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Escola da Lomba do Pinheiro é finalista do prêmio “Melhores Escolas do Mundo” com projetos do Coletivo Luisa Marques

Na periferia de Porto Alegre, onde tantas histórias são silenciadas antes mesmo de começarem, um grupo de meninas decidiu escrever a sua — com mãos pequenas e sonhos imensos.

O Coletivo Luísa Marques, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint-Hilaire, transforma dores compartilhadas em ação política. As meninas são autoras de uma revolução literária que já mobilizou centenas de crianças, atravessou fronteiras e se tornou referência em educação para a dignidade. Com projetos que abordam saúde menstrual, combate à violência sexual, saúde mental e meio ambiente, o grupo levou a escola a ser uma das dez finalistas do prêmio World’s Best School Prizes (“Melhores Escolas do Mundo”). Também venceu o prêmio Criativos Escola + Natureza, promovido pelo Instituto Alana, representando o bioma Pampa — conquista que levará o coletivo a apresentar seus trabalhos na COP 30, em Belém do Pará.

Criado em 2019, o coletivo nasceu como homenagem a Luísa Marques, estudante da escola que faleceu de câncer em 2018, aos 14 anos. Leitora voraz, contadora de histórias e muito ativa na comunidade escolar, Luísa é hoje personagem de um dos livros produzidos pelo grupo, Luísa Marques, uma menina sonhadora, e presença constante nas memórias afetivas que atravessam as ações do coletivo. “Ela amava ler. Fundamos o coletivo no aniversário dela, e sua mãe e avó participam de quase todas as atividades. É a nossa forma de manter seu legado vivo”, contam as meninas.

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A literatura é o ponto de partida — e de chegada — para os projetos do coletivo. O processo começa em rodas de conversa e nos grupos de WhatsApp, e se transforma em livros, materiais pedagógicos e contações de histórias com música e performance teatral. Tudo isso compõe o projeto Em Busca dos Jardins, nome que faz alusão ao livro Em Busca dos Jardins de Nossas Mães, da escritora norte-americana Alice Walker. Assim nasceram obras como Voar Juntas, que incentiva crianças a denunciarem abusos, e Garota de Vermelho, sobre menstruação infantil.

“Criamos a bonequinha Joana, que menstrua, para mostrar que crianças que menstruam continuam sendo crianças. As crianças adoram a Joana”, afirma a aluna Mariah Saldanha, de 13 anos.
Na Vila Panorama, localizada na zona rural da Lomba do Pinheiro, um dos territórios mais afetados pela pobreza e pela violência de gênero em Porto Alegre, o Coletivo Luísa Marques se faz presente e combativo — tendo a escuta como pilar central. Só em 2024, a iniciativa motivou mais de 300 crianças a denunciarem situações de violência. Com apoio da professora e do serviço de orientação da escola, os relatos são acolhidos com responsabilidade e encaminhados conforme os protocolos estabelecidos.

“Criamos um espaço seguro. Quando recebemos relatos, levamos para a nossa professora, que nos orienta e aciona o serviço de orientação da escola”, explicam.

Essas ações mostram que, quando a educação abraça a escuta, a escola deixa de ser apenas um prédio para se tornar abrigo e trincheira contra desigualdades e violências.

O coletivo não se limita à escola. Suas ações se expandem para mais de 30 instituições de ensino, com apoio da Guarda Municipal. O grupo realiza oficinas conforme os temas solicitados:

Garota de Vermelho (menstruação);

Chama Violeta (violência sexual);

Projeto Amarelo: Para Diminuir a Febre de Sentir (saúde mental);

Projeto Verde: Colocar o Coração no Ritmo da Terra (meio ambiente).

A professora Maria Gabriela conta, com brilho nos olhos, que a agenda do grupo para agosto já está cheia. Ela se emociona ao ver as alunas, tão idealizadoras e bem articuladas, apresentando as ações com garra e convicção. Uma das iniciativas do coletivo é o desenvolvimento de um kit de saúde menstrual solidário, com bolsa térmica e absorventes costurados por mulheres da comunidade.

“As meninas fazem um trabalho de empreendedorismo social. Criaram kits de saúde menstrual e adotaram o modelo ‘comprou, doou’. A cada venda, um kit é doado para alguém da comunidade. Também vendem doces, papelaria e buscam recursos por emendas parlamentares”, conta a professora.

Elas também estão arrecadando recursos para imprimir seus livros — que por enquanto existem em poucas cópias — e se organizam para participar da Feira do Livro deste ano.

Entre os novos projetos em produção estão o Voar juntas, que tem como tema o combate à violência sexual e o Histórias de Menstruação, desenvolvido a partir de entrevistas com mulheres da EJA (Educação de Jovens e Adultos) sobre suas primeiras experiências menstruais.

“Muitas nunca tinham falado sobre isso. Queremos honrá-las, valorizar seus corpos e escrever nossa própria história“, explica a aluna Manuella Barcellos, de 12 anos.

Na área ambiental, o coletivo atua em defesa do Parque Saint-Hilaire, vizinho à escola, com ações como denúncias de queimadas, produção de sementes de araçá e um reflorestamento coletivo previsto para agosto. A mobilização também deu origem à Feira Literária Ecológica, onde as estudantes lançaram uma caixa pedagógica intitulada Colocar o Coração no Ritmo da Terra, inspirada nas leituras do ambientalista e filósofo Ailton Krenak. A partir dessas experiências, surgiu ainda a criação de um novo livro em que o personagem principal será um Butiá — atualmente em produção e ainda sem título.

Elas relatam que nem sempre a comunidade compreendeu.

“No início, ouvimos que éramos muito novas para falar desses assuntos. Mas as principais vítimas da violência sexual são meninas de até 13 anos. Se não formos nós, quem vai falar por nós?“, questionam.

Hoje, o reconhecimento fala mais alto:

“O coletivo desenvolveu nossa leitura, nossa comunicação e nosso desempenho nas aulas. Mudou nossa vida“, afirma Alice Fernandes, de apenas 12 anos.

Ao reinventar o modo de estar na escola, o Coletivo Luísa Marques escreve, costura, planta e sonha junto. E mostra que meninas com livros nas mãos e coragem na fala são capazes de mudar o mundo — começando pelo pátio da escola.

 

Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/07/1211829-escola-da-lomba-do-pinheiro-e-finalista-do-premio-melhores-escolas-do-mundo-com-projetos-do-coletivo-luisa-marques.html

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