Impossível, como educador, não fazer uma análise da polêmica série “Adolescência”, disponível no Netflix. Ela retrata, com maestria, diversos problemas vividos pela geração Alpha (nascidos a partir de 2010), muito deles atrelados ao cotidiano virtual das redes sociais As gerações Z e Alpha são nativas digitais, pois nasceram na era da internet, e vivem com absoluta naturalidade nessa intersecção entre o mundo físico e digital, a chamada realidade phygital.
Se por um lado, a vida das redes sociais trouxe uma série de facilidades, já que o compartilhamento de dados é permanente, conectando pessoas do mundo inteiro e permitindo voz ativa para todo e qualquer indivíduo, por outro, pode ser terreno fértil para interações perigosas, carregadas de ódio, preconceito, agressividade etc. Isso se torna algo gravíssimo quando imaginamos que esse ambiente virtual está sendo ocupado por crianças e jovens adolescentes, ainda despreparados para experimentar tamanha liberdade.
Na série, o personagem principal é um adolescente que, diante de bullying sofrido nas redes sociais, adotou um comportamento extremamente agressivo na vida real, cometendo um crime que o levou à prisão. A história tem tudo a ver com os estudos do festejado Professor Jonathan Haidt, autor do best seller “A Geração Ansiosa”, que conclui as seguintes características das gerações em tela: elas são superprotegidas na vida real, e completamente desprotegidas na vida virtual. O papel dos pais nesse contexto é crucial e o autor revela a responsabilidade da família e da escola no trato desses problemas.
Hoje, com o avanço extraordinário das tecnologias, com destaque para a Inteligência Artificial, o papel dos professores não deve estar focado apenas na transmissão de competências técnicas (hard skills), pois isso as atuais ferramentas tecnológicas conseguem atender com enorme facilidade, mas sim na transmissão das humanidades, especialmente no resgate das virtudes humanas, como empatia, fortaleza, resiliência, gentileza, paciência etc.
O enfrentamento da epidemia de ansiedade vivida pelas gerações mais recentes começa em casa, não resta dúvida, mas também deve ser travada nas escolas. Nunca foi tão importante o desenvolvimento das habilidades socioemocionais! No entanto, essa abordagem é mais complexa do que o processo de ensino-aprendizagem que envolve o tecnicismo do currículo escolar brasileiro, pautado na decoreba, que exige do jovem ser um perfeito, reflexo da enciclopédia. O professor do século XXI definitivamente não será útil à sociedade se insistir nesse modelo ultrapassado, de antanho.
Torço para que a educação brasileira compreenda a sociedade de hoje, com suas questões comportamentais próprias diante da revolução digital, e se torne verdadeiramente indispensável na vida dos alunos. Muitos estão pedindo socorro, às vezes silenciosamente (como é o caso retratado na séria “Adolescência”), e a sala de aula deve ser um ambiente referencial, de elevação humana no sentido mais amplo, o que, conforme mencionado acima, requer o resgate da reflexão acerca das virtudes humanas.
WILSON VICTORIO RODRIGUES
Graduado em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, diretor Geral da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo,
conselheiro do Conselho Estadual de Educação de SP, membro
do Conselho Superior de Direito da Fecomércio-SP, diretor do
Instituto Paulista de Ensino Superior do Comércio S.A., coordenador do Fórum de Jovens Empreendedores da ACSP, Conselheiro da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje) representando o Estado de São Paulo.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-wilson-victorio-rodrigues-o-que-se-espera-do-sistema-educacional-diante-das-geracoes-atuais/