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Itapuã desponta como polo de ecoturismo em Viamão

Luiz Fernando Aquino, especial para o JC*

 

Com paisagens preservadas, ruínas históricas e vocação ecológica, Itapuã — distrito de Viamão que completou 150 anos — desponta como alternativa econômica viável e estratégica. A 40 quilômetros de Porto Alegre, o local reúne condições ideais para investimentos em ecoturismo, experiências culturais e acomodações exclusivas. O Parque Estadual de Itapuã, uma zona de transição entre a Mata Atlântica e o Pampa, abriga 5.566 hectares de florestas, lagoas, dunas, praias, morros graníticos, banhados e vegetação de restinga. O turismo, que responde por cerca de 8% do PIB nacional, é uma indústria limpa, com baixo impacto ambiental e alto potencial de geração de renda. Além disso, a preservação ambiental abre portas para o mercado de créditos de carbono, ampliando as oportunidades de negócios sustentáveis na região.

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Empresas & Negócios – ESPECIAL Itapuã – parque


/Sema-rs/Divulgação/JC

Enquanto destinos tradicionais do Sul do Brasil concentram fluxos turísticos em datas específicas do ano, o distrito de Itapuã – em Viamão, com 338,4 quilômetros quadrados e a menos de 40 quilômetros da área central de Porto Alegre – se destaca como uma alternativa estratégica para o desenvolvimento sustentável. Combinando patrimônio natural, riqueza histórica e participação ativa da comunidade, Itapuã, que completou 150 anos, desponta como um modelo de turismo de baixo impacto, capaz de gerar trabalho, renda e valorização cultural.

Com mais de 5.500 hectares de áreas preservadas e paisagens que incluem praias de areias brancas, banhados, morros e ruínas da Revolução Farroupilha, Itapuã tem potencial para se consolidar como um polo de turismo verde. “Estamos trabalhando para estruturar o turismo como vetor de desenvolvimento. Mesmo com pouca estrutura administrativa, temos conseguido construir um ambiente de diálogo com a comunidade e com o setor privado, o que tem sido essencial para promover ações de impacto”, explica Guguzinho Streit, secretário municipal de Turismo de Viamão.

Ao longo dos últimos anos, a Secretaria de Turismo de Viamão tem investido em eventos esportivos, valorização da gastronomia regional e iniciativas que estimulam a permanência do turista por mais tempo na região. Um exemplo é o esforço para reabrir o emblemático Farol de Itapuã, patrimônio histórico e um dos cartões postais mais antigos do litoral Sul do País. “A histórica Vila de Itapuã é uma joia rara para experiências autênticas e imersivas – um diferencial cada vez mais valorizado por turistas brasileiros e estrangeiros”, afirma o secretário.

Itapuã oferece condições ideais para atividades como birdwatching (observação de pássaros), cicloturismo, turismo de base comunitária e até observação astronômica, graças à baixa poluição luminosa. Segundo o Ministério do Turismo, o setor turístico responde por cerca de 8% do PIB nacional e é responsável por 7 milhões de empregos diretos e indiretos no Brasil. Em municípios com vocação ecológica e cultural, como Viamão, o impacto positivo tende a ser ainda mais expressivo, já que o turismo é uma indústria limpa, que exige menos investimentos em grandes estruturas e mais apoio em serviços, qualificação e políticas públicas locais.

 



Além das trilhas em meio à natureza, é possível acessar o Parador da Lagoa, um refúgio com estrutura para camping e cabanas e para a prática de kitesurf e vela


Brayan Martins/Secretaria de Turismo de Viamão/JC

Para Streit, o cenário é especialmente atrativo para investidores que buscam retorno alinhado com práticas sustentáveis. “Há infraestrutura básica em expansão, áreas rurais disponíveis e uma população que vê no turismo uma oportunidade real de transformação. Itapuã é terreno fértil para pousadas diferenciadas, bistrôs regionais, centros de interpretação da natureza e experiências únicas.”

Além do potencial turístico, o território também tem grande capacidade de inserção no mercado de créditos de carbono – instrumento econômico que remunera projetos que ajudam a evitar ou capturar emissões de gases de efeito estufa. Na prática, iniciativas que preservam florestas, mantêm áreas de vegetação nativa ou reduzem a pegada de carbono, como o ecoturismo, podem gerar créditos comercializáveis em mercados nacionais e internacionais. Em 2024, o mercado global de créditos de carbono movimentou aproximadamente US$ 1,1 bilhão, de acordo com a Finsiders Brasil, e a expectativa é de crescimento acelerado com a agenda de transição energética e metas de neutralidade de carbono.

Ao preservar áreas naturais e estimular cadeias produtivas de baixo impacto, Viamão pode não apenas se beneficiar do turismo como atividade econômica, mas também captar investimentos por meio de parcerias com empresas interessadas em compensar emissões. Para efeito de comparação, enquanto uma fazenda de gado pode emitir até 7 toneladas de CO₂ por hectare por ano, uma área preservada ou um empreendimento de ecoturismo pode capturar ou evitar emissões de até 10 toneladas no mesmo espaço.

A atuação da Secretaria de Turismo tem sido pautada por uma visão de longo prazo, mesmo diante das limitações orçamentárias e estruturais da administração municipal. Segundo o secretário, a construção de uma cultura de valorização do turismo exige persistência, escuta ativa e mobilização coletiva. “Não é uma tarefa simples, mas temos obtido resultados animadores justamente porque estamos construindo juntos, com a comunidade e os empreendedores locais. Turismo não se impõe: se constrói”, afirma.

Com sua diversidade de ecossistemas, conexão histórica com o Estado e protagonismo das comunidades locais, Itapuã representa mais do que um destino turístico – é um modelo possível para o futuro. “Em tempos de busca por inovação com responsabilidade, é preciso olhar com mais atenção para territórios como Itapuã, onde o caminho é claro: o turismo é o futuro”, afirma Streit,

 

Cenário atrativo para investidores

  • Ambiente de diálogo com a comunidade e o setor público

  • Infraestrutura básica em expansão

  • Áreas rurais disponíveis (338,4 metros quadrados)

  • Comunidade vê no turismo uma oportunidade real de transformação

  • Itapuã é terreno fértil para pousadas de charme, bistrôs regionais, campings bem-estruturados, centros de observação de aves e até projetos voltados ao turismo astronômico, graças à baixa poluição luminosa da região

  • Estímulo a cadeias produtivas de baixo impacto

  • Parceria com empresas interessadas em compensar emissões de carbono

  • A Vila de Itapuã está a 40 quilômetros do Centro de Porto Alegre

Morador histórico defende impulso às atividades turísticas

David Reinaldo Terres Lemos


/David Reinaldo Terres Lemos/Arquivo Pessoal/JC

Com 68 anos – e 64 deles vividos na Vila de Itapuã -, David Reinaldo Terres Lemos conhece a realidade local como poucos. Vice-presidente da Associação Comunitária dos Moradores da Vila de Itapuã (Ascomovita), ele resume a situação com amargura: “Itapuã está crescendo para baixo. Está muito difícil viver aqui”. Ele lembra com saudade dos tempos em que o distrito era economicamente ativo, com pedreiras, agricultura familiar, indústria avícola e o Hospital Colônia movimentando a economia. Tudo isso desapareceu. “Há dez anos, tínhamos quatro supermercados fortes. Hoje, só resta um”, lamenta.

A maioria dos cerca de 14 mil moradores depende de empregos em Porto Alegre. “Quando veem que a pessoa é de Itapuã, desistem por causa do custo da passagem”, diz. Segundo ele, muitas mulheres da vila trabalham como diaristas na Capital, após longas viagens em ônibus lotados.

Apesar dos problemas, Lemos vê com esperança o avanço do saneamento básico – obra ainda em andamento, mas que promete impacto ambiental positivo – e acredita que o turismo pode ser o caminho para o futuro. “O turismo é uma indústria limpa. Já pensei em várias alternativas, mas nenhuma era compatível com o meio ambiente como o turismo”, afirma.

Para ele, o problema é a falta de infraestrutura e preparo para receber os visitantes. “O turista chega aqui e encontra uma vila feia, sem atendimento. Ele não volta.” E critica as restrições impostas pelo Parque Estadual de Itapuã: “O ser humano foi tratado como predador, como alguém que precisa ser afastado da natureza.”

David defende um turismo sustentável, que envolva os moradores e gere renda. “O parque foi criado com esse objetivo. Poderíamos ter lancherias, mercadinhos. Mas não deixam nem vender pastel”, lamenta.

Mosaico ecológico é cercado por luta ambiental

Belezas naturais são um dos principais atrativos


/Sema-RS/Divulgação/JC

Nenhuma outra unidade de conservação do Rio Grande do Sul reúne tanta diversidade de paisagens e ecossistemas quanto o Parque Estadual de Itapuã, que completou 52 anos no último dia 14 de julho. Situado em Viamão, na zona de transição entre a Mata Atlântica e o Pampa, o parque abriga 5.566 hectares de florestas, lagoas, dunas, praias, morros graníticos, banhados e vegetação de restinga. Um mosaico ecológico único, cercado por um histórico de luta ambiental e transformação.

Criado oficialmente em 1973, o parque nasceu da mobilização da sociedade civil contra a intensa extração de granito que ameaçava a região. Ambientalistas como José Lutzenberger e Hilda Zimmermann protagonizaram campanhas públicas que deram origem à Agapan e impediram a devastação completa da área. Em 1991, Itapuã passou a ser, de fato, uma unidade de conservação de proteção integral.

O parque também guarda vestígios históricos da Revolução Farroupilha, como trincheiras, ruínas de fortes e objetos militares. A paisagem que hoje encanta visitantes já foi campo de batalhas. O Farol de Itapuã, erguido em 1860, ainda opera com alcance de mais de 22 km e é acessível apenas por água, sendo um dos marcos da região.

 

Apesar da beleza cênica e da importância ambiental, a gestão do parque enfrenta desafios diários. O acesso público exige constante vigilância para conter impactos como pesca ilegal, caça, lixo, uso de pesticidas e vandalismo. Ao longo das décadas, o parque passou por desocupações, reformas e restrições para equilibrar conservação e visitação. Hoje, Itapuã é símbolo de resistência ecológica e herança natural, abrigando espécies ameaçadas e práticas sustentáveis — um patrimônio que conecta história, natureza e a urgência de proteger o futuro.

 

Integração com o Parque Estadual é estratégica

Integração com o Parque Estadual é fundamental, avalia empreendedor do setor náutico


/Newton Barreto/Arquivo Pessoal/JC

A vocação e o potencial turístico de Itapuã ainda esbarram na falta de estrutura e na rigidez das regras do Parque Estadual de Itapuã. A avaliação é de Newton Barreto, 45 anos, morador da região desde a infância e ex-operador de passeios náuticos. Hoje, Newton trabalha como piloto de avião, em táxi-aéreo, e os barcos foram repassados para Jandir Kuch, que mantém o serviço da Náutica Barreto.



Integração com o Parque Estadual é fundamental, avalia empreendedor do setor náutico


Newton Barreto/Arquivo Pessoal/JC

Com o falecimento do pai, Barreto passou um período fora do Estado, trabalhando como piloto profissional no Rio de Janeiro e em São Paulo. No retorno a Viamão, por volta de 2015, decidiu resgatar a tradição familiar. “Comprei lanchas e comecei a oferecer passeios curtos, com paradas para banho e piquenique. Levei muita gente para conhecer o farol e a lagoa.”

Sem homologação específica para turismo náutico, Barreto atuava no modelo de charter – aluguel de embarcação com piloto -, que permite atender famílias e pequenos grupos. Também investiu em aulas de vela durante os verões, utilizando pequenos veleiros do tipo laser. “Tinha uns três ou quatro barquinhos. Dava aula para crianças, alugava para adultos. Era uma forma de aproximar as pessoas da lagoa.”

Barreto entende que a integração da cadeia turística poderia ser um caminho para o fortalecimento do setor em Itapuã, além da melhoria nas estruturas físicas: “Hoje, se tu chegas com uma lancha e queres parar numa praia do parque, não pode. Nada pode. O apelido por aqui é o ‘Parque do Não Pode'”, critica Barreto. “Não pode parar para banho, não pode acampar, não pode levar bola. Então, como é que tu vais fomentar o turismo assim?”

Segundo ele, há potencial para transformar a região em um polo turístico sustentável, desde que se crie uma cultura empreendedora local e se estabeleça uma articulação entre os agentes públicos e privados. “Já tentamos montar pacotes com passeio, almoço e trilhas, mas não adianta. O pessoal me ligava querendo sair do parque e embarcar no farol, mas eu não podia nem chegar perto com a lancha”. Para ele, uma eventual concessão do parque poderia ser uma saída.

 

‘O parque é a joia da coroa, mas precisa de atualização’

Secretário defende modernização e aposta em experiências sustentáveis


/Bryan Martins/Secretário de Turismo de Viamão/Divulgação/JC

O Parque Estadual de Itapuã, em Viamão, é um dos destinos mais promissores do turismo ecológico no Rio Grande do Sul. Mas a falta de estrutura, as restrições do plano de manejo e a baixa adesão da comunidade local dificultam sua valorização como ativo econômico sustentável. Nesta entrevista, o secretário de Turismo de Viamão, Guguzinho Streit, fala sobre os desafios, os potenciais e uma maior integração entre poder público, empreendedores e moradores para tornar Itapuã uma referência em ecoturismo e turismo cultural. “Falta uma gestão mais moderna no parque, com acesso digital e flexibilidade nas regras”, aponta o secretário.

Empresas & Negócios – Qual é a relação da Secretaria de Turismo com o Parque Estadual de Itapuã?

Guguzinho Streit – O parque é do Estado, não da Prefeitura. A gente tem uma relação de parceria, troca informações com a gestão local, mas não gerencia o espaço. Nossa proposta é colaborar com ideias como turismo de observação de aves, astronomia, trilhas e até cinema ao ar livre.



Proposta é colaborar com ideias como turismo de observação de aves, astronomia, trilhas e até cinema ao ar livre


Brayan Martins/Secretaria de Turismo de Viamão/JC

E&N – O que impede a implantação dessas ações?

Streit – O plano de manejo é muito rígido. Proíbe coisas básicas, como levar uma boia ou tirar fotos profissionais. Isso trava o turismo. Precisamos de uma atualização, um refresh nesse modelo.

E&N – Há problemas no acesso ao parque?

Streit – Sim, principalmente na forma de pagamento. Só aceitam dinheiro vivo. Nem PIX, nem cartão. Em 2025, isso é inconcebível. Muita gente deixa de visitar por causa disso.

E&N – Existe a possibilidade de concessão do Parque Estadual?

Streit – A Prefeitura não participa diretamente dessas tratativas. Mas é fundamental que o município tenha voz ativa, esteja no conselho gestor e participe das decisões. A exploração pode ser sustentável e comercial ao mesmo tempo.

E&N – Como está a estrutura do parque hoje?

Streit – Bastante deteriorada. Banheiros, restaurante, prédio histórico… É uma pena, porque o parque atrai turistas, principalmente no verão, e tem um enorme potencial. “O turismo precisa de experiências, de storytelling (narrativas). Só natureza não basta.”

E&N – A Secretaria tem ações fora do parque, em Itapuã?

Streit – Sim. A Festa de Navegantes, por exemplo, foi feita com apoio nosso. A temporada de verão teve atividades do Sesc, fiscalização, banheiros químicos e salva-vidas. Também recuperamos a análise de balneabilidade da praia da vila, que estava esquecida.

E&N – O turismo rural tem potencial?

Streit – Tem. O lavandário Jardim Lívia é um exemplo. Está em fase de maturação. Mas precisamos de mais empreendedores. Abrimos oportunidades, e as pessoas não aproveitam. Falta adesão.

E&N – Há projetos em comum com Porto Alegre?

Streit – Sim. Converso com a Secretaria de Turismo da Capital para criarmos uma rota de cicloturismo conjunta. Muitos ciclistas vêm de Porto Alegre até Itapuã. Vamos integrar os esforços.

E&N – E o catamarã?

Streit – Queremos viabilizar uma parada em Itapuã. Seria uma conexão histórica com Porto Alegre e um ganho logístico para o turismo. “Não adianta pedir turismo o ano inteiro se o restaurante só abre no fim de semana.”

E&N – Quais os entraves para o turismo crescer?

Streit – A falta de estrutura básica. Restaurante que não abre durante a semana, falta de serviços. O turista quer vivência, quer experiências. O poder público incentiva, mas precisa da iniciativa privada também.

E&N – E o antigo Hospital Colônia?

Streit – É um patrimônio. Triste, mas que deve ser contado. Pode virar um museu de memória, como acontece em outros países. Já temos uma igreja luterana tombada, e pretendemos criar um roteiro com apelo turístico e histórico ali.

E&N – O senhor falou do Farol de Itapuã. Há projeto de reabertura?

Streit – Sim. Já começamos o diálogo com a Marinha e a Capitania dos Portos. Seria uma emoção permitir a visitação. A maioria dos viamonenses nunca viu o Farol de perto. Queremos reabrir a antiga trilha terrestre até ele.

E&N – O que representa Itapuã para Viamão?

Streit – É o nosso cartão-postal. Um símbolo. Um lugar de beleza natural, história e cultura. Mas precisa ser olhado com mais carinho, investimento e gestão moderna. A natureza está pronta. Falta o resto acompanhar.

 

‘Aquilo era um paraíso’: memórias dos bons tempos nas prainhas da lagoa

No auge das ocupações na Praia de Fora, o local chegou a ter 800 casas


/Jeferson dos Santos Telles/Arquivo Pessoal/JC

Antes das regras rígidas de preservação ambiental, o Parque Estadual de Itapuã, em Viamão (RS), foi cenário de uma liberdade vivida por jovens e famílias que encontravam ali um refúgio exuberante e acolhedor. Nas décadas de 1980 e início dos anos 1990, o parque era sinônimo de verão para muitos moradores da Região Metropolitana de Porto Alegre, em especial os da Zona Sul de Porto Alegre. Um desses frequentadores era Jeferson dos Santos Telles, 53 anos, chefe de mecânica e morador da Vila Nova, em parceria com o saudoso amigo Márcio Morel.

Com saudade e um sorriso no rosto, revive o espírito da época. “Lembro que o kit sobrevivência era pilha, vela, cachaça, arroz, massa e enlatado de salsicha. Água a gente pegava numa casa, acho que em frente onde a gente ficava”. O ônibus, que saía do Centro de Porto Alegre, já partia lotado e ganhava mais passageiros ao longo da Zona Sul. Jefferson e a turma embarcavam, ainda com algum conforto, na frente da antiga Avipal, na Vila Nova. “Dali pra frente, era gente em pé, mochila nos pés, violão no colo e todo mundo perguntando onde tinha lugar bom pra acampar”, recorda Jeferson.

 



Jeferson dos Santos Telles relembra de décadas atrás com saudosismo


Jeferson dos Santos Telles/Arquivo Pessoal/JC

Uma caminhada de uns sete quilômetros morro acima, em uma estrada arenosa. Fuscas, Chevettes, Brasílias e Corcéis formavam um comboio rumo à liberdade. No auge, a Praia de Fora chegou a reunir cerca de 800 moradias — de construções em alvenaria a barracos de lona e madeira. Era um acampamento espontâneo, autogerido, movido a geradores a diesel e banheiros improvisados. Poços artesianos garantiam água nas casas mais estruturadas.

Após dias de sol e banho de lagoa, o retorno a Porto Alegre era quase tão épico quanto a chegada. Em frente à gruta da santinha, formava-se uma espécie de “rodoviária” improvisada para caronas. “A gente esperava por horas. Quando parava um caminhão e dizia que ia até o Lami, era uma bênção. Se fosse até Belém Novo, então, era luxo”, brinca.

A virada começou com a intensificação da degradação ambiental causada por pedreiras e ocupações irregulares. Criado em 1973, após uma luta de ambientalistas, liderada por José Lutzenberger, o parque foi fechado em 1991 e seria reaberto à visitação em 2002.

Parque celebra 52 anos promovendo educação ambiental e integração com a comunidade

Praia da Pedreira – Itapuã Viamão
No último dia 20, o evento “Um dia no parque”, com ingresso solidário, teve mutirões de limpeza e visitação às praias


/SemaRS/Divulgação/JC

Criado oficialmente em 14 de julho de 1973, com a publicação do Decreto Estadual nº 22.535, o Parque Estadual de Itapuã completou 52 anos reafirmando seu compromisso com a conservação da biodiversidade e a promoção da educação ambiental. A data foi celebrada no dia 20 de julho com atividades voltadas à comunidade, como o evento nacional “Um Dia no Parque”, reforçando o papel da unidade como espaço de formação e sensibilização socioambiental.

“Recebemos cerca de 1.600 visitantes por ano em atividades educativas, entre escolas, instituições e grupos comunitários”, informa Thais Battistella, bióloga e gestora da unidade, vinculada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema). Ela destaca que as escolas da região, especialmente de Viamão, são presença constante. “Temos uma relação próxima com a Secretaria Municipal da Educação, o que garante a participação frequente de crianças da rede pública em projetos de educação ambiental”.



Thais Battistella é bióloga e gestora do Parque Itapuã, em Viamão


Thais Battistella/Arquivo Pessoal/JC

O parque mantém três praias habilitadas para visitação — Das Pombas, De Fora e Pedreira —, mas atualmente apenas a Praia das Pombas está aberta ao público. As demais enfrentam limitações estruturais. “A Praia de Fora, por exemplo, não tem energia elétrica. O poço de abastecimento de água colapsou em 2021 e, embora tenha sido reaberto, ainda não está em operação. Usamos a área em datas pontuais, como para o Festival de Pipas e o Ecovela”, explica Thais.

Já a Praia da Pedreira está temporariamente interditada, mas recebe ações de recuperação ambiental. “Estamos executando o controle de pínus, uma espécie exótica invasora, com apoio de uma universidade parceira. O pínus compromete a vegetação nativa e precisa ser manejado com frequência”, afirma a gestora. O parque conta com um Conselho Consultivo, atualmente em processo de renovação.

Apesar dos desafios logísticos, o parque segue ativo em várias frentes. Conta com oito servidores do quadro efetivo, entre guarda-parques, analistas e pessoal administrativo, além de cerca de 60 terceirizados em funções de manutenção, limpeza, jardinagem e vigilância. “A maioria dos trabalhadores terceirizados é da própria região, o que reforça o vínculo com a comunidade local“, salienta.

A relação com os moradores vai além da contratação de mão de obra. Comunidades indígenas e a antiga colônia de pescadores participam de eventos e ações de ressignificação histórica. “Buscamos manter um diálogo constante, tanto com as escolas quanto com pescadores e moradores tradicionais”, diz Thais. Também há aproximação com o setor turístico e com a Secretaria Municipal de Turismo de Viamão: “Já realizamos visitas e parcerias. O objetivo é avançar em uma gestão compartilhada.”

Durante o período da piracema, a fiscalização se intensifica com apoio da Brigada Militar Ambiental, devido à prática ilegal da pesca predatória. “Nesse período, aumentam as denúncias de uso de redes e captura de espécies ameaçadas, como o bagre”, relata.

Com um vasto território que abriga praias, lagoas, morros e ecossistemas únicos, o Parque Estadual de Itapuã reafirma seu papel como espaço de preservação, mas também de integração com a comunidade. “Educar é conservar”, resume Thais. “E é isso que buscamos fazer todos os dias.”

Serviço:

– Praia das Pombas (Pedreira e Praia de Fora só recebem visitas pontuais);

– Funcionamento: de quarta a quinta, das 9h às 20h;

– Ingressos: R$ 23,70 (por pessoa) e R$ 11,85 (meia-entrada);

– Pagamentos somente no local e exclusivamente em dinheiro físico;

– Horário de venda: 9h às 12h e das 13h às 17h;

– Praia das Pombas (estrutura): 46 churrasqueiras, banheiros/vestiários com chuveiros, mesas e bancos de concreto, torneiras e lixeiras, além de estacionamento.

 

Jardim Lívia: turismo de charme e natureza exuberante a menos de uma hora de Porto Alegre

Empreendimento tem como diferencial a combinação de conforto, sofisticação e integração com o meio ambiente


/Jardim Lívia/Divulgação/JC

Em meio a uma paisagem deslumbrante, entre a Lagoa dos Patos e o Rio Guaíba, o Jardim Lívia desponta como um destino de charme e descanso no distrito de Itapuã, em Viamão, a menos de uma hora de Porto Alegre. Com acesso totalmente asfaltado pela ERS-118, o espaço está localizado no Beco Campo das Pombas, 320, em uma área privilegiada junto ao Parque Estadual de Itapuã, unidade de conservação aberta à visitação.

Idealizado pelo casal Magda e Miguel Castro, o Jardim Lívia é um exemplo de empreendedorismo voltado ao turismo sustentável, combinando conforto, sofisticação e integração com o meio ambiente. “Viamão tem um enorme potencial turístico e precisa de iniciativas que aliem bom gosto, acolhimento e valorização da natureza. É isso que buscamos construir aqui”, afirma Magda.

Com proposta rústica e refinada, o empreendimento oferece aos hóspedes uma casa com piscina, quartos climatizados, trilhas exclusivas até os braços de água da Lagoa dos Patos e do Rio Guaíba, além de espaços gourmet completos com forno de pizza, parrilla, fogão campeiro e até uma espiral de temperos orgânicos, cultivados sem agrotóxicos.

O salão gourmet é um dos pontos altos da experiência no Jardim Lívia, ideal para confraternizações e refeições em grupo. Ao lado da quadra de beach tennis, um quiosque com churrasqueira oferece a estrutura perfeita para aproveitar os finais de semana com amigos e família.

Além da infraestrutura, o Jardim Lívia valoriza a convivência com a fauna e flora nativas. Os lagos ornamentais têm tratamento biológico, abastecidos exclusivamente com água da chuva. Grupos de bugios circulam livremente na propriedade, proporcionando uma vivência única da vida selvagem. “O ronco do bugio-ruivo surpreende muitos dos nossos visitantes, mas logo se torna parte do encanto do lugar”, relata Magda.

O espaço também é pet friendly e conta com um galinheiro com patos e galinhas, horta, trilhas para caminhadas e mirantes naturais para contemplação do pôr do sol. Outro atrativo é o Jardim Rupestre, repleto de suculentas, bromélias e cactos. Já o lavandário, que está sendo reestruturado após perdas causadas pelo clima extremo, promete voltar a florescer em breve.

O Jardim Lívia também avança na criação de um novo espaço para eventos, como casamentos e celebrações ao ar livre, agregando dinamismo ao negócio e ampliando o potencial de atratividade do local. “Queremos que as pessoas venham, se encantem e queiram voltar. Nosso maior objetivo é mostrar que Viamão pode ser referência em turismo de qualidade e sustentável”, destaca a proprietária.

Em um cenário que convida ao descanso, à convivência e à contemplação da natureza, o Jardim Lívia se firma como um refúgio sofisticado e acessível, perfeito para quem busca experiências autênticas, a poucos quilômetros da capital gaúcha.

 

Parador da Lagoa: o ‘Nordeste do Sul’ em meio à natureza

Areias brancas, coqueiros e esculturas rústicas ao redor da orla são visitados por turistas durante o ano todo


/Bryan Martins/secretaria de turismo de viamão/JC



Novas cabanas integram a estratégia de apostar no turismo de experiência


Brayan Martins/Secretaria de Turismo de Viamão/JC

Com areias brancas, coqueiros, bancos temáticos e esculturas rústicas espalhadas pela orla, o Parador da Lagoa, em Itapuã, remete a cenários paradisíacos como os Lençóis Maranhenses ou as dunas de Genipabu, no Rio Grande do Norte. Às margens da Lagoa dos Patos, a praia de águas calmas e rasas ganhou estrutura e identidade sob a liderança do empreendedor Richard Baur, herdeiro da família que comandava o tradicional Restaurante da Vó, referência na região.

“É o Nordeste do Sul”, resume Baur, que transformou o antigo Camping da Varzinha no atual Parador da Lagoa, com novas cabanas, decoração temática e um conceito voltado à contemplação e ao turismo de experiência. O espaço conta hoje com 12 cabanas – sendo 10 disponíveis para hospedagem – e área de camping com estrutura para cerca de 150 pessoas.

 

A menos de 50 minutos de Porto Alegre, com acesso pela ERS-118 e mais 13 km de estrada municipal (de chão, mas em boas condições), o local atrai visitantes de Viamão, Região Metropolitana e Serra Gaúcha. “Mesmo com estrada de chão, o movimento é grande na alta temporada. As pessoas se encantam com a beleza da lagoa, que é um verdadeiro refúgio”, afirma.

Apesar das dificuldades estruturais e da pouca integração com o Parque Estadual de Itapuã, Baur aposta no crescimento sustentável do turismo. “O parque tem regras antigas, não permite bicicleta, só carro. Precisamos de diálogo e modernização. Se houver mais integração e promoção regional, todo mundo ganha”, defende.



Baur é herdeiro da família que comandava o tradicional Restaurante da Vó, referência na região


EVANDRO OLIVEIRA/JC

O Parador funciona o ano todo, com minimercado, área de camping, cabanas com lareira e, a partir de outubro, reabre o quiosque de petiscos. Até lá, Baur prepara novidades na beira da lagoa, reforçando o que já é um dos cenários mais surpreendentes do litoral de água doce no Sul do Brasil.

 

 

* Luiz Fernando Aquino é bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade do Rio dos Sinos (Unisinos), com 34 anos de experiência. Passagem pelos principais veículos do RS e SC, nas funções de repórter, coordenação e edição. Alta performance em redação, edição de textos e coordenação de equipes de Comunicação. É autor do livro “O campeão da vida – perdoar para viver”.


Fonte Oficial: https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2025/07/1210693-itapua-desponta-como-polo-de-ecoturismo-em-viamao.html

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