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“Nunca estamos satisfeitos”: CEO do CESAR explica como o centro se mantém na vanguarda tecnológica há 30 anos

Há quase três décadas, um grupo de professores da Universidade Federal de Pernambuco teve uma inquietação que mudaria o ecossistema de tecnologia do Nordeste – o CESAR. Era 1996, a internet começava a chegar ao Brasil, e eles observavam um êxodo preocupante: os melhores alunos do então Departamento de Informática partiam para São Paulo ou deixavam o país em busca de oportunidades.

“Eles entenderam que precisavam reter esses alunos aqui, porque a economia seria muito mais digital”, explica Eduardo Peixoto, CEO do CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife). A solução foi criar uma ponte entre a academia e o mercado, uma organização capaz de aplicar o conhecimento de ponta que estava sendo gerado na universidade para resolver problemas reais das empresas.

Hoje, o CESAR reúne entre 1.300 e 1.400 pessoas, sendo cerca de 800 delas em Recife e as demais espalhadas pelo Brasil. A organização atua em três frentes principais: inovação com grandes empresas, impulsionamento de startups e educação voltada para tecnologia e empreendedorismo.

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Nunca estar satisfeito

Para Peixoto, a cultura de inquietação está no DNA do CESAR desde sua fundação. “Um dos princípios que a gente tem é a coisa chamada nunca estarmos satisfeitos”, afirma. Essa insatisfação, segundo ele, se manifesta na busca constante por excelência e na convicção de que sempre é possível fazer melhor e entregar mais.

A conexão com a universidade mantém o CESAR em constante diálogo com o futuro. “Parece que a gente tá se antecipando o tempo inteiro ao futuro”, diz o CEO, destacando que esse olhar para a vanguarda permitiu ao centro criar empresas pioneiras em seus segmentos.

Entre os casos de sucesso estão a Neurotech, que no início dos anos 2000 já usava redes neurais e machine learning para avaliação de risco de crédito quando o mercado ainda trabalhava com planilhas eletrônicas – e foi comprada pela B3 por mais de R$ 1 bilhão, e a Tempest, empresa de cibersegurança que se tornou uma das mais importantes do Brasil e foi adquirida pela Embraer em 2020.

O desafio do capital de risco no Nordeste

Mas nem tudo são flores na jornada do CESAR. Peixoto é direto ao apontar o principal obstáculo para o ecossistema de inovação na região: “Tem uma falta de capital de risco aqui, principalmente no Nordeste, muito grande”.

Ele conta que essa escassez fez o centro perder oportunidades valiosas, como uma empresa de games para mobile nos anos 2000. “Se tivesse capital de risco, a gente teria segurado até o iPhone aparecer, até o Android, que aí muda o jogo”, lamenta. Na época, o modelo de distribuição através de operadoras cobrava pelo kilobyte baixado e pagava apenas 30% do valor da aplicação aos desenvolvedores, tornando o negócio inviável.

Essa experiência levou o CESAR a repensar seu modelo de atuação com startups e desenvolver uma abordagem única no mercado.

Tech Venture Building: o modelo exclusivo do CESAR

A solução encontrada foi criar o que o CESAR chama de Tech Venture Building. O modelo é engenhoso: em vez de investir dinheiro próprio, a organização capta recursos de fomento à inovação para desenvolver ou aprimorar a tecnologia de startups, recebendo em troca uma opção de compra de participação na empresa.

“Vamos captar recurso de fomento para desenvolver tecnologia e trocar a tecnologia por participação na startup”, resume Peixoto. Quando há uma rodada de investimento, o CESAR vende a opção e pode reinvestir em outras startups, criando um ciclo virtuoso.

Para participar do programa, as startups passam por um processo de screening que avalia se são de base tecnológica, têm potencial de escala e podem gerar impacto positivo social ou ambiental. A Embrapa é uma das principais parceiras no fornecimento de recursos de fomento, junto com o Sebrae.

Atualmente, o portfólio conta com 12 a 15 startups investidas nesse modelo, com capacidade de adicionar de 4 a 5 por ano. “O ideal é que a gente tivesse recurso para investir umas 10 a 20 por ano”, projeta o CEO.

Além dos investimentos diretos, o CESAR mantém outras iniciativas para movimentar o ecossistema, como o Dates (sigla em inglês para “datas”), uma plataforma de matchmaking entre investidores e startups que reúne entre mil e duas mil empresas cadastradas.

2026 será focado em IA e expansão

Para o próximo ano, o CESAR traça planos ambiciosos em suas três frentes de atuação. Na área de ventures, a meta é dobrar o número de startups impulsionadas e intensificar os investimentos no portfólio. Para isso, o centro busca atrair mais capital de risco para a região através de parcerias como o fundo de R$ 100 milhões lançado com o BNB e a Triax, focado exclusivamente em startups do Nordeste, e a chegada do BR Angel, fundo de anjos de São Paulo que está se estabelecendo em Recife.

Na frente de inovação corporativa, o foco permanece nos setores prioritários: óleo e gás, energia elétrica, automotivo, financeiro, educação e eletroeletrônico.

Mas é na educação que podem estar acontecendo as transformações mais profundas. O CESAR atende hoje cerca de 1.800 alunos na graduação e 3.800 quando somados mestrado, doutorado e cursos livres. A meta é chegar a 4.000 alunos na graduação, e a organização estuda expandir para outros estados.

No entanto, o grande experimento está na própria forma de ensinar. Desde 2006, o CESAR usa o PBL (Problem Based Learning), metodologia que integra educação e inovação, fazendo com que alunos trabalhem em problemas reais de grandes empresas. Agora, com a inteligência artificial generativa, a questão é: será que o PBL evolui para um AIBL (AI Based Learning)?

“A gente está fazendo os experimentos. E a gente vai intensificar o que a gente está experimentando a partir do ano que vem”, revela Peixoto. Com a abordagem de quem nasceu de um centro de pesquisa, o CESAR se prepara para conduzir essa transformação com método científico: fazer perguntas, experimentar, aprender com os resultados e melhorar.


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Fonte Oficial: https://startupi.com.br/nunca-estamos-satisfeitos-ceo-do-cesar/

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