de negócios mais favorável à geração de empregos e renda.
Os pais, judeus poloneses, vieram do Leste Europeu para o Brasil em 1933 e se instalaram no Bom Retiro, onde Abram nasceu, em 20 de julho de 1939. A infância foi pobre — o pai trabalhava com costura de roupas —, mas o garoto cresceu respirando a atmosfera multicultural do bairro paulistano, próximo à Estação da Luz, conhecido por receber imigrantes e receptivo para o desenvolvimento de atividades comerciais.
Menino de uma família simples, jogava futebol com bola de meia nas ruas, algumas ainda de terra. Na adolescência, gostava de frequentar o cinema e o teatro, além do Estádio do Pacaembu para ver os jogos do Corinthians. Aos dez anos, após concluir o curso primário no Grupo Escolar Prudente de Moraes, colégio público situado no Jardim da Luz, começa a trabalhar como office-boy na loja do tio, Isaac Kupfer, uma malharia na Rua Ribeiro de Lima. Aos poucos, passa a atender a clientela e, com o tempo, vira uma espécie de “faz-tudo” do estabelecimento. Conforme aprende as coisas com o tio e avança no estudo de técnicas comerciais, utiliza os novos conhecimentos para ajudar o pai, à noite, a organizar melhor a pequena oficina de confecções que mantinha no porão de casa. Os anos de trabalho na empresa familiar foram um aprendizado para, mais tarde, criar o próprio negócio.
Fez o curso comercial básico na Escola de Comércio Tiradentes, no Bom Retiro. Em 1957, concluiu o curso técnico em Contabilidade na Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), no Largo São Francisco. Passa, então, a se interessar por temas ligados ao Direito — especialmente o sistema tributário —, à legislação e à contabilidade bancária.
Casa-se com Cecília, que conhecera no Guarujá, litoral de São Paulo, em 8 de setembro de 1968. O primeiro filho, Claudio, nasceu em 1969; o segundo, André, em 1971; e Carla, em 1974. Abram mantinha uma intensa jornada de trabalho na Eneri, empresa do ramo têxtil, à qual acrescentara a atividade sindical. Em 1968, filia-se ao sindicato patronal do setor em que atuava e também ao Centro do Comércio do Estado de São Paulo. A atuação nessas organizações leva-o a postos de direção e à indicação para o Conselho de Representantes da FecomercioSP. Em 1969, é eleito para o Conselho do Senac, e em 1972, para o Conselho do Sesc.
Modernizações do Sesc e do Senac
Torna-se o diretor mais assíduo da Federação. A partir de 1971, ocupa sucessivamente os cargos de tesoureiro, vice-presidente e presidente, reeleito desde 1984. A posse como presidente reuniu mais de 3 mil pessoas, dentre elas o então presidente da República, João Baptista Figueiredo. Durante o tempo em que ocupou a Tesouraria, consolidou o seu prestígio interno como homem de decisões firmes, discreto e aberto ao diálogo.
Logo que assume a presidência, põe em prática um plano de emergência para a reestruturação das entidades. No Senac, foram realizadas as reconstruções financeira, administrativa e programática, acompanhando a evolução tecnológica. A entidade foi uma das primeiras a oferecer curso de informática em São Paulo. No Sesc, dinamizou o programa de expansão física e de diversificação de suas atividades, que passava do trabalho tradicional, baseado nos centros sociais, para a criação de um número maior de centros culturais e desportivos.
Uma das suas principais qualidades é a habilidade para congregar mentes notáveis. A consolidação de Danilo Santos de Miranda, Luiz Francisco de Assis Salgado e Antonio Carlos Borges — à frente do Sesc, do Senac e da FecomercioSP, respectivamente — foi reconhecida como fundamental para o sucesso das três instituições. O empresário é conhecido pelo hábito de ouvir opiniões e pela coragem de tomar decisões e assumir o ônus, além do pragmatismo de delegar e da responsabilidade de cobrar. Tem gosto pelo trabalho intenso e prazer pela realização.
Reconhecimento nacional e transformação da FecomercioSP
O trabalho realizado à frente das entidades do Comércio projeta Abram nacionalmente. Em 1988, é cogitado como candidato a prefeito de São Paulo. Em 1992, o então prefeito Paulo Maluf anuncia Szajman como futuro secretário da Administração. O empresário, no entanto, enxerga um conflito de interesses e não assume o cargo — a VR era fornecedora da prefeitura. Corinthiano desde a infância no Bom Retiro, em 2002 o seu nome é cogitado para a presidência do clube.
Em 2004, decorridas mais de seis décadas de sua fundação (em 1938), a FecomercioSP passa a ter sede própria. Com cinco andares, o prédio foi erguido na Bela Vista, ao lado da Avenida Paulista. O Sesc amplia as atividades de cultura, esportes e lazer, enquanto o Senac estende amplamente a área de atuação na formação profissional.
Desde que assumiu a presidência da FecomercioSP, liderou transformações de grande impacto socioeconômico. Pragmático, estruturou um modelo de administração que permitiu o aprimoramento dos serviços prestados pela Federação, pelo Sesc e pelo Senac. Trabalhou para a evolução patrimonial da FecomercioSP e para que a Entidade não dependesse exclusivamente da contribuição obrigatória, passando a desenvolver trabalhos nos campos da pesquisa econômica e na divulgação do conhecimento técnico, além de outros serviços que envolvem a atividade comercial.
A abordagem aberta a novas tecnologias e metodologias de ensino tornou o Senac modelo no campo da educação voltada para o trabalho. Graças a uma profunda reestruturação executada ainda nos anos de 1980, ao longo de quatro décadas, a rede aumentou de 22 para 63 unidades educacionais, três campi universitários e dois hotéis-escola. A oferta contínua de ensino de excelência e um programa de gratuidade possibilitaram a marca de mais de 10 milhões de atendimentos.
A estratégia adotada no Sesc foi a de levar as unidades para perto das casas das pessoas, cuja maioria não era atendida por políticas públicas eficazes. O plano de oferecer a oportunidade de crescimento pessoal, participação social e acesso aos bens culturais conferiu ao Sesc um salto de 9 para 43 unidades operacionais. Nos próximos anos, mais 12 serão inauguradas, além de reformas e ampliações. O caráter socioeducativo das ações do Sesc é, hoje, reconhecido como essencial nas promoções do bem-estar e da qualidade de vida.
O plano estratégico de expansão visa tanto levar novas unidades para as periferias — por exemplo, para os bairros de São Miguel Paulista, no extremo leste, e Campo Limpo, na zona sul — como recuperar prédios tombados por órgãos de preservação dos patrimônios histórico e artístico, sobretudo na região central, devolvendo-os à população. É o caso do tradicional Edifício João Brícola, em frente ao Theatro Municipal, nova sede administrativa da instituição.
Durante a gestão de Abram, houve a afirmação da imagem, da credibilidade e da reputação da FecomercioSP, que foi elevada a um outro patamar e passou a ser mais reconhecida perante imprensa, empresários e opinião pública. Além do trabalho de representação empresarial, a Federação passou a ser referência para posicionamentos relevantes em relação aos rumos que o País tomava nas áreas Econômica e Social.
Legado, vida pessoal e atuação social
Szajman tem sido um contundente apoiador da modernização do Estado. Defendeu os princípios da economia de mercado, a liberdade para empreender, a simplificação tributária, a redução da burocracia, a abertura comercial, o tratamento diferenciado às Pequenas e Médias Empresas (PMEs), a modernização das leis trabalhistas (preservando direitos e garantias) e uma agenda de reformas estruturais focadas em mais eficiência estatal e melhoria dos serviços públicos. Sob a sua condução, a FecomercioSP incumbiu-se de uma agenda de pleitos fundamentais para o ambiente de negócios, contribuindo para a formulação da Constituição de 1988; a elaboração da Lei Geral da Pequena Empresa; as criações do Simples Nacional, do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD); a extinção da CPMF; e as reformas da Previdência e Tributária.
Foi o primeiro empresário a presidir o Sebrae-SP desde que o órgão fora desvinculado da administração pública, no início da década de 1990. Abram assumiu uma entidade em sérias dificuldades financeiras e promoveu as organizações administrativa e operacional e a expansão dos pontos de atendimento. Por sua iniciativa, as primeiras unidades com programas de capacitação técnica foram levadas ao interior paulista para apoiar micro e pequenos empresários não apenas do Comércio e dos Serviços, mas também da Indústria e do Agronegócio.
A despeito de todo o tempo dedicado à FecomercioSP, a vida empresarial prosseguiu e continuou intensa. Como empresário, atuou no ramo imobiliário e no setor de Turismo. A VR Benefícios foi criada em 1977, a partir da instituição do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). O começo foi difícil, em um mercado bastante competitivo e dominado pela gigante Ticket. A empresa, que tinha três funcionários e ocupava apenas dois pequenos conjuntos de salas na Avenida Paulista, atualmente fornece mais de 3 milhões de refeições por dia. Desde 2003, as grandes decisões do Grupo VR são tomadas por um conselho familiar. Abram passou aos filhos as principais funções executivas no grupo.
Homem de hábitos simples e metódico, aos domingos lê os dois principais jornais e revistas. Não se considera uma pessoa religiosa, mas vai à sinagoga, respeitando as datas e as celebrações judaicas para manter as tradições e preservá-las na família — que, aliás, cresceu. Hoje são dez netos, uma formada em história na Penn University, um fazendo Economia em Boston e outro tentando o vestibular do Insper.
O empresário apoia, financeiramente ou com trabalho, diversas instituições assistenciais e filantrópicas — mas procura agir de maneira discreta. Participa de conselhos como o do Hospital Israelita Albert Einstein e do Incor. Foi um dos fundadores do Instituto São Paulo Contra a Violência e aceitou convite da Anistia Internacional para ser, no Brasil, um ativista dos direitos humanos. Tornou-se benemérito da Casa Hope, uma ONG do segmento oncológico, e foi presidente da Casa de Cultura de Israel.
Em 2024, encampou novas mudanças na FecomercioSP. A Entidade inaugurou uma nova sede, na região da Faria Lima, “coração financeiro” da cidade. Pensado para oferecer comodidade e bom atendimento às mais de 130 entidades sindicais patronais filiadas e à classe empresarial, o novo prédio dispõe de moderna infraestrutura tecnológica e reflete a conexão da Federação com as práticas atuais do mercado.
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Fonte Oficial: https://www.fecomercio.com.br/noticia/abram-szajman-lideranca-e-representatividade