A Associação Brasileira de Startups (ABStartups) tem uma meta ambiciosa para os próximos dez anos: alcançar 100 mil startups e 100 unicórnios no Brasil. Para Lindomar Goés, atual presidente da associação, o desafio do objetivo tem caráter puramente matemático. “Eu sou matemático e cientista de dados, então gosto de taxas de conversão. Se pegarmos a taxa brasileira, a cada mil startups temos um unicórnio. Então, quando tivermos 100 mil startups, naturalmente teremos 100 unicórnios”, explicou Goés.
Em evento exclusivo para a imprensa, Lindomar, a CEO da associação Cláudia Schulz, a vice-presidente Camila Florentino e o CFO Waldir Souza Junior compartilharam as novas ações e objetivos para os próximos anos. O foco central não é novo, mas tem sido intensificado: tornar o Brasil o país das startups.
Lindomar Góes quer explorar potencial de inovação da Amazônia Legal
Entre as prioridades, está a atenção a polos pouco explorados pelo ecossistema e o fomento a fundadores de regiões amazônicas — que abrangem Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e partes do Maranhão e do Mato Grosso. O projeto voltado à região Amazônia Legal foi nomeado Pacto Amazônia. A iniciativa prevê um planejamento estratégico de inovação e a criação de um “funil” de desenvolvimento (jornadas de curiosidade, reação, pré-aceleração e aceleração) em cada estado da região, que hoje apresenta a menor densidade de startups registradas.
“Esta é a primeira vez que a ABStartups tem um presidente da Amazônia. Mais da metade, 51% do território do Brasil é Amazônia, e nós temos apenas 4% das startups. Então, se queremos transformar o Brasil no país das startups, precisamos atuar muito forte nessas regiões com menor densidade de startups. E, se pensamos que empreender é resolver problemas, imagina o que a falta de startups e empreendedores nessa região causa para essa população – ela é punida por isso”, afirma Lindomar.
Além do incentivo à Amazônia, a associação também quer impulsionar startups verdes, ligadas a bioeconomia, biotecnologia, economia circular, energias renováveis e carbono, com um projeto já em tramitação na Câmara.
Revisão do Marco Legal das Startups é meta da Associação
Outro eixo estratégico é a revisão do Marco Legal das Startups, de junho de 2021. A ideia é adequar a legislação à realidade do mercado. “A tecnologia evolui muito rápido, e sentimos que o Marco precisa de evoluções, porque muitas coisas evoluíram e ele continuou como foi concebido”, explicou Camila.
Para Lindomar, levantar essas discussões no âmbito político é uma forma de criar um ambiente fértil para atingir as metas da gestão. “Para chegarmos às 100 mil startups, precisamos criar um ambiente fértil para o surgimento de startups, e ele passa pela criação e modificação de leis, para que as pessoas sejam minimamente incentivadas a empreender em inovação”, disse.
Um dos principais pontos da proposta é substituir o modelo de mútuo conversível, predominante no país, pelo CICC (Contrato de Investimento Conversível em Capital). Hoje, o mútuo é tratado como empréstimo, e não como investimento direto, o que gera insegurança para os fundadores. Além disso, o formato brasileiro não está alinhado a padrões globais, obrigando muitas startups a realizar “flips” para adotar contratos internacionais quando recebem aportes externos.
Com o CICC, os aportes passariam a ser incorporados diretamente ao capital social, garantindo participação acionária ao investidor. O modelo seria mais vantajoso para ambas as partes e alinhado às práticas globais, especialmente em rodadas maiores, como as de Série B, em que o mútuo conversível se mostra ineficaz.
A reformulação do Marco também contempla o incentivo a startups verdes, reforçando a aposta em soluções digitais e sustentáveis para a Amazônia. A Inteligência Artificial é outro ponto de atenção. “Quando a lei foi criada, a IA até existia, mas era incipiente. E hoje isso incide na inovação do país, precisamos olhar para esse lugar. O Marco Legal precisa acompanhar o que é a inovação brasileira, e ela é veloz. Não podemos esquecer disso”, afirma Schulz.
A entidade defende ainda a revisão de conceitos básicos, como o prazo máximo de enquadramento de uma empresa como startup (hoje fixado em dez anos), os critérios de aporte financeiro e a definição de investimento anjo. Outro desafio é estimular a adoção de mecanismos como as Compras Públicas de Soluções Inovadoras (CPSI), pouco usadas por governos, mantendo o setor público distante das inovações.
ABStartups quer advogar pelas startups brasileiras na política
Para formular essas propostas, a ABStartups reuniu entre 20 e 21 especialistas e advogados, além de ter aberto uma chamada pública que recebeu 74 contribuições de startups de todo o país. Muitas das sugestões foram inspiradas em modelos de referência no Vale do Silício, como o Safe, reforçando a necessidade de revisão das regras brasileiras.
A associação também busca garantir representatividade em debates estruturais, como a reforma tributária, para evitar impactos que comprometam a sobrevivência das empresas inovadoras.
A falta de voz política tem sido uma preocupação no ecossistema. Em agosto, Diego Barreto, CEO do iFood, foi questionado pelo Startupi sobre interesse na vida pública e demonstrou inclinação ao Partido Novo, que já atuou em pautas como Stock Option. Lindomar, por sua vez, concorda com a necessidade de representação e declarou apoio a candidatos oriundos do setor. “Apoiarei campanhas de quem sair do ecossistema de inovação”, afirmou.
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Fonte Oficial: https://startupi.com.br/abstartups-100-unicornios-brasileiros-2035/