Protagonista no mercado brasileiro de personalização automotiva, a Keko Acessórios deu mais um passo na direção da sustentabilidade com a criação do projeto de reaproveitamento dos retalhos e redução dos resíduos das lonas das capotas marítimas fabricadas pela empresa. Idealizada em 2022 e totalmente implementada em 2024, a iniciativa já reduziu em dez toneladas a quantidade anual de sobras dos retalhos de lonas, o que consequentemente também evitou que 230 toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera durante o processo de decomposição dos resíduos.
Além da iniciativa com as capotas marítimas, a Keko recentemente elaborou um projeto para criação de uma composteira, visando reaproveitar as sobras dos alimentos do restaurante da sua sede, em Flores da Cunha (RS). A empresa também se comprometeu a não mais criar aterros para colocar resíduos dos processos industriais, o que foi formalizado com o projeto Aterro Zero. As três iniciativas já foram reconhecidas pelo Prêmio BRASA Meio Ambiente, da Toyota.
No Com a Palavra desta semana, o Empresas & Negócios conversou com o CEO da Keko Acessórios, Leandro Mantovani, sobre o projeto sustentável das capotas marítimas e os planos futuros da empresa.
Empresas & Negócios – Qual é a sua trajetória na Keko Acessórios?
Leandro Mantovani – Sou fundador, junto com meu pai. Ele já tinha um pequeno negócio através do qual fazia produtos por encomenda, mas não era uma empresa registrada. Alguns anos depois, já com certa experiência, tornei-me sócio do negócio e registrei a empresa. Nos primeiros nove anos, até faturarmos o nosso primeiro R$1 milhão, além de trabalhar dentro da fábrica com meu pai, eu também cuidava da parte administrativa da Keko. Ano que vem vou fazer 40 anos de empresa.
E&N – O que motivou a criação de um projeto de sustentabilidade?
Mantovani – Por eu estar no comando da Keko há tanto tempo, sempre tentei reforçar internamente na empresa valores de respeito ao meio ambiente, que aprendi com a minha família. A sustentabilidade é um tema que está sempre dentro das nossas discussões da empresa, seja para desenvolver um produto, seja para repensar algum processo industrial. Às vezes nós somos desafiados pelas montadoras parceiras a desenvolver alguma iniciativa sustentável e nos sentimos muito bem com isso, porque está de acordo com o que queremos, que é produzir de uma forma cada vez mais limpa.
E&N – O projeto das capotas marítimas já promoveu a redução dos resíduos e também o reaproveitamento dos retalhos das lonas. Como isso foi feito?
Mantovani – O primeiro movimento do projeto tinha o objetivo de diminuir o desperdício, ou seja, de cortar o material de uma forma que sobrasse menos retalhos. Isso foi feito através da aquisição de um equipamento mais customizado, uma nova mesa de corte, e do reajuste das larguras das bobinas de lona. Em um segundo momento, depois da redução das sobras, buscamos a reciclagem do material, que passou a ser aproveitado na produção de solas de sapatos, calços de veículos e algumas outras aparas de borracha.
Desde que foi totalmente implementada, em 2024, a iniciativa já conseguiu promover a redução de dez toneladas no descarte anual de retalhos de lonas e de cerca de 230 toneladas nas emissões de gases de CO2.
E&N – O que é a Toyota Business Practices e de que forma esta metodologia ajudou a Keko?
Mantovani – Como somos associados na Brasa (Associação de Fornecedores da Toyota no Brasil), tivemos acesso aos conhecimentos e ensinamentos do sistema Toyota de produção, ou seja, todas as práticas e ferramentas que eles utilizam para trabalhar tudo aquilo que envolve uma empresa, desde a ergonomia no ambiente de trabalho até questões vinculadas ao meio ambiente. A metodologia da Toyota faz com que a Keko consiga ter um resultado mais efetivo na aplicação dos nossos projetos. Com base na Toyota Business Practices, nós estamos criando o Sistema Keko de Produção (KPS).
E&N – No ano passado, a Keko foi finalista do Prêmio BRASA Meio Ambiente, da Toyota, com o projeto das capotas marítimas. Qual é a importância deste reconhecimento?
Mantovani – É a certificação de que estamos no caminho certo. Valorizamos o destaque com o prêmio, mas o mais importante é que estamos sendo credenciados e validados por uma outra empresa pelas nossas boas práticas de perpetuação do negócio.
Não estamos aqui somente pela parte financeira. Claro que tudo que sustenta isso é a parte do resultado, e nós não vamos ser hipócritas de dizer que não trabalhamos pelo resultado, bem pelo contrário, mas o mais importante é a perpetuação da empresa. Afinal de contas, a Keko é uma empresa que nasceu do nada, sem investimento maciço, e que foi perpetuada nestes 40 anos através do reinvestimento da sua própria riqueza.
E&N – O que são os projetos da composteira e do aterro zero, que foram reconhecidos pelo Prêmio BRASA Meio Ambiente em 2022 e 2023, respectivamente?
Mantovani – O projeto da composteira foi viabilizado há três anos, quando fizemos a troca do restaurante que fica na sede da empresa. O objetivo era dar um destino para a sobra dos alimentos, o que era uma preocupação da equipe administradora do restaurante. Com essa iniciativa, nós conseguimos fazer um adubo que hoje pode ser utilizado nos nossos jardins da Keko ou doado para os funcionários que queiram adubar uma terra ou um vaso.
Já o projeto do aterro zero nasceu de um desafio que a Toyota nos propôs, que era algo que queríamos há um tempo. Como os aterros industriais têm limite de capacidade, as empresas acabam sempre criando novos, e a Keko sabia que isso não era algo legal, apesar de estar dentro da lei. Por isso, aceitamos esse desafio de não descartar mais esses resíduos em aterros. Para cada tipo de material, nós fizemos um estudo de reaproveitamento interno ou de destinação para outras empresas conseguirem aproveitar.
E&N – O que a Keko planeja para o futuro?
Mantovani – Em termos de faturamento, nós sempre colocamos dentro do planejamento uma meta de crescimento entre 8% e 15%, mas claro que tudo depende do comportamento do mercado.
No próximo ano, vamos dar continuidade ao projeto de KPS, através do qual estamos refazendo todo o nosso layout fabril e aplicando novas tecnologias, para que a gente consiga ser competitivo a nível mundial.
No que diz respeito à inovação, estamos trabalhando no desenvolvimento de uma capota trifold, um produto bastante competitivo e reciclável feito também com novos materiais. Este tipo de capota faz parte do segmento de fechamento de caçambas, que já abrange os modelos elétrico e retrátil de alumínio.
A Keko Acessórios também irá lançar, entre o final do primeiro semestre do ano que vem e o início do segundo, o estribo elétrico, uma peça eletrônica que funciona como uma escada, para facilitar o acesso principalmente aos veículos mais altos. Outro desafio para o próximo ano é trabalhar o descarte da madeira, porque queremos diminuir o uso deste material na produção de embalagens. Para isso, vamos trabalhar com os racks desmontáveis e retornáveis.
Na questão de exportação, estamos muito focados no mercado da Argentina, onde temos apresentado um crescimento bem significativo. A Keko já atende quase todas as montadoras argentinas.