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Descomoditização amplia horizontes para os produtores rurais

Ana Esteves, especial para o JC*

Descomoditizar é uma palavra difícil de falar, é preciso ler devagar para se acostumar com a sonoridade e não errar a pronúncia. Significa pensar fora da caixa e, no âmbito do agronegócio, transformar produtos e serviços em experiência e de buscar um modelo de negócio diferente. O certo é que, muito em breve, a descomoditização vai se popularizar, deixar de ser um termo e uma prática desconhecidos, pois já começa a ser vista como a nova onda do agronegócio, em especial para quem quer se diferenciar para não cair da vala comum.

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Na prática, é possível trabalhar a descomoditização da carne bovina à noz pecã


Kéke Barcellos/Embrapa Pecuária Sul/Divulgação/JC

Descomoditizar é pensar fora da caixa e, no âmbito do agronegócio, esse conceito conquistou os corações e mentes de quem percebeu a importância de transformar produtos e serviços em experiência e de buscar um modelo de negócio diferente. Trata-se da transição do agronegócio de um foco na produção de commodities genéricas para um modelo que agrega valor através de marca, qualidade e origem. Isso envolve a especialização, o uso de tecnologias de ponta, como Inteligência Artificial (IA), drones, agricultura de precisão, além da adoção de práticas sustentáveis, como descarbonização e certificações de sustentabilidade, para criar produtos únicos, diferenciados e com maior valor percebido pelo mercado.

Na prática, é possível trabalhar a descomoditização da carne bovina à noz pecan, de bioinsumos às chamadas pulses, ou sementes secas comestíveis de leguminosas. É possível descomoditizar até a Bolsa de Valores, com o movimento dos BRICS de criar uma bolsa paralela para fugir da dolarização e de Chicago, a partir de uma moeda própria do agro.

Outro exemplo é a lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR) que pode descomoditizar o agro brasileiro exigindo comprovação de origem livre de desmatamento e degradação ambiental de commodities como soja, óleo de palma, café, madeira e carne que precisarão comprovar sua origem livre de desmatamento e degradação florestal (começando a contar de 31 de dezembro de 2020) se quiserem vender para a Europa. “Deixa de ser uma commodity simples, porque agora teremos uma soja com rastreabilidade e outra não. Um milho com rastreabilidade e outro não, mesmo dando o mesmo resultado para produtividade de biocombustíveis ou ração animal”, explica Paulo Costa, o diretor da House Of Carbon.

A descomoditização está baseada em três premissas: a construção de uma identidade própria para o produto, saindo da vala comum e criando um reconhecimento no mercado, o investimento em qualidade, ou seja, em elevar o padrão do produto para além do básico, oferecendo características que justifiquem um preço mais alto e a origem comprovadamente sustentável do produto, através de certificações e rastreabilidade, agregando valor à sua produção. O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz cita o exemplo da carne bovina gaúcha como produto candidato à descomoditização por todos os diferenciais que apresenta, como a criação a campo e o uso de raças britânicas, animais com mais de um século de desenvolvimento genético. “Os gaúchos produzem uma carne de nicho, o restante do Brasil produz commodities com o uso de raças zebuínas. O Estado tem espaço grande para descomoditizar a carne pelas características de criação e também pela proposta de novos cortes e pelo apelo ambiental”, avalia o especialista.

Por outro lado, Luz destaca que produtos como a soja têm demanda alta no mercado internacional e que produtores devem seguir orientados por ela e plantar aquilo que o comprador busca. “Se todos resolverem plantar morango e mirtilo, o mundo vai ter escassez de soja, de arroz, de milho. Mas não podemos fechar os olhos para as oportunidades que surgem”, pondera. Na sua essência, os cultivos do Rio Grande do Sul são diversos: um exemplo é o crescimento do plantio de oliveiras, de noz pecã e do deslocamento de produção de uva para outras regiões diferentes da Serra Gaúcha, como a Campanha e a Fronteira Oeste.

A campo, o processo de descomoditizar tem se desenvolvido a partir de investimentos em inovação e tecnologia, com o uso da Agricultura de Precisão: sensores, drones e Inteligência Artificial para otimizar a produção. Através da digitalização com a adoção de softwares de gestão e outras tecnologias para aprimorar as operações. O foco na sustentabilidade também tem permitido que muitas empresas se diferenciem e acessem mercados de maneira mais eficiente a partir de medidas de descarbonização, com a implementação de programas que comprovam a sustentabilidade das práticas de produção. Com as certificações ou selos que atestam práticas como “livres de desmatamento” e “não transgênicas”.

Criar laços diretos com consumidores faz parte da estratégia

Startups desenvolvem métodos de catalogação das sementes mais adequadas e melhor momento para plantar


SATIS/DIVULGAÇÃO/JC

Para agregar valor aos produtos, a descomoditização prevê a criação de laços diretos com os consumidores, de olho nas necessidades e preferências deles. Entre os benefícios, estão maior retorno financeiro ao sair da disputa por preço e focar na construção de valor, além da diferenciação, com a criação de uma identidade única para os produtos, que não sejam facilmente comparáveis ou substituídos pelo mercado e da conquista de consumidores e mercados que valorizem produtos sustentáveis, inovadores e de origem rastreável.

“Ao descomoditizar teremos uma margem melhor, um lucro operacional líquido, depreciações, amortizações (EBITDA) acima de 30%, um NPS (mede a satisfação e lealdade do cliente) acima de 9% e um CHURN (mede a perda de clientes) perto do zero”, afirma Maurício Schneider, co-fundador da Solubio, Empreendedor Endeavor, investidor-anjo e membro do Acelerate 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

Entre os produtos que entraram na onda da descomoditização estão os novos bioinsumos, a integração de dados para tomada de decisão, principalmente ligada ao clima para definir janela exata de plantio, com o uso de Inteligência Artificial. Um trabalho que vem sendo desenvolvido por startups que desenvolveram métodos de catalogação das sementes mais adequadas, e melhor momento para plantar. O objetivo é ajudar os produtores em época de estiagem ou de enchentes severas.

Schneider dá algumas dicas sobre como agregar valor aos produtos: primeiro, na diversificação de culturas, pois “não dá mais só para ficar na soja, milho e trigo”. Os pulses (sementes secas comestíveis de leguminosas) são uma alternativa, em função dos acordos do Brasil com os países, com China, referentes a essa cultura.

“Já mostrou que pode rentabilizar melhor, mesmo que se produza menos, há um maior valor agregado. Mas a gente sabe que o agricultor gaúcho é muito cabeça dura para pensar nesse tipo de diversificação. Quando olhamos o produtor do Centro-Oeste, já temos muito grande produtor com 30 mil hectares de soja, algodão, começando a investir na diversificação: gergelim, feijão e por aí vai”, critica.

Segundo Schneider, no Brasil, o pecuarista é incentivado a produzir por quilo, que é “inversamente proporcional à qualidade”, pois quanto mais rápido se engorda o gado, mais se perde o marmoreio e a maciez. A mudanças dos cortes de carne também são citada como opção de descomoditização. “O Denver Steak, o Prime Rib, que são coisas que a gente começa a ver no Rio Grande do Sul, mas que tem que acelerar mais”.

Lei antidesmatamento da União Europeia pode repercutir nas produção agropecuária brasileira

Exportadores de soja devem comprovar origem de regiões livres de desmatamento


R. Rufino/Embrapa/Conab/Divulgação/JC

Os grandes exportadores brasileiros de soja, óleo de palma, cacau, borracha, café, madeira e carne têm um grande desafio a ser cumprido a partir de 30 de dezembro de 2025: comprovar que seus produtos são oriundos de regiões livres de desmatamento, caso pretendam seguir exportando para a Europa.

A European Union Deforestation Regulation (EUDR) é uma lei de Regulamentação de Produtos Livres de Desmatamento que pode descomoditizar o agro brasileiro, pois os produtos deixarão de ser uma commodity simples. “Agora teremos soja, milho e outros produtos com rastreabilidade e outros não”, explica Paulo Costa, o diretor da House Of Carbon.

Os programas de descarbonização estão impulsionando o setor primário brasileiro para o processo de descomoditização, pois cada área cultivada, cada tonelada produzida, cada carga exportada passa a carregar a necessidade da comprovação formal da sua sustentabilidade. “O agronegócio brasileiro entra na era da certificação da produção e na segregação das commodities”, acrescenta o especialista.

A lei que proibirá a importação de commodities que provenham de áreas desmatadas ou degradadas, a contar de 31 de dezembro de 2020, deve alcançar 16% das exportações da agroindústria brasileira, um montante de US$ 17,5 bilhões por ano, segundo estimativas da indústria. Para superar as exigências da EUDR, o setor primário precisará buscar soluções que reduzam riscos e custos e uma saída é o seguro de custódia de risco.

“Além de provar que a commodity não se origina em área desmatada, de separar esse produto na fase de estocagem e logística, deverá comprovar que não provoca desmatamento de forma indireta”. E é aí que entra o seguro de custódia: a Greentech assume a responsabilidade pela due diligence, gestão de riscos e rastreabilidade dos produtos ligados a biomas florestais brasileiros, a partir de ferramentas como imagens de satélites, inteligência artificial e captura de carbono. “Os exportadores no Brasil e os importadores na UE pagam por um serviço que atua como um seguro contra multas da EUDR ao Balcão de Custódia de Risco gerido pela Greentech”, explica Costa.

O operador paga um prêmio de risco, calculado a partir da complexidade da sua cadeia de fornecedores e subfornecedores, assim como a pressão de desmatamento indireto associada à sua atividade. Os recursos são repassados a donos de terras na Amazônia, para preservação da floresta em pé. O valor varia de 70 e 370 euros por hectare por ano. O conjunto dessas áreas protegidas formam um ativo ambiental, uma reserva florestal gerida pela Greentech. As áreas com alto risco de desmatamento são identificadas a partir de tecnologia geoespacial e Inteligência Artificial, e são essas as regiões que serão remuneradas pelo projeto. Mas isso não significa que as empresas ficam isentas de suas obrigações. O ativo ambiental é uma “rede de segurança extra”, garante Costa.

“Ter novas ferramentas no mercado e bem vistas pela União Europeia facilita bastante a precificação. Nossa visão é que a gente vai ajudar associações e cooperativas a precificar seus produtos”, pontua. As empresas continuam a ter de cumprir os requisitos de diligência devida e a área desmatada continua fora das exportações para União Europeia.

Porém, o serviço atua como uma ‘rede de segurança extra’, focada no risco sistêmico do desmatamento indireto e na canalização de dinheiro para a prevenção ativa na floresta tropical. Os ativos na Amazônia atuam como uma forma de compensação ambiental sobre o risco de inconformidade ambiental. Ao mesmo tempo, que mitiga o elevado risco das cadeias ramificadas formadas por pequenos e médios produtos. A inovação será apresentada na COP30, em Belém, e busca a parceria de associações, cooperativas e instituições financeiras ligadas ao agro.

Questões ambientais ganham cada vez mais importância

Costa diz que o propósito da House Of Carbon é a estruturação de modelos de negócio rentáveis


House Of Carbon/Divulgação/JC

As questões ambientais no meio rural ganharam, nos últimos tempos, grande destaque em função da urgência na adoção de medidas que ajudem a reduzir os efeitos nocivos da emissão de carbono na atmosfera. Diante desse cenário, a descomoditização entra como ferramenta importante no sentido de promover práticas adaptativas e de mitigação para reduzir o aquecimento global. Esse processo, busca tirar os créditos de carbono do status de mera commodity, reconhecendo a sua importância para a transição energética e a sustentabilidade. Nessa entrevista concedida com exclusividade para o Empresas & Negócios, Paulo Costa, diretor da House Of Carbon, startup cujo propósito é a estruturação de modelos de negócio rentáveis que promovam a descarbonização, fala sobre a importância de descomoditizar e o papel dos créditos de carbono nesse processo.

Empresas &  Negócios – O agro brasileiro está passando por um processo de descomoditização, os produtores começam a buscar modelos que também trabalhem as questões ambientais?

Paulo CostaSim. Dentro do processo descomoditização do agro temos dois processos com foco em questões ambientais: um que promove prêmios às práticas adaptativas e de mitigação da emissão de carbono e outro que promove taxações ou a exclusão de mercados, caso não comprovem práticas de preservação ambiental, como é o caso da Diretiva da União Europeia 1115- EUDR. Anos atrás, o produtor rural produzia apenas commodity, mas agora tem a prestação do serviço ambiental materializada em certificados de carbono intercambiáveis e protocolos de conformidade para acesso a mercados exigentes. As questões climáticas e a necessidade da transição para uma economia de baixo carbono são desafios para toda humanidade e o agronegócio é um dos setores mais impactados pelas variações climáticas atípicas por se tratar de uma indústria a céu aberto. A adaptação climática está ligada a um manejo que promova a estabilidade produtiva do agro, diante da redução de perdas por eventos extremos, agricultura com o foco na instabilidade climática e a busca pela eficiência hídrica. Em muitas vezes, essa adaptação está ligada a práticas regenerativas que promovem a estabilidade da produtividade, a redução da dependência de insumos voláteis no mercado global e a mitigação de perdas em anos críticos. Já a mitigação climática está ligada aos benefícios trazidos pelo agro na captura de carbono observado no crescimento vegetativo e na fixação do carbono no solo. Trata-se de uma prestação de serviço ambiental à humanidade realizado pelo manejo regenerativo do agro.

E&N – Como a questão dos créditos de carbono entram nesse cenário?

Costa – Os créditos de carbono entram no processo de medição, monitoramento e verificação das práticas do agro que promovem a adaptação climática e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Trata-se de um instrumento de mercado comprado por agentes que desejam fomentar boas práticas no agro. Os créditos de carbono são emitidos após certificações que comprovam, com base científica, o quanto a produção em estudo reduz a pegada de carbono em relação a práticas convencionais do setor. De forma simplificada, os créditos de carbono podem ser vistos como moedas emitidas por unidades de produção certificadas e qualificadas, que promovem práticas adaptativas e de mitigação dos gases de efeito estufa. As moedas são precificadas e compradas por empresas e pessoas comprometidas com o bem-estar social.

E&N – Como funciona a geração de créditos de carbono no mercado voluntário?

Costa – A compra dos créditos de carbono podem acontecer de forma voluntária ou compulsória. No mercado voluntário, empresas e pessoas compram créditos de carbono certificados em metodologias com reconhecimento internacional e práticas de monitoramento confiáveis. No mercado regulado, existe um agente obrigado por lei a comprar créditos de carbono. É o exemplo da Política Nacional de Biocombustíveis, RenovaBio, única política do gênero em vigor no Brasil, que promove a compra compulsória dos créditos de  descarbonização emitidos pelo setor de biocobustíveis (etanol, biodiesel, biometano, SAF), emitidos pelo agro. Em ambos os casos, os créditos de carbono passam a ser uma nova receita para o produtor rural.

E&N – Práticas regenerativas como plantio direto, diversificação de culturas, uso de bioinsumos e incremento da matéria orgânica no solo reduzem emissões e geram créditos de carbono certificados. Essa seriam formas de mitigação de risco?

CostaSim. Práticas regenerativas aumentam resiliência, que reduz risco, que reduz custo de capital e que retroalimenta a adoção dessas práticas num ciclo virtuoso. No crédito de carbono, há a combinação de indicadores de uso do solo e manejo adaptativo, com métricas de desempenho sob choque climático e de infraestrutura adaptativa. São moedas que qualificam o atributo ambiental do processo regenerativo do agro que podem ser vendidas desacompanhadas da commodity que o gerou.

E&N – Quanto do agro nacional deve ser impactado por essa nova lei da União Européia? Vocês acreditam em queda nas exportações? Qual será a repercussão dessa medida no mercado gaúcho?

Em um pior cenário, as multas podem chegar até 4% do faturamento de quem descumpre a norma, com base no ano anterior à autuação na UE, além da apreensão da carga e proibição temporária de comercialização de produtos na Europa. Embora as sanções sejam impostas à empresa europeia, as consequências recaem sobre o exportador, que deverá pagar a conta perante o importador, caso não tenha agido em conformidade com o declarado. A mitigação do risco ambiental efetiva requer ações concretas na cadeia produtiva brasileira, tanto do lado público quanto privado, com foco em rastreabilidade, documentação robusta e apoio técnico para pequenos produtores. Esse processo é essencial para garantir acesso sustentável e seguro ao exigente mercado europeu. Nesse sentido, vemos uma redução considerável nas exportações brasileiras para União Europeia nos primeiros anos da obrigatoriedade da Diretiva, com impacto considerável sobre os produtores do Rio Grande do Sul devido ao seu modelo de produção ancorado em propriedades de pequeno e médio porte. Cadeias longas, ramificadas e formadas por múltiplos fornecedores de média escala aumentam o risco de inconformidade ambiental e a perda dos prêmios pagos pelo importador do mercado europeu.

Criação de galinhas felizes aposta no ‘ovo à moda antiga’ e conquista consumidores

Marcus Menoita, Luis Barbieri e Leandro Almeida, sócios da Raiar, aliaram tradição a tecnologias ultramodernas


Raiar/Divulgação/JC

Descomoditizaram o ovo de galinha e a fórmula foi simples: produzir um ovo como os de antigamente, mas com tecnologias ultramodernas. Essa é a proposta da Raiar, empresa de proteínas orgânicas, que há cinco anos comercializa ovos in-natura e em caixas UHT, pasteurizados, todos oriundo das chamadas galinhas felizes.

O que a gente fez foi para olhar para as coisas e refletir sobre os hábitos. A pauta da descomoditização é meio isso e também a pauta do cuidado, com a saúde, com o meio ambiente e de parar de produzir tudo igual, padronizado”, afirma o cofundador e diretor de Originação da Raiar, Luis Barbieri.

Para ele, existem três grandes movimentos acontecendo no sistema alimentar, uma delas é que consumidor, comida e saúde estão cada vez mais dentro da mesma chave. Buscando um produto de melhor qualidade e pagar mais por aquilo que eles entendem ter um valor maior. “E não tem nada mais caro do que a saúde. A pandemia acelerou esse processo do tema da saúde com a alimentação, despertou a consciência de que remédio cura doença, mas que a saúde é uma outra construção, e que, se você não tem imunidade forte, não adianta”, afirma Barbieri.

O segundo é uma mudança muito grande da agricultura, do tripé fertilizante solúvel, pesticida químico e transgenia, que, na opinião do empresário, não estão entregando mais os resultados econômicos como antes e que a nova agricultura passa pela saúde do solo, alinhada com os conceitos de agricultura orgânica, de usar insumos biológicos, reduzir fertilizante químico e trazer a biodiversidade a favor da agricultura.

“E nessa caminhada a transformação acontece pelo bolso do produtor rural. E no meio do caminho há uma mudança na produção animal, que também está esgotada do ponto de vista tecnológico pela necessidade do uso intensivo de antibiótico. Mais de 70% do antibiótico usado no mundo hoje é para a produção animal, seja na pecuária, pequenos animais, avicultura e suinocultura”, destaca.

Diante desse cenário, a proposta da Raiar é caminhar para o lado oposto, a partir da produção de ovos caipiras, orgânicos, produzidos por galinhas criadas soltas, que não toma antibiótico, só produtos de origem vegetal, como soja, milho e outros grãos não transgênicos e orgânicos. Elas têm espaço para dormir, para ciscar, é bem diferente de uma galinha na gaiola que vive com luz, não diferencia noite e dia. E quando o ovo começou a ser produzido, tivemos uma surpresa, pois ele é muito mais gostoso. As pessoas nos falam que são os ovos que comiam na infância“, diz Barbieri.

Trag propõe seguro agrícola fora dos padrões de operacionalização

Maia diz que o diferencial está no fato de não entregar produtos padronizados


Trag/Divulgação/JC

No mercado tradicional, quem contrata seguro agrícola enfrenta, há anos, incertezas sobre cobertura, indenização e pagamento. No caminho contrário desse cenário e tomando como base a premissa de inverter esse processo, a startup Trag, plataforma de seguro paramétrico agrícola, entrega conhecimento sobre o risco individual, explica de forma objetiva o que será protegido e por que e, só então, propõe a solução paramétrica adequada. “A empresa é descomoditizada porque não entrega produtos padronizados, “de prateleira” e nem comunicações que ninguém entende. Isso traz eficiência operacional, transparência na relação e, principalmente, uma experiência onde o cliente percebe valor real, proteção financeira quantificável e previsibilidade ao invés de promessas genéricas”, afirma o cofundador e CEO da Trag, Leonardo Reis Maia.

O foco da empresa é entender o risco climático individualizado de cada produtor. Isso significa mapear a área, histórico climático e fatores produtivos específicos da fazenda, combinar dados de satélite, modelos meteorológicos e agronômicos que traduzem variação de chuva, temperatura e eventos extremos em impacto produtivo.

Com esse diagnóstico, os especialistas da startup sugerem um seguro, chamado de paramétrico (ou agrícola, como é comumente conhecido), sob medida, simples, transparente e com gatilhos claros que buscam preservar a receita do produtor e dar previsibilidade financeira ao financiador dele. “Em resumo: conhecer bem o risco antes de definir a proteção é o que torna a solução efetiva e justa para quem produz, com menor risco para quem financia e mais sustentável para o segmento”, explica Maia.

Entre as ferramentas tecnológicas que mais têm sido usadas a campo em relação ao clima, o CEO afirma que o mercado normalmente usa um conjunto padrão: imagens de satélite (NDVI, índices de vegetação), estações meteorológicas e pluviômetros. A Trag parte dessa base tecnológica, mas organiza e aplica de forma diferente: calibrando para traduzir variação climática em impacto produtivo.

O resultado prático é uma proteção de seguro mais personalizada e com dados bem apurados, e uma experiência do cliente que entende e confia no produto. Maia diz que o produtor gaúcho está aberto para inovação, especialmente quando a ferramenta resolve o que ele chama de “dores concretas”: preservar receita, facilitar acesso a crédito e reduzir incertezas de safra.

Segundo o empresário, os produtores valorizam credibilidade e simplicidade porque querem entender o que está sendo medido e ver evidência de benefício.

Fique por dentro

Principais características da descomoditização:

Diferenciação: substituição de produtos genéricos por itens com atributos únicos, como origem, método de produção ou qualidade.

Valor agregado: inovação, construção de marcas e processos que ampliam o valor do produto final além da produção primária.

Rastreabilidade e certificação: comprovação de sustentabilidade ambiental e social, incluindo selo de produto livre de desmatamento ou não transgênico, fundamental para acessar mercados como o europeu.

Conexão com o consumidor: criação de um elo direto com o público, permitindo comunicar de forma clara os diferenciais do produto.

Inovação: adoção de tecnologias e práticas modernas, como rotação de culturas, plantio direto e uso de biocombustíveis.

 

*Ana Esteves é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atuou como repórter setorista de agronegócios no Jornal do Comércio, Correio do Povo e Revista A Granja. Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer. Também é graduada em Medicina Veterinária pela UFRGS.

Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/10/1220482-descomoditizacao-amplia-horizontes-para-os-produtores-rurais.html

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