Há quase 15 anos, o gaúcho Luis Wulff transformou uma mesa no quarto do seu apartamento em Porto Alegre na semente do que viria a ser a Tax.Co, hoje referência em consultoria tributária e inovação no setor.
De uma operação enxuta, a empresa se tornou uma referência do segmento no Brasil, reunindo milhares de clientes e expandindo sua atuação para áreas como tecnologia, educação corporativa e até o mercado internacional, com escritório aberto em Nova Iorque.
Nesta entrevista, Wulff fala sobre os caminhos que levaram a Tax.Co a crescer, os impactos da reforma tributária, os desafios para empresas brasileiras diante de crises econômicas e diplomáticas, e as apostas em inovação que projetam o futuro do setor para os próximos anos.
Empresas & Negocios – Qual é a tua relação com o grupo Tax.Co?
Luis Wulff – Eu fundei a empresa há quase 15 anos. Começamos em Porto Alegre como uma plataforma de dados tributários, uma empresa de software muito pequena, no quarto do meu apartamento. Eu tinha uma mesa, uma cadeira, um computador e comecei a desenvolver um sistema para organizar os skys de pequenas empresas. Em seis meses saímos do apartamento e alugamos a primeira sala. A partir daí foi uma escalada: ano após ano ampliamos, estruturamos, trouxemos mais pessoas, novos clientes e produtos. Minha relação com a empresa é muito íntima: participei de cada passo, dos erros e acertos até chegarmos onde estamos hoje.
E&N – E que tipo de serviço a Tax.Co oferece hoje?
Wulff – Hoje a Tax.Co é líder em consultoria tributária no Brasil, a principal empresa dedicada exclusivamente a esse segmento. Atendemos cerca de 8 mil clientes em todos os aspectos de impostos no Brasil e no exterior. Temos também um braço de software e tecnologia; uma plataforma financeira que compra e vende precatórios para ajudar empresas e precatoristas a monetizar valores; e uma empresa de educação, que promove grandes eventos tributários e capacitação corporativa para empresários e gestores.
E&N – A empresa está completando 14 anos de história. O que foi determinante para vocês chegarem onde estão?
Wulff – Dois pontos principais: cultura organizacional e inovação. Criamos mais de 10 produtos novos no mercado tributário, muitos dos quais foram replicados por outras empresas. Temos um time apaixonado pelo que faz, muito alinhado aos nossos valores: sonhar grande, trabalhar duro e construir confiança. É uma cultura forte, diversa, aberta a diferentes pessoas e perspectivas, que dá liberdade para crescer. Aliamos essa cultura sólida à inovação constante.
E&N – E quais são os maiores desafios que vocês estão enfrentando no atual contexto de reforma tributária?
Wulff – O maior desafio para as empresas é entender como será o negócio no futuro: como incluir a reforma no planejamento estratégico, contratar, criar produtos, definir preços e mercados. Ainda faltam regulamentações sobre split payment, alíquotas, créditos, etc. Nós inovamos criando a primeira calculadora automatizada da reforma tributária, que compara a carga antiga com a nova em 36 milhões de produtos catalogados. Depois, desenvolvemos a calculadora para pessoa física e produtor rural. Agora, em parceria com a FGV-SP, estamos construindo um motor de precificação, porque as empresas querem saber o preço final de seus produtos após a reforma. Vejo que muitos concorrentes ainda não estão olhando para a reforma, preocupados apenas com o presente. Nós sempre investimos em tecnologia para pensar antes, e isso nos diferencia há 14 anos. E os desafios das empresas contábeis, fiscais, como é do meu segmento, vejo que temos muitos concorrentes ainda perdidos e não olhando para a reforma, distantes. Muitas empresas contábeis olhando para o hoje e não olhando para o amanhã.
E&N – Vocês também abriram um escritório em Nova Iorque. Qual é o objetivo?
Wulff – O escritório já está em funcionamento. Atende tanto brasileiros que querem investir fora quanto estrangeiros que querem investir no Brasil. Ele serve como Hub para entender regras tributárias internacionais e estruturar investimentos. Muitos brasileiros buscam alternativas diante de insegurança jurídica, como a recente taxação retroativa do IOF. E temos também fundos estrangeiros interessados no agronegócio brasileiro. Alguns já compraram empresas e são nossos clientes.
E&N – E como lidar com crises diplomáticas e econômicas, como as recentes taxações impostas pelos Estados Unidos?
Wulff – Elas geram impactos diretos. Tivemos, por exemplo, um cliente de pescados com 42 containers parados no porto sem poder exportar. Nesse caso, estudamos alternativas como renacionalizar o produto ou transferir parte da produção para outro país, como o Uruguai. Assim, o cliente mantém a operação, mesmo que o Brasil perca empregos. Nosso papel é orientar para que as empresas não quebrem e consigam encontrar novos mercados e estruturas de produção.
E&N – Quais são os erros fiscais mais comuns entre as empresas brasileiras?
Wulff – Quase todas têm problemas de cadastro fiscal, o que representa cerca de 0,8% do faturamento perdido. São erros de parametrização, digitação ou negligência nos cadastros de materiais e produtos. Para resolver isso, criamos o Cadastro Único Tributário, com 36 milhões de produtos catalogados em todos os estados do Brasil. Quando cruzamos esses dados com os das empresas, 80% dos gargalos vêm do cadastro. É uma área que ninguém gosta de olhar, mas onde está boa parte da perda.
E&N – Vocês também estão investindo em educação corporativa. Como funciona essa frente?
Wulff – Compramos recentemente uma business school, via M&A, e estamos reestruturando a marca para lançá-la em setembro. O objetivo é se tornar a principal marca de educação corporativa do Brasil, concorrendo com G4, Startse e outras. Nosso diferencial é oferecer aprendizado voltado à prática, ministrado por executivos e empreendedores, não por professores de carreira. Queremos proporcionar mais liberdade aos profissionais e alinhar dinheiro com propósito — não vender cursos por vender, mas gerar transformação real.
E&N – São quase 700 escritórios, como garantem a qualidade e padronização nas operações de todos eles?
Wulff – Criamos um modelo de entrega centralizada. Toda a operação está em São Paulo e Porto Alegre, com processos padronizados e certificações como a ISO. Os escritórios licenciados vendem os serviços, mas a execução é feita pela matriz, garantindo qualidade e alinhamento cultural. Além disso, treinamos todos os parceiros para que expectativa e realidade estejam em sintonia.
E&N – E como vocês enxergam o mercado tributário brasileiro nos próximos 5 a 10 anos?
Wulff – Nós acreditamos que criamos o mercado tributário. Enquanto muitos olham para o presente, já pesquisamos soluções que serão necessárias em 2033. Participamos ativamente da formulação de leis e regulações por meio da Associação Brasileira de Desenvolvimento Tributário, patrocinada pelo grupo. Nosso DNA é inovar, desenvolver softwares e soluções antes da demanda aparecer.
E&N – Para finalizar, como está o faturamento da empresa no Brasil e quais são as perspectivas?
Wulff – Nosso orçamento de 2025 já está definido, e seguimos focados nele. Entre as empresas de serviço do Rio Grande do Sul, certamente somos a maior do setor tributário.