A Mahta, empresa criada em 2019 para desenvolver alimentos em pó a partir de ingredientes amazônicos, anunciou a captação de R$ 20 milhões do Fundo da Biodiversidade da Amazônia (ABF), administrado pela Impact Earth. O fundo reúne aportes do BNDES, Soros Economic Development Fund, L’Oréal Fund for Nature Regeneration, CGIAR e ASN Impact Investors.
O investimento marca a maior rodada já recebida pela companhia, que tem como objetivo aumentar a equipe de pesquisa, ampliar a rede de fornecedores e iniciar a venda em redes de varejo. Hoje, a startup concentra a maior parte das receitas em assinaturas online, modelo que garante previsibilidade de produção e repasse antecipado a comunidades fornecedoras.
Origem da foodtech
A iniciativa nasceu a partir da identificação de uma proteína vegetal encontrada em subproduto da castanha-do-pará. A torta, rejeito após a extração do óleo vendido a empresas de cosméticos, passou a ser adquirida pela startup e transformada em suplemento em pó. O aproveitamento reduziu desperdício e abriu nova frente de renda para cooperativas locais.
Desde então, a empresa expandiu o portfólio para fórmulas que combinam frutas e castanhas. Atualmente, utiliza 15 insumos oriundos de diferentes regiões da Amazônia Legal, entre eles cacau, bacuri e cumaru. A produção ocorre por meio da liofilização, técnica de desidratação sob baixa pressão que preserva nutrientes e já é empregada em alimentos destinados a missões espaciais.
Segundo o fundador e CEO Max Petrucci, o aporte será aplicado em projetos de pesquisa, com reforço da equipe hoje formada por nove especialistas, incluindo três doutores. Outra prioridade é a diversificação da oferta de produtos com valor agregado, visando aumentar margens e atrair novos consumidores.
A expectativa da companhia é dobrar o faturamento mensal ainda neste ano, alcançando R$ 2 milhões. Para isso, pretende ampliar os canais de distribuição. A entrada no varejo é considerada essencial para competir com marcas que atuam em categorias semelhantes, como Nude e Naveia, focadas em bebidas vegetais.
De acordo com Maria Laura Florido, gerente de investimentos da Impact Earth, o diferencial da Mahta está na variedade de ingredientes amazônicos usados e no processamento realizado na origem. Segundo ela, produtos vendidos apenas como commodities mantêm baixo valor de mercado, enquanto versões processadas podem remunerar melhor os fornecedores.
O modelo busca também reduzir pressões sobre monoculturas, diversificando fontes de renda de comunidades locais. Para os investidores, a expansão internacional pode consolidar essa estratégia. Petrucci relata que a empresa já recebeu sondagens em feiras no Brasil de representantes de Emirados Árabes, Europa e Austrália.
Florido afirma que o ABF considera positiva a possibilidade de exportação de produtos finais, substituindo a lógica de apenas vender matérias-primas. A gestora aponta que isso amplia receitas e fortalece a cadeia produtiva da floresta.
Estrutura do investimento
O ABF tem R$ 250 milhões sob gestão e foi criado para apoiar pequenas e médias empresas com atuação socioambiental na Amazônia Legal. Diferente de fundos tradicionais, pode utilizar instrumentos variados, incluindo equity, dívidas atreladas a receitas futuras e participação em créditos de carbono.
No caso da Mahta, a operação foi estruturada em modelo híbrido: parte em dívida com juros inferiores à Selic, prevendo parcelas crescentes após período de carência, e parte em participação nos lucros. O desenho busca alinhar sustentabilidade financeira da companhia com geração de impacto socioambiental.
Além do capital, a Impact Earth acompanha a implantação de métricas de impacto. O fundo monitora resultados sociais, ambientais e financeiros até 2030. Entre os indicadores definidos está a fatia do faturamento revertida diretamente a produtores amazônicos.
Segundo Florido, o papel do fundo vai além do investimento. O objetivo é contribuir para que companhias criem cadeias sustentáveis de fornecimento em uma região onde a pressão por extrativismo e uso de commodities ainda é dominante.
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Fonte Oficial: https://startupi.com.br/mahta-recebe-aporte-de-r-20-mi-superalimentos/