A imposição de tarifas comerciais adicionais pelos Estados Unidos às exportações brasileiras, oficializada em decreto assinado pelo presidente Donald Trump na última quarta-feira (30), provocou fortes reações de diversos setores da economia nacional. Embora mais de 700 itens tenham sido incluídos em uma lista de exceções — entre eles suco de laranja, celulose e aviões —, segmentos relevantes ficaram de fora e agora alertam para quebras de empresas, paralisações de linhas de produção e demissões em massa.
O início da vigência do tarifaço foi adiado de 1º para 6 de agosto, o que abriu uma janela curta para renegociações. Representantes da indústria exportadora brasileira intensificaram a pressão sobre o governo federal para buscar saídas diplomáticas e compensações econômicas.
Setor calçadista estima perda de 8 mil empregos com tarifa de 50%
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) classificou como “inviável” a continuidade das exportações para o mercado norte-americano com a aplicação de uma tarifa adicional de 40%, somada à alíquota anterior de 10%. Os Estados Unidos são o principal destino internacional do setor, representando mais de 20% do valor exportado.
Somente no primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou 5,8 milhões de pares, totalizando US$ 111,8 milhões em vendas. Segundo a entidade, muitas fábricas operam com produção 100% voltada ao mercado externo, principalmente ao americano, e não conseguirão competir com países como a China, cujos produtos similares enfrentam apenas 30% de sobretaxa.
A Abicalçados estima que a medida possa resultar na eliminação de 8 mil empregos diretos.
Indústria de máquinas diz que redirecionar exportações é inviável
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) também criticou a exclusão do setor da lista de exceções. Em 2024, as exportações brasileiras de máquinas para os EUA somaram US$ 3,6 bilhões, mas, segundo o presidente da entidade, José Velloso, não há possibilidade de redirecionamento imediato para outros mercados.
O motivo é a complexidade técnica dos produtos, que seguem especificações exclusivas dos EUA, como medidas em polegadas e peso em libras. A adaptação ao sistema métrico utilizado por outros países exigiria tempo e investimento.
Mesmo com déficit comercial — o Brasil importou US$ 4,7 bilhões em máquinas dos EUA no mesmo período —, o setor será afetado pela sobretaxa de 50%.
Café ainda negocia inclusão em lista de isenções
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) afirmou que as negociações com os Estados Unidos seguem ativas, mesmo após a publicação do decreto. A entidade tenta incluir o café brasileiro na lista de exceções até o início da vigência das tarifas, em 6 de agosto.
Atualmente, cerca de 34% do café consumido nos EUA é de origem brasileira, em um mercado em que 99% do consumo depende de importações. A Abic ressalta que o tipo mais consumido nos Estados Unidos é o arábica, no qual o Brasil lidera a produção mundial.
Para a entidade, o produto tem peso estratégico para ambos os países e continua sendo objeto de articulação por parte de autoridades brasileiras e representantes do setor privado.
Exportadoras de carne preveem queda de US$ 1 bilhão nas vendas
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) prevê uma perda de US$ 1 bilhão em exportações de carne bovina para os EUA em 2025, caso a tarifa de 50% seja mantida. Os frigoríficos já interromperam a produção de cortes voltados exclusivamente ao mercado americano.
A expectativa era exportar cerca de 400 mil toneladas de carne bovina para os EUA neste ano, segundo maior mercado importador do setor, atrás apenas da China. “Nenhum outro mercado pode substituir os Estados Unidos em volume e preço de compra no curto prazo”, afirmou o presidente da Abiec, Roberto Perosa.
Pescados podem sofrer impacto social em regiões costeiras
A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) declarou que o impacto das tarifas será “severo e imediato”, com efeitos sociais significativos em localidades onde a pesca é a principal atividade econômica.
Cerca de 70% das exportações brasileiras de pescados têm os Estados Unidos como destino. “Não há alternativas viáveis de mercado”, afirma a entidade. Segundo a Abipesca, mais de 1 milhão de pescadores profissionais e milhares de famílias que vivem da pesca artesanal serão diretamente afetados.
Governo brasileiro critica motivação política e prepara reação
Em resposta oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as medidas tarifárias norte-americanas representam uma retaliação política e violam o princípio da soberania econômica brasileira.
“A motivação política das medidas contra o Brasil atenta contra a soberania nacional e a própria relação histórica entre os dois países”, diz trecho do comunicado.
O governo federal informou que já iniciou a elaboração de um plano de contingência para mitigar os efeitos econômicos das tarifas, com foco em apoio a trabalhadores, empresas e cadeias produtivas afetadas.
Também foi mencionada a possibilidade de acionar instrumentos legais como a Lei de Reciprocidade Comercial, que permite adoção de medidas equivalentes contra países que prejudiquem o comércio brasileiro.
Tarifas dos EUA elevam tensão comercial e pressionam setores estratégicos
A nova rodada de tarifas imposta pelos Estados Unidos compromete setores relevantes da economia brasileira e gera preocupação entre empresários e trabalhadores. A exclusão de segmentos como calçados, carnes, pescados, máquinas e café da lista de exceções pode provocar quebras de empresas, desemprego em massa e perda de competitividade internacional.
O governo brasileiro sinaliza que buscará negociar tecnicamente as exceções com autoridades americanas, mas também se prepara para uma resposta legal e diplomática mais ampla.
Com informações Diário do Comércio
Fonte Oficial: https://www.contabeis.com.br/noticias/72077/tarifaco-gera-reacao-de-setores-e-risco-de-demissoes-no-brasil/