Sócio da Bateleur
O agronegócio brasileiro enfrenta um cenário desafiador, com queda nos preços das commodities, custos de produção elevados e juros altos, o que tem pressionado as margens e aumentado o endividamento dos produtores. Ao mesmo tempo, a recorrência de eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul tem agravado ainda mais esse quadro, com estiagens e enchentes que resultaram em quebras de safra nos últimos anos.
Apesar dessas adversidades conjunturais, o horizonte de longo prazo continua promissor, com um mercado global cada vez mais exigente por alimentos e produtos sustentáveis, além das novas oportunidades trazidas pela transição energética. O setor continua sendo estratégico para o Brasil, respondendo por cerca de 25% do PIB nacional em 2024, o que reforça sua importância para a economia do país e destaca o seu potencial de crescimento muito além do ciclo atual.
Recentemente, a Bateleur apresentou o relatório “A Resiliência do Agronegócio”, que analisa esse contexto em profundidade. A conclusão é clara: os fundamentos permanecem sólidos. A demanda global por alimentos continuará crescendo, impulsionada pelo avanço populacional e pela elevação da renda nos países em desenvolvimento. A transição energética traz novas e relevantes oportunidades para o agro brasileiro, especialmente em áreas como biocombustíveis e bioenergia, onde o país já se destaca como um líder competitivo global.
Para que esse potencial se converta em ganho de competitividade, é essencial enfrentar gargalos estruturais. A irrigação é um deles – a baixa cobertura no Rio Grande do Sul (apenas 1,4 milhão de hectares), por exemplo, deixa grande parte da produção exposta a variações climáticas. A armazenagem também é insuficiente: com uma safra nacional estimada próxima a 350 milhões de toneladas em 2025, o país conta com cerca de 213 milhões em capacidade estática. Esse déficit força muitos produtores a venderem suas colheitas rapidamente, quando os preços estão comprimidos, prejudicando a rentabilidade e colocando a sustentabilidade da produção em risco.
No transporte, o desafio persiste. Mais da metade do escoamento depende do modal rodoviário, de alto custo. Um exemplo: em 2024, o frete para levar soja do Mato Grosso até Xangai, via Santos, chegou a US$ 116 por tonelada — 73% desse valor concentrado no transporte interno. Essa ineficiência reduz a margem do produtor e compromete a competitividade brasileira frente a outros players globais.
Investir em infraestrutura — irrigação, armazenagem e logística — não é mais uma opção, mas uma necessidade. No entanto, o ambiente macroeconômico atual impõe obstáculos. A Selic em dois dígitos encarece projetos de longo prazo e limita o acesso a crédito, especialmente para produtores de pequeno porte, que representam 84% das propriedades no Rio Grande do Sul. Soma-se a essa conjuntura a baixa penetração do Plano Safra, que cobriu menos de 40% do custeio da safra passada, forçando os produtores a buscarem alternativas com custos mais elevados.
Apesar dos desafios, o momento é de oportunidade. O setor privado está mais aberto à inovação e há espaço para modelos de cooperação, crédito estruturado e parcerias público-privadas. A tecnologia está disponível, assim como a expertise técnica, e pode ser aplicada para otimizar processos e reduzir custos. O que falta é destravar os mecanismos que permitam o avanço, com foco em investimentos estratégicos em infraestrutura, fundamentais para aumentar a competitividade e sustentabilidade do agronegócio brasileiro.
Agora, a agenda do setor precisa ser profundamente estruturante, com foco na melhoria da eficiência, na ampliação da escala e na criação de um ambiente de negócios que garanta investimentos sustentáveis e contínuos. O futuro do agro depende disso.
Em vez de aguardar pela recuperação dos preços, é hora de agir estrategicamente e preparar o terreno para o próximo ciclo de crescimento. Investir em infraestrutura, inovação e parcerias é o caminho para garantir um futuro mais estável, produtivo e competitivo.
Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/09/1219309-futuro-do-agro-passa-por-agenda-estruturante.html